12/19/2004

Poemas de Ronald Augusto da Costa da Costa

poemas extraídos do livro Homem ao Rubro, 1983


não tem mais essa de
sumir pelo avesso
pelourinho trocou de brasão
mas preço seu continua o
mesmo nosso vida austral doçura ao
luar esculpida
fincada no vento
tua casa sem bossa cria
das senzalas
grita canção nossa

*
já tive de dono do hemisfério
de verdura dos pássaros
bem no outro flanco do mar
deram sumiço na minha boniteza
de guri negro
dói no umbigo
inimigo
tempo estampado
segurava pra vulcão
não derramar
bem no outro flanco do mar
mapa riscado de bombardeiros jacas lagoa esperta
dói no umbigo inimigo

*

arrumo nos lundus
mais lento as duras
descobertas que fiz
as iluminuras
de dor que por tudo
calculei quem sabe
nem tanto tomara
proveitosa agave
tão sem meias setas
e certa e exausta
salvam-se as negras
de tudo que fausta


*
para Anajúlio

quebranto supimpa
quebranto supimpa supimpa
qualidade adentro tropel na real
negra
apalavrada com o resmungo indicativo
e propiciatório duma
quartinha de água atrás da porta
linda de pára-raios
favorita dos quissanges
não güenta no osso
nem faz a volta por cima
parte e parte duma vez pra
porrada
arboreala a carapinha
com mariposas que só vendo

12/03/2004

Três poemas

Poemas de Edgar Oliveira
do livro De Asas e Precipícios
ou o Livro do Cotidiano



Deus existe
está triste, infeliz e só
Eu sei
porque o vi noutro dia
caído na calçada
inchado de cachaça
assolado pelo vento
frio e cortante
quase sem roupa
quase moribundo
Deus, quase
Eu sei
porque o vi
quando passei
apressado






Ela voltou-me as costas
e saiu
pela porta da frente
para sempre
para sempre
para sempre
A dor é eterna
porque é eterna
a partida
Súbito
senti-me estranho
embora estando
entres os meus
Fugiu-me saber
o dia de domingo
a casa onde moro
A faca e o seu destino
ambos cegos
Ela partiu-me
para sempre





Enamorados
suavemente
ele passa mão em seus cabelos
Virão os filhos
aves de arribação
depois o cansaço
e a solidão

Meu Deus
sê clemente
faz eterno
o gesto