5/03/2007

Um textinho de Cecília Meireles-e um pouco de tv aberta

Marco Celso Huffell Viola- Porto Alegre

Pedro Bial em um dos últimos episódios da série BBB7, para criar um clima na despedida de mais um participante, resolveu ler um “textinho de Cecília Meirelles”, os participantes que não tinham a mínima idéia de quem é/ou foi Cecília, ficaram sem entender a razão da leitura do “textinho”, o respeitável público também não entendeu, porque também não conhece uma da maiores poetisas da língua portuguesa e sem exagero da poesia ocidental.
Bial que foi um dos jornalistas importantes desse país, parece que resolveu jogar o seu currículo de grandes reportagens e entrevistas como as realizadas com Darcy Ribeiro, João Cabral de Mello Neto, entre outras, no lixo da comunicação imbecil e rasteira. E tem surtos como esse, onde tenta aparentar algum aspecto de intelectual e acaba atirando na banalidade o nome de Cecília Meireles em um programa realizado para 50 milhões de semi analfabetos ou analfabetos culturais, com participantes semi-analfabetos apresentado por um jornalista que esqueceu ou nunca teve a noção entre o importante e o fácil.
É fácil enganar um povo como o nosso, carente de tudo.
Basta brincar com a esperança daqueles que nada tem, constranger mulheres de poucos recursos a mostrar seu corpo e o diabo dá risada feliz a cada domingo que os índices de audiência empatam entre as mais importantes emissoras do país.
E, essas emissoras, sem nenhum compromisso com nada a não ser com o seu faturamento, exploram a credulidade, empurram pseudomúsica, pseudocantores, pseudo-atores guela abaixo dessa multidão de miseráveis.
E vamos rir do sujeito que caiu no chão, que caiu do telhado, que caiu, que caiu de algum lugar, que levou uma pancada, tudo narrado por um apresentador mal educado e grosseiro.
Aliás, a grosseria é marca registrada de alguns programas, onde a grosseria intitucionalizada tenta aparentar independência dos valores mínimos de convivência social e respeito físico pela integridade do próximo quando na realidade demonstra é falta de inteligência em fazer algo melhor.
E o resto da programação segue num ritmo de gincana, de todo o tipo, cada uma mais infantil que outra.
Quando não aparece um padre cantor, numa emissora católica, travestido de padre, usando um sobrepeliz vermelho que canta rebolando em cima do altar em meio a uma missa, cantando canções que ofendem a mínima noção do que seja música e letra. E outro, na mesma emissora católica, oferece à venda uma jóia em forma de cruz com terra recolhida em Israel.O clip da busca dessa tal “terra santa” pelo padre nada fica a dever aos clipes mais bregas da MTV, é de arrepiar, chega a ser pornográfico, o padre caminhando descalço, olhando para o infinito, entre as águas do Rio Jordão.Repulsivo.
Enquanto isso a igreja diz que faz esse ano a campanha da fraternidade sobre a Amazônia e essa emissora de tv não realiza um documentário, uma notícia, uma pesquisa sobre a Amazônia e, depois da missa, volta o padre cantor a repetir ladainhas para uma imagem de um santo pregada na parede.E repete suas frases com tanta veêmencia, que só sendo santo pra aguentar um chato daquele tamanho.
Mas, enquanto a tv católica não fala nada sobre a Amazônia, a outra, para enfeitar a sua grade de programação, gasta alguns milhões para produzir uma série sobre da Amazônia com veleidades sociais, utilizando uma mistura de textos que a autora não credita a ninguém a não ser a sua genialidade. Mas isso é para ser exibido às 23 horas, quase proibido para os menores em inteligência e percepção que podem interpretar mal aquelas questões de conflitos agrários que terminam por glamourizar e mitificar a luta de Chico Mendes e tantos que morreram naqueles conflitos que continuam ocorrendo, tornandos palatáveis e de fácil assimilação, tirando desses conflitos agrários o que tem de importante em troca de uma maquiagem mal feita, mas de aparente bom gosto.
Em nome da audiência criada e forjada pela estrutura dessas programações, há personagens como Jô Soares cujo programa copia os modelos de talk show norte-americanos, e que tem por objetivo de fazer rir permanentemente uma platéia escolhida de estudantes, que autentica a mediocridade das entrevistas. Quando eles riem, a entrevista vai bem, quando eles ficam quietos é hora de chamar as vinhetas e trocar o entrevistado.
Em recente entrevista realizada com o poeta Affonso Romano Santana que divulgava dois livros seus de poesia, na ânsia de agradar o auditório, ele pergunta se o Affonso não conhecia nenhuma quadrinha de banheiro.
Pior que essa, só a tv italiana ou da Libéria, se a Libéria tiver tv aberta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Atahualpa Yupangui, compositor argentino da maior importancia histórica e era um homem do campo(embora estraisse das coisas simples da vida lições de profundidade abissais e merecedor de estudos e ensaios poéticos inesgotáveis)numa de suas canções dizia que a "...la arena és um puñadido, pero ay montañas de arena..."

Depois de ler seus comentários sobre o Bial e seu BBB (que me causou mal estar desde primeira versão, e nunca mais!) me ocorreu que, uma vez que a Net e um blog são lidos e podem mexer com a vida das pessoas, vc que é blogueiro poderia criar um com conteúdo anti-essa-tv...

A partir deu mesmo, desde já seu amigo, tenho certeza que muita gente poderia colaborar. Pelo menos pra alfinetar um pouco essa "instituição" quase falida (depois da Net as Mega Gravadoras estão aí batendo cabeça pra arranjar uma forma de voltar a faturar como antes).

Vai que a Net, e a veiculação livre de videos e um puñadito de articulistas em blogs conscientes, com o tempo, não dá um jeito nesta "coisa"?

Contaí comigo!

Beto Ruschel

Anônimo disse...

Então...tava eu caçando umas notícias no google e vim poraqui no teu canto. Bão!

Depois, dei de cara com um meu homônimo , deve ser o meu primo que também é músico, e achei que a idéia dele - juntar textos e reflexões sobre (e contra) a TV e o jornalismo que está aí, (vide http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=504FDS002) - seria super!

Qualquer forma, poderia se chamar QualTV?

Conte comigo

Bração, do véio

Beto Ruschel

(Outros novos aí vêm!)