10/22/2005

Poesia Política

Começou na Livraria Palavraria o Seminário Poesia Política, todas as segundas feiras, às 19h30min.Em novembro estarei realizando outro seminário na mesmo local.

10/05/2005

Literatura na Rádio

Completa um mês no ar na 87.9 Fm de Porto Alegre, o programa Tema Livre, onde a literatura e a cultura tem prioridade e os outros assuntos ficam a cargo os convidados. Já estiveram presentes Carlos Caramez,autor de Construção das Ruínas e Poemas Incuráveis; Pedro Gonzaga, autor de Cidade Fechada;Ronald Augusto, do grupo Poets;Luis de Miranda, autor de Nunca Mais Seremos os Mesmos, e Dilan Camargo, autor da recente antologia que reuniu 80 poetas tradicionalistas gaúchos.O programa que tem nos controles técnicos Tadeu Paraguassu é produzido e apresentado por mim, Aline Isaia e Diego Lopes.

9/05/2005

Rádio Poesia

Todas as segunda-feiras, das 18 às 20h estamos no programa Papo Livre, na rádio 87.9 FM, em Porto Alegre eu e Aline Isaia,divulgando arte, poesia e literatura. Nesta segunda, dia 5 começamos a realizar um concurso de poesia com os ouvintes.

8/23/2005

POESIA POLÍTICA

A partir do próximo dia 13 de setembro estarei realizando na livraria Palavraria em Porto Alegre Seminário sobre Poesia Política. Entre os temas a serem abordados: história da literatura até o romantismo e os movimentos derivados,anarquismo, realismo, dadaísmo, futurismo, surrealismo;Semana de Arte Moderna, concretistas e período de resistência a ditadura.Informações-f: 32684260.

7/15/2005

ILHA

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Esta soberana pátria: o exílio:
acolho-te nesta pele, Ilha natal,
e estás tão longe – geograficamente,
eu exilado – sempre.

No olhar, percorro todos os lugares,
mas o eixo está em ti,
Ilha
(inunda-me a circunstância líquida),
Desterro,
sempre volto a ti.
Cumprido o ciclo.
Cumprido?
Nunca terminado, como um livro: apenas interrompido.
Ilha,
Interior:
sou apenas um catalisador de complexidades.

Meu sonho: ilhado, não é pragmático,
imaterial, carente de valor contábil,
não, a pecúnia não é soberana.
Volto sempre a ti, Ilha
(que me fundou)
imanente, estarás sempre em mim,
(despoluída e mítica)
e depois, já feito pó, talvez continue em ti:
“Morrer é uma forma de organizar-se.”

6/21/2005

Leitura de poemas

No próximo dia 2 de julho,o ator Alexandre Keive estará lendo na livraria Palavraria os poemas de Aline Isaia, Carlos Caramez,Edgar Oliveira,Marco Celso Huffell Viola,José Fonseca, Nei Duclós. A Palavraria fica na Vasco da Gama 165. o recital será as 19h30min.

4/19/2005

Geração Mimeógrafo

Geração Mimeógrafo, Princípio Meio e Fim


A partir deste post começo a colocar partes do livro Geração Mimeógrafo,Princípio Meio e Fim, o texto que inicia é de Cláudio d’Almeida poeta, escritor/memorialista e autor da trilogia: A mão estendo ao vento;Pequenos pedaços de um tempo e Apenas quem sabe os silêncios.
Os três livros de Cláudio relatam vivências dele pelo mundo, nos últimos trinta anos e, em seu livro Apenas quem sabe os silêncios, ele fala da criação do evento denominado Duas Semanas Cinéticas de Arte(1), que junto com ele ajudei a organizar em Porto Alegre,em 1972 e que dentre as várias manifestações artísticas produziu a edição em mimeógrafo do hoje histórico Caderno de Contos e Poesias, com apenas um exemplar conhecido em posse do poeta Oliveira Silveira.
O Caderno de Contos e Poesias, foi uma antologia com textos de 21 autores, entre eles Caio Fernando de Abreu, Moacyr Scliar, Sérgius Gonzaga, entre outros.
Apesar do braço forte, a ditadura,na época., não conseguiu encontrar maneira de impedir a realização do evento.
Assim,o Caderno como a mostra de arte visuais, as apresentações de teatro, música e cinema,resultantes das Duas Semanas de Arte Cinéticas, além de refletir o que estava acontecendo na cultura em Porto Alegre,naquele momento, não sofreram censura e puderam ocorrer livremente.
No texto de Cláudio, capítulo primeiro do Apenas quem sabe os silêncios, também é possível sentir como era o clima de repressão que vivia o país naquele período..
Reproduzo abaixo o texto gentilmente cedido pelo autor.




Capítulo I

Arte e Bahia

“No ano de 1972, ou seja, trinta anos atrás, na falta de festas cívicas que permitissem um auto-elogio da ditadura militar, o governo inventou o sesquicentenário da independência. Era algo absurdo e inaceitável para os descontentes. Pretendiam uma bienal de arte e outros movimentos na área cultural, muito quieta na época, depois do AI –5, Caetano e Gil no exílio, etc.
Desde de uns dois ou três anos, individualmente ou em pequenos grupos, dentro da Universidade Federal do RS a inquietação cultural sobreviveu.
Resolvemos criar um grupo alternativo para manifestação e o encontro entre estas pessoas e grupos, sem a conciliação com o autoritarismo. Nenhum dinheiro, mas o espaço do centro Acadêmico da Engenharia o (o CEUE) e da Medicina (CASL), graças ao amigo Mário,(2). além do apoio do Diretório Central, onde Berenice(3), minha companheira era secretária geral.
De longas conversas entre Marco Celso Viola, a Berenice e eu próprio surgiram, as Duas semanas em um salão” . O nome derivou do livro “ Cinco semanas em um balão”, de Julio Verne,a idéia era ocupar o salão do CEUE, durante duas semanas , com exposição e desenhos e pinturas, apresentação de peças, filmes, debates, edição de caderno literário, música e atividade que envolvessem os visitantes.
Montamos o Movimento de Arte Cinética, uma aparente redundância, mas não tinha nada a ver com a escola deste nome, na realidade a intenção era mexer com as pessoas, fossem artistas ou não.Escrito nosso manifesto, partimos para os jornais e até entrevista na Rádio da Universidade...’

Ainda neste trecho do seu livro que relata a o surgimento do Caderno de Contos e Poesias,Cláudio,sai nas férias de julho e viaja a Salvador,ele diz entre outras coisas “o Viola ficou em Porto,dando continuidade a mostra”, descrevendo o clima da época em Salvador,ele observa: “ mas vigorava a lei seca nos bares, depois das oito da noite a repressão policial era intensa”.
No seu retorno:
“Os trabalhos de organização da mostra cultural prosseguiram. Os contatos com diversos setores de manifestação artística nos levaram a Editora Movimento, aos grupos do Movimento Negro (proibidos pela ditadura), ao Centro de Arte Dramática da UFRGS, gente que tentava fazer cinema e aos poetas daquela geração.As semanas de agosto passaram rápido, foram visitadas muitas pessoas e algumas surpresas. A loja Lemac nos forneceu muito papel e tinta tempera, utilizada para as manifestações do público, dentro das propostas do evento. O resultado foi surpreendente para nós”...
...O resto do tempo foi passado na datilografia dos contos e poesias que, mimeografados, deram, origem a uma publicação que distribuímos aos mais interessados.O Moacyr Scliar foi um dos novos da época.Também havia contos e poesias de nossa autoria.As pinturas e desenhos foram sendo preparadas para a exposição de duas semanas que ocupamos o salão do CEUE , mesmo local onde foram projetados filmes do Alpheu Godinho e Sérgio Silva....
Neste mesmo local ocorreram alguns debates sobre expressão artística.Apresentações de teatro e audições musicais foram na Medicina, entre elas do Celso Loureiro Chaves, hoje(4) diretor da Escola de Artes da UFRGS...

(1)Tanto a capa do Caderno quanto do cartaz da mostra são de autoria de Cláudio d’Almeida
( 2) Mario Duarte Silveira
(3)Berenice Mallmann,foi quem datilografou os textos e acompanhou todo o processo de edição do Caderno de Contos e Poesias no mimeógrafo a tinta do CEUE.
(4)O livro foi editado em dezembro de 2002

4/12/2005

Do livro Construção das Ruínas

Carlos Eduardo Caramez lança agora, em abril, o Construção das Ruínas- Poemas Incuráveis, pela editora Leitura XXI
é dele o poema

no chão do meu cérebro
estão enterrado todos os cadáveres
da humanidade
estão os subterrâneos dos desertos
os subsolos das cidades
os porões do universo
os poemas incuráveis
os poços escuros
escondem o contrabando de armas
e os novos vírus do futuro

3/06/2005

do livro Poemas para ler em voz alta

O Sobrado*


"Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado"
Velho Sobrado (Cora Coralina)




O acaso levou-me aquela rua
esquecida
e o Sobrado,
surgiu
na minha frente,
em ruínas.

Não pude evitar olhar para as janelas
e...de repente,
teu vulto passou na vidraça!
Foi um instante, quase o reflexo,
mas a surpresa foi tanta
que sentei na calçada
esperando rever teu rosto.
Era impossível e improvável...
poderias estar revendo a casa.

Encostado a uma árvore e com afasia,
lembrei aos poucos e quase sem querer
do piano de cauda na sala
que vendemos para um judeu
com a louça da Companhia das Índias
e tomamos banho de dinheiro.

Ouvi dona Mariquinha
reclamando para negra do seu chá
de camomila.
E você subindo as escadas,
quando te conheci
e comentei:_ que casa linda!
_ também gosto dela! Foi a tua resposta.
Encantado no teu sorriso
transferi todos
os compromissos do dia
e saímos a caminhar até que noite nos pegou
por inteiro e
andamos nas ruas do bairro
de madrugada
falamos tanto que
ficamos roucos e
ao fechar os olhos entre teus braços
sonhei com uma montanha azul.

Dava para ouvir nossos risos
confusos
entre as escadas e o ateliê de pintura
onde os morcegos dormiam de dia
e nos escondíamos às horas cheias
e as vazias
que o relógio de carrilhão teimava
em anunciar.
E não foi apenas teu vulto
que vi na vidraça
haviam outros, estampados
como um bordado, rendado, antigo
que amarelou
esquecido num canto.

Ali estava o Sobrado, belo, gigante, triste, envelhecido,
perdera o brilho,
aguardando um operário indiferente
botar abaixo suas paredes.

Consegui ver o assoalho marcado
com passos inúteis, com móveis arrastados,
com passos de dança nos bailes para a sociedade,
com as reuniões de política,
e nosso amor escondido atrás
das portas.

Sei porque se destrói casas
como este Sobrado,
é incômodo e inútil
as cidades precisam de espaço
e todos precisam de dinheiro
e se as lembranças tivessem
algum valor
nos desfaríamos delas, com rapidez e facilidade
esquecendo os abraços,
os beijos, os choros convulsivos, as preocupações,
as precauções e as risadas que ecoaram nos dias
felizes de verão.
Esquecemos tudo,
mas as pedras não esquecem,
algo ficou gravado num pedaço daquele chão,
impossível de tirar, raspar, lavar ou mesmo arrancar,
também ficou um pouco
naquelas plantas feias
que nasceram sem pedir licença e que
apenas os pássaros sabem a razão
de existir.

Ouvi o barulho da cozinha,
a panela de feijão arrastando no fogão
os talheres de prata
e os assuntos que não se podia
falar perto de dona Mariquinha
que enlouquecia e queria pular do primeiro
andar.
Lembrei um pouco do nosso amor,
dos gansos grasnando a
nossa passagem, das pintas na tua
pele
e nossas tatuagens feitas com tuas
tintas,
nas luas cheias
quando uivávamos como lobos sedentos
pelo nosso sangue,
nos cobríamos de pelos,
nos arranhávamos como poucos
e quase nos matávamos de tanto
amar.
E a vida seria só aquilo, não haveria o depois.

E os quadros que pintamos?
que ninguém queria, nem a tia Generosa.
Os conselhos de família, dos amigos, estudando
nosso caso,
tudo e todos contra nós
e o nosso amor de risos, riscos e fugas intermináveis.

Passaram na janela,
num instante teus avós, tios, primos
e primas, as fotos dos mortos na parede,
os sobrenomes importantes, a
altiva elegância e as jóias de família,
hoje no prego de algum agiota.

Como um idiota, perguntei ao Sobrado
onde tinha ido aquela gente
e a resposta veio depois de enorme silêncio:
_algumas noites aqui, são bem animadas.
Aparecem todos os fantasmas, cantam,
dançam, contam piadas
e até a lareira se acende, bebem conhaque,
fumam, você também é convidado...

Interrompendo aquela conversa sem propósito
alguém me tocou no ombro.
_Moço, o senhor precisa de alguma coisa?
Esta passando mal? Está sem cor...
_Não, não, grato, não foi nada, foi um surto,
não é doença, é um ataque...
E a culpa é daquele velho Sobrado!
Grato, obrigado...vou ficar sentado aqui,
apagando se possível,
este velho Sobradodo meu passado.

*Do livro Poemas para ler em voz alta que pode ser encontrado no site da Livraria Cultura

1/19/2005

Dois poemas

Do livro Do Avesso
de Aline Isaia

Pássaro

Hoje, me ordeno pássaro para alimentar-me
do essencial. De água, frutos, paisagem
e sossego.
Me ordeno pássaro para calar
sem constrangimento,sorrir gratuitamente,por dentro.
Neutralizar as defesas-pousar aqui, pousar ali-belezas.
Me ordeno pássaro para não enfrentar mais filas,
e de acrobacias atravessar as estradas da liberdade
nua e fria.
Me ordeno pássaro para mudar humor e cor a
cada estação...destino é o improviso.
Da realidade, recortes bons, nada de tormentos.
Me ordeno pássaro para,invisível, velar tua janela:te ter sem nada cobrar,
te sentir pelo olhar.
E num canto brando, distante, ser teu por um momento.
Ser teu solenemente e exclusivamente,
mesmo que só num fio de pensamento.


Partes, Tu

Chegas-te intruso, sem pedir licença.
E é bem verdade que no princípio, atrapalhaste minha rotina.
Eu era do vento, não sabia o que era ter.
Não sabia o que era ser.
Mas, fomos apostando numa convivência de confiança fraca;
depois de pequenas cumplicidades;
depois,vieram as ternas surpresas e,quando vi, já éramos parte.
Um do outro.
Achava graça quando dizias que, somados, multiplicávamos, - mágica de conquista.
Achava, não fazia graça.
E me enchia de vergonha, era difícil admitir saber-me mais, por ti.
Agora, de uma hora para outra, diz que vais embora.
De motivos, precisas seguir em frente.
E, para não perder pose, refaço um movimento de fraca superioridade.
Sei que irás restar, pedaço de mim. E aceito.
Mas, já me consumo numa fração de perda e de saudade.
O adeus é azul.