11/16/2010

Quando a liberdade é ferida não há remédio que a cure


A prisão de Telma  também demonstra o quanto a verdade pode ser alterada quando se quer.
Como disse anteriormente ninguém me mostrou, eu passei no local da performance, pouco antes de fechar a Feira, passamos entre três pessoas ao largo do grupo de pessoas que assistia a poeta Telma Scherer. O argumento usado pela Feira da impossibilidade de passagem de um cadeirante chega a ser terrível pelo mau uso do exemplo.
Os 56 anos alegados pela mesma nota, também não explicam, que esse tempo transcorreu com diversas administrações da Câmara do Livro, ou seja, não acredito que essa antiguidade também dê guarida a esse tipo de atitude e nem mesmo as estatísticas que a Câmara exibe garantem a isenção de responsabilidade nessa questão, pois quando a liberdade é ferida, a estatística, as afirmações de idoneidade são inúteis. E se torna mais grave quando se trata de um evento dito cultural, não apenas livreiro e que utiliza verbas públicas para sua consecução.

A nota publicada pela Feira do Livro  que pode ser lida abaixo ou verificada na link
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3108341.xml

Nota da Câmara Rio-Grandense do Livro

A Câmara Rio-Grandense do Livro realiza a Feira do Livro de Porto Alegre há 55 anos sempre preocupada em garantir um evento democrático, aberto e gratuito. As manifestações populares durante a realização da Feira do Livro são comuns e até mesmo já se tornaram uma prática natural em locais onde há grande concentração de pessoas.

A ação da Brigada Militar ocorrida na noite de sexta-feira, foi motivada pela solicitação de visitantes da Feira do Livro que foram impedidos de circular, como por exemplo, mãe e filho cadeirante que não conseguiram prosseguir em um corredor do evento.

Outros fatos decorrentes da manifestação, como a ingestão abusiva e a oferta de bebida alcoólica na via pública, foram relatados por diversas pessoas.

A ação da Brigada Militar foi no sentido de colaborar para a segurança de todos, inclusive da própria manifestante, que foi conduzida até o posto policial da Praça da Alfândega, acompanhada de amigos e outras pessoas que assistiram a abordagem da Brigada Militar.

A autora não foi presa, tendo sido liberada imediatamente após sua identificação, uma vez que não portava documentos e não foi realizada representação contra a mesma.

ZERO HORA

Feira do Livro de Porto Alegre ofende a poesia


No caminho com Maiakovski
                                         De Eduardo Alves da Costa

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

O recente episódio que redundou na prisão violenta da poeta Telma Scherer durante a sua performance na 56 Feira do Livro de Porto Alegre no dia 12 de novembro de 2010, mostra o grau de insanidade a que chegou aqueles que são responsáveis por uma Feira de Livros que se pretende cultural e que revela, finalmente, que de cultura nada desejam além de vender livros e no que se diz cultural não passa de uma quermesse mal animada.
Ninguém me contou, estive presente, por acaso, no ato da prisão de Telma quando um ex-presidente da Feira declarou em alto e bom som : ”-essa mulher tem que ser presa está  perturbando as barracas da Feira”.
Na mesma oportunidade os policiais encarregados de prendê-la disseram que iam fazer nela exame de teor alcoólico e exame psiquiátrico num posto de atendimento do INSS.
O constrangimento e a virulência foi tanta que deixou a poeta, sensível, muito assustada, sendo tratada como uma verdadeira criminosa.
As garantias de livre expressão da Constituição foram rasgadas naquele momento, sem levar em consideração a ausência de um mínimo de bom senso dos administradores da Feira que a acusaram da forma que fizeram.
Unindo-se a isso tivemos mais uma demonstração também da grande mídia, quando um dos mais importantes jornais da capital minimizou o incidente, mostrando mais uma vez o jornalismo subserviente que é useiro e vezeiro de praticar.
Não podemos esquecer também os nossos intelectuais que também minimizaram o episódio como se ele não fosse emblemático de um momento que vive a nossa cultura subserviente ao poder econômico e feliz com as migalhas que lhes são atiradas através de um reconhecimento feito de cartas marcadas e jogadas bem ensaiadas para disfarçar o uso de verbas públicas que  terminam por caucionar a prisão uma poeta.
Ficar calado a isso é admitir a nossa impotência diante de um acontecimento tão grave que não poderá ser esquecido com facilidade pois, senão como diz poema chegaremos novamente no momento: “que já não podemos fazer mais nada”.

Marco Celso Huffell Viola

1/19/2010

Nossas elites, intelectuais, a mídia e o Estado


Um policial rouba a jaqueta de um ladrão e rouba do ladrão, também, os tênis ainda suados dos pés de um recém-morto pelo ladrão em um local público. Se não houvesse câmaras registrando que o sujeito agonizante não recebeu socorro, pois o policial estava ocupado em roubar o ladrão e não chamou o socorro, o fato passaria desapercebido. E já está esquecido.  Aconteceu no mês de outubro de 2009 no Rio de Janeiro.Retornei a ele por que é caso emblemático.
O acontecimento todo é de uma crueldade, de uma ferocidade, desumanidade tão terrível que só pode ser equiparado a um país em guerra e cujos valores estão completamente distorcidos.
A música de Chico Buarque, Chame o Ladrão, hoje, seria perigosa.
Um país mantido por uma elite apática e tão corrupta que não age-reage a nada que não retorne em benesses para si. E essa elite não é apenas a elite política, mas todo o grupo social organizado que tem condições fazer diferença nessa indiferença e brutalidade, como a igreja, as organizações sindicais patronais ou não, entre outras.
O morto?
Coordenador de projetos sociais do grupo AfroReggae Evandro João da Silva (1).
Notícias do Rio de Janeiro, vejo tiros dentro da noite e algumas pessoas que residem na cidade.Dizerem:-Isso é coisa da Globo, não acontece onde estamos.
-Mentira!
Ou seja, se não acontece na sua janela ou na sua porta não existe.
A apatia é contagiosa.
Dois anos atrás, foi à vez da de uma pessoa ligada a um grande empresário do Sul.
O Jornal Nacional falou dois dias e depois a notícia desapareceu.
Vira notícia quando os crimes possuem repercussão.Quando São Paulo ficou a mercê de uma quadrilha, o fato virou documentário.
Os pequenos crimes, diários, cometidos em todos os níveis, esses não saem no noticiário.
A atitude de o policial roubar o ladrão é reflexo da impunidade, da apatia, da mediocridade organizada e mantida pela preguiça nacional burra e mal intencionada.
A morte foi banalizada pelos apresentadores gritões do jornalismo sensacionalista - imbecil-marrom e do sofisticado casal que aparece bonito e limpinho, toda noite cujo noticiário é tão bonito e limpinho quanto eles, e não possui um editorialista confiável, sério, respeitado.
Dio pai.
Ninguém está a salvo nessa cidade e em nenhum cidade brasileira, nem quem procura melhorar a vida daqueles que nada têm com música, dança, informática ou daqueles que frequentam os mais altos escalões da República.
Só há uma saída e não é o aeroporto e muito menos apagar a luz, a saída é o exílio.
E deixar essa terra que sei abençoada por Deus pegar fogo, nas mãos eficientes daqueles que tem capacidade para fazer isso.
Dos indiferentes, dos que lucram milhões com segurança. Porque tanto barulho com o castelo do deputado em Minas? Ele é apenas mais um que soube aproveitar o filão.Quantos castelos desse tipo proliferam pelo país? E não aparecem na mídia, protegidos atrás de um arsenal de seguranças e de muito dinheiro. As vezes um desses castelos é sacrificado para que todos os outros permaneçam sendo desfrutados, dessa vez foi o político mineiro.
Não é ótimo ter escadas rolantes para o Cristo Redentor? Ótimo, até o dia que teremos que pagar pedágio a algum traficante para podermos subir até lá.
Inversões de prioridades.
E quem mantém isso?
Os que viram as costas, os buscam apenas os interesses pessoais ou de seus grupos, e todos os que se disfarçam nas sombras atrás de organizações que sob o pretexto de proteger, integrar, auxiliar, defendem apenas o status quo de seus salários pagos com os impostos mais altos do mundo.
Recomendo novamente o exílio.
Se você possui um tênis qualquer de marca, só poderá usar ele no Uruguai ou Miami.
Se você tem uma jaqueta mais ou menos, poderá usá-la tranquilamente num desses lugares ou ainda Nova Iorque.
Pois saiba que sua vida aqui não vale nada.
E os nossos intelectuais? Que até 1970 discutiam,analisam, pensavam esse país,onde andam?
É difícil dizer quantas vezes, em nossa história, os intelectuais se ajoelharam diante da corte.
E ela continua, firme, poderosa, lotando as repartições públicas de burocratas felizes no tráfico de influência, que precisa ser legalizado, já que é prática, por que não legalizar o lobby? Em vários países é um negócio como qualquer outro. Assim,como está termina sendo sempre mais caro para o contribuinte.
Nelson Werneck Sodré registra o nome de alguns intelectuais adesistas no período do império.
Não se engane,o que se faz hoje também permanece.
É possível sim, citar nomes que muito próximos da mídia e do Estado agem apenas também para manter seus privilégios.
Para aqueles que não querem o caminho do exílio só existe outro caminho, tentar fazer com que esse jogo seja diferente.

1)Fundado em 1993, o Grupo Cultural AfroReggae (GCAR) é uma organização não governamental que oferece atividades socioculturais para jovens moradores de favelas como forma de fortalecer sua auto-estima, contribuir para a construção de sua cidadania e, com isso afastá-los dos caminhos da violência, do narcotráfico e do subemprego.(texto do site)
http://www.afroreggae.org.br/institucional/
















1/06/2010

Não veja o filme, não leia o livro e nem ganhe uma camiseta com um pacotão de pipoca


Ben 10 o "Avatar" e seus clones, inimigos ou em que ele se transforma, não sei


Queime, queime



Por onde começo com essa vida que estamos vivendo?


Mercado de jovens e seus uniformes,que nos fazem "entrar"


Mas você pensa que somos cegos?


Que não conseguimos ver através de todas as suas mentiras?
     
        fragmento da música de The Lostprophets (1)


Nos grandes lançamentos que chegam as novas supertelas de cinema no Brasil, ao assistir o filme, todos os bons micos amestrados podem ganhar um pacote de pipoca, uma camiseta e se tiver alguma coisa escrita sobre o filme você poderá levar para casa.
Walter Benjamin dizia que o cinema deveria encontrar sua própria realidade e a realidade do cinema deveria ser diferente da realidade do dia-a-dia. Quando Benjamin falava sobre isso, o cinema dava seus primeiros passos como uma possível arte e engatinhava como indústria.
E cresceu da década de 30, em diante, exponencialmente até os mega estúdios nos Estados Unidos, matando índios, incendiando aldeias de índios, dizimando índios, matando africanos, indianos, desprezando todo o tipo de selvagem e impondo a visão dos conquistadores bonzinhos. Onde houvesse gente pra matar lá estava o cinema americano junto da chacina.
Agora, o cinema americano, adequado aos novos tempos, nos traz o Afganistão e problemas de consciência nos Leões e Cordeiros, quando Robert Redford, professor politicamente correto, tenta demover dois bons alunos da ideia de partirem para guerra.
Quando eles aparentemente chutam a própria cabeça como em Soldado Anônimo, onde o personagem quase enlouquece por não conseguir disparar um só tiro e afirma que a masturbação é a única atividade que se dedicam com afinco na guerra do Iraque, chega-se naquilo que Benjamin desejava, o cinema criando a sua própria realidade. O rapaz foi pro Iraque e não conseguiu disparar um único tiro?
Chegou a mirar o fuzil na cabeça de um feio iraquiano com seu chapeuzinho rídiculo de militar e foi desautorizado.
Ah!Então, aquilo lá não é guerra? Não se disparam tiros, não morre gente?
Walt Disney estava certo com a sua Fantasia. Lucro sobre lucro.
Estamos dentro de um cinema com câmara rápida, menos de 20 segundos por imagem, que acelerou a fragmentação do fragmento, fragmento de emoções de todo tipo, sangue dá negócio? Vamos fazer escorrer pela tela, bater carros, explosões quanto mais melhor.Vamos banalizar a violência até torná-la normal, o que não é.
Por isso os soldados que norte-americanos no Iraque, no documentário de Michael Moore, dizem que a melhor música que escutam quando entram na guerra é Burn Burn, música para guerrear.
Guerra com trilha sonora e cujo roteiro é escrito em Washington.
E,eles entram de peito aberto ouvindo a música a todo volume, mesmo que a letra diga outra coisa, importa é o som, o fragmento da emoção.
Depois eles não entendem porque os adolescentes começam a dar tiros em quem não simpatizam na escola, na universidade.
Um cinema que viciou o espectador em adrenalina, e em chorar cada vez que vê em Casablanca e escuta o passivo Sam tocar o times goes bay pro querido patrãozinho rememorar o seu passado de homem. E todos no bar, cantam a Marselhesa de peito estufado e eivados de sentimentos patrióticos, bem distantes da batalha.
Bobagem.
E pra rechear os corações e as veias de açúcar, tome algumas canções, alguns embates amororsos, as danças, e nem raramente uma obra significativa.
Tudo em nome da bilheteria e o entretenimento.
Em um filme, que não lembro o nome, havia um diretor de estúdio que discute sobre cinema e diz que a sua fala preferida, em cinema, era o grito do Tarzan.
Tarzan venceu a tudo e a  todos com seu grito gravado ao contrário, impôs a cultura da macaca Chita, que só sabe abrir a boca e rir, e aprovar a tudo se ganhar banana.
As avaliações dos filmes, pela "critica" especialiazada em cinema americano começa assim: “foi um fracasso de bilheteria não faturou os 50 (ou 100,ou 200) milhões de dólares esperado na semana do lançamento”.
Um dos parâmetros para a avaliação é o quanto o filme rendeu aos produtores. Toda a criação de um filme dessas grandes bilheterias é uma criação coletiva, não tem um único autor, o diretor é apenas um organizador, perdeu a sua função criativa que o Cahiers du Cinéma dizia existir na década de 60, mesmo com Roland Barthes apontando o Sindicato dos Ladrões como um blefe.
E,caso você não saiba a pipoca faz parte do treinamento para se tornar um mico e aumentar o faturamento. A camiseta também, e também os bonecos e brinquedos gerados pelo filme.
Ainda é possível imaginar o cinema como uma arte? Como tentaram os europeus e os outros cinemas no mundo, incluindo o nosso?
Não creio mais que isso seja mais possível.
Se foi não é mais. Não existem recursos para isso.
A menos é claro que se considere arte um desenho animado, entre outras tantas toneladas de cartoons distribuídos pelo mundo como parte desse sistema industrial, que empurra relógios do Ben 10 para crianças indefesas, camisetas do Ben 10 para crianças ainda incapazes de separar a realidade da fantasia, que empurra bonecas, biscoitos e um monte de lixo para crianças, inserindo-as num sistema de consumo precoce e desprotegidas de alguma legislação que preserve o que elas possuem de melhor.
A reprodutibilidade, dizia Benjamin retira a aura do objeto artístico.
Nisso ele estava certo, a reprodutibilidade também retira o valor.
Ou então, teremos que mudar os parâmetros de avaliação para uma obra de arte, no mercado de arte quanto mais cópias circulam de um peça de arte, mais barata ou desvalorizada ela se torna.
Portanto, tudo que é reproduzível perde o valor na medida que aumenta o seu número de cópias e pode-se acrescentar, audiência.
Assim, podemos concluir que tanto o cinema industrial como a televisão, estão longe de serem e produzirem arte, são produtos de consumo cujo valor artístico é um pastiche da arte verdadeira.


1) Escute: http://vagalume.uol.com.br/lostprophets/burn-burn.html




1/03/2010

Cabeças de bagre



Não sei se usa a expressão “cabeça de bagre” além do Mampituba ou se ela é uma expressão legítima do Rio Grande do Sul. Para quem não sabe, ela é empregada para designar aquelas pessoas de pouca ou nenhuma inteligência ou se a tem, não a usam em proveito próprio e muito menos dos outros. São repetidores incansáveis de idéias, conceitos e preconceitos alheios, e quando se metem em política, é o que se vê na maior parte de nossos políticos, um desastre, um bando de políticos cabeça de bagre.

Agora, com a internet esses cabeciones então, se acharam como distribuidores de mensagens e correntes de saúde,amor, paz, beleza e piadas, quando não distribuem material preparado por outros cabeças de bagre sobre política.
Algumas dessas mensagens traem a sua origem

Chegou na minha caixa postal, recentemente, uma dessas sobre a Dilma Roussef, que é de uma violência tão descarada que parece ter sido realizada por parte desses sistemas que ainda agem nas sombras nesse país, em nome de algum controle social, que estão acima da lei e da ordem, pagos naturalmente com o dinheiro dos impostos, prestando contas apenas aos arapongas de plantão e mais ninguém.

Duvido que, na sequência, os cabeça de bagre que distribuem esse tipo de mensagem saibam realmente o objetivo daquilo, se publicidade contra ou a favor da ministra, só quem fez sabe o que está fazendo.

Já vivi nesse país em um tempo de triste memória, quando a minha correspondência vinha toda aberta.

Imaginei que esse tempo tivesse terminado.
Mas não, sei não.
 Esses que fazem isso agora, parecem ser os mesmos, senão parentes, amigos, colegas ou descendentes, tão descerebrados quanto aqueles que liam a correspondência alheia naquele período..

Agora, me poupem, cabeças de bagre, façam o seu trabalho sujo longe de mim e se mantenham vocês, seus colegas e distribuidores de mensagens idiotas longe da minha caixa postal.