5/15/2007

O Haiti é aqui

Marco Celso Huffell Viola - de Porto Alegre

Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade

A canção Caetano Veloso e Gilberto Gil é uma acerto inegável sobre esse país.Ela se justifica plenamente.Completamente.
No dia 7 de maio 2007) a RBS (Rede Brasil Sul, a principal rede de comunicações do Rio Grande do Sul) exibiu uma reportagem feita no Haiti pela repórter Rejane Schultz onde ela mostra os brilhantes resultados obtidos pelo exército brasileiro no Haiti na sua missão de paz junto aquele país.
Na reportagem, ela diz que é agora é possível caminhar pelas ruas de Port Príncipe com tranqüilidade e exibe alguns rostos riscados um painel como sendo os dos marginais que atormentavam as populações indefesas que hoje dançam nas ruas com algumas bandeiras brasileiras.Surge também no meio da reportagem um jovem general brasileiro, muito simpático, dizendo que está lá apenas cumprindo a sua missão e que o exército brasileiro quando não está combatendo, está auxiliando a população do Haiti.
Fui ao delírio!
Ao ver uma reportagem assim, a minha antiga profissão de repórter (de repórter policial) baixa como um espírito maligno e começa a querer melhorar a reportagem. E, na verdade, como a profissão de repórter é uma função onde existem mais perguntas que respostas, surge a primeira questão: Porque uma tv do extremo sul do Brasil vai ao Haiti fazer uma reportagem sobre aquele país?
É incomum.
Raramente, pra não dizer nunca,eles fazem reportagens internacionais.
Talvez porque o general que dirige as tropas brasileiras seja oriundo do Rio Grande do Sul, pode ser uma resposta.
Afinal, do Rio Grande do Sul teve por hábito, alguns anos atrás, fornecer generais para governar esse país, bem como civis. E, essa rede de tv não faz reportagem gratuita.Tudo nela é pago, hoje ou amanhã.Seguem a filosofia de que não existe almoço grátis.
Mas isso é apenas uma ilação, sugiro apenas aos leitores que procurem saber e guardar o nome do general, pode ser importante no futuro, o anterior que estava lá, morreu, suicidou-se, parece, em situação muito estranha. Mas quem quer saber a verdade sobre um assunto como esse? Só os arapongas desses departamentos secretos das organizações militares, o respeitável público está se lixando para isso. E os repórteres que passaram por lá, depois disso, não mencionam o fato.
Outra questão: Missão de Paz não é um eufemismo?é uma expressão forçada, pois para conseguir essa paz é necessário guerrear, Missão de Guerra seria mais adequado.
Agora o Haiti.
É um país tão miserável que povo anda comendo barro, (barro com sal, tortas de barro com sal) isso mesmo, barro, aquele coisa que dizem que todos nós somos feitos, de tão miserável que é.
Um povo pobre, autofágico, que não possui nenhuma riqueza significativa, nada, nem em terras, nem em recursos naturais, nada, vezes nada.Só gente faminta e espoliada, desde que os franceses saíram de lá.A colonização francesa teve essa característica, deixar a terra arrasada atrás de si.
E o Haiti só perpetuou o modelo colonialista extrativo.

Ah! Mas porque o grande irmão iria se incomodar em apaziguar um lugar assim? Onde não existe nada para explorar?O país faz fronteira com a Republica Dominicana que é mais um estado informal norte-americano E, ali, na República Dominicana está tudo tranqüilo, é possível aos norte-americanos, canadenses e os mais ociosos cidadãos do mundo com muitos dólares na conta aproveitarem o sol, fazendo turismo, naturismo, ou simplesmente sendo hedonistas.
Pra que se preocupar com o outro lado da fronteira que só tem vodu?
O grande irmão tem mais o que fazer.Tem que cuidar da paz do mundo, tem que cuidar dos interesses do petróleo, tem que cuidar dos interesses das empresas multinacionais sejam quais forem, esses haitianos...isso é uma África, aqui na América Central, nem consumidores são ah! Pega um exército qualquer sobre a bandeira da ONU e bota lá.
Port Príncipe é menor, aliás, o Haiti inteiro é menor que a grande São Paulo.
Agora vem outra questão, levantada recentemente na Tv Cultura quando foi entrevistado o jurista Hélio Bicudo no programa Roda Vida, quem é o comandante em chefe das forças armadas? Não é o presidente da República? A minha nova pergunta, como repórter é: porque ele, o comandante em chefe das forças armadas não desloca esse exército, esse que apaziguou o Haiti, com experiência em conflitos desse tipo( de rua, dentro de cidades) para resolver o problema das grandes e belas cidades brasileiras onde balas rascantes riscam a noite?Precisa pedir licença pra ONU?Sugiro que nós brasileiros façamos um abaixo assinado para a ONU para conseguir trazer essa força de paz apaziguadora aqui para o Brasil, já que não há vontade política de ninguém para fazer isso.
Basta deslocar esse exército, com esse bonito e generoso general que é guerreiro quando é preciso- como ele afirmou na reportagem- para tomar conta, acabar com as balas perdidas que derrubam mais brasileiros num ano que todos os haitianos que morreram desde que os Ton Ton Macoute largaram aquele lugar esquecido por Deus e feio por natureza.
E, agora perco toda a elegância e mando pra longe a reportagem e chamo esse general as falas, armado, assim, no Haiti, até eu cumpadi, quero ver se neguinho é da porrada mesmo e sobe a Rocinha até o topo, a pé, com a mão na cintura fingindo que está segurando um trinta e oito.
Hoje, não amanhã.
Mas eu não devo entender mesmo de geopolítica e muito menos de relações internacionais para considerar o Haiti mais importante que o país em que vivo. E não conseguir entender que varrer o quintal alheio seja mais fácil que varrer o próprio quintal.Triste o país que precisa de heróis, já dizia Bertold Brecht. Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade.

Nenhum comentário: