2/18/2009

O maior poeta brasileiro de todos os tempos?





Como esse artigo escrito em 2007 não perdeu a atualidade,resolvi editá-lo agora. O artigo acima o elucida melhor.



Em artigo publicado no jornal Zero Hora dia 18 - 9 -2007 A Dura Vida de Poeta, o professor Luis Augusto Fischer ao falar de poesia cai na vala comum dos críticos maniqueístas oriundos das escolas de análise, quando não historicistas-sociológicas derivadas Arnaldo Hauser [1], usam a lógica maniqueísta aristotélica e não procuram ou não sabem observar as distinções entre história literária, literatura comparada e crítica literária, criadas a partir dos trabalhos do tcheco-norte-americano René Welleck [2] (1915-1978), que gerou campos de estudos distintos e uma ciência da literatura do que antes era uma unidade na “Literary Criticism” ou Literatura Crítica.
No texto, o professor Fischer, usa a lógica aristotélica do terceiro excluído.
Nessa lógica binária, só cabem dois parâmetros: bom ou mau; melhor ou pior; fácil ou difícil – etc.
Segundo ele afirma no artigo :“ao contrário das outras artes, a poesia sozinha, sem a parceria da música e/ou da performance teatralizada, é uma atividade sublimamente difícil”.
Ele fala como se poesia fosse uma atividade que necessitasse de complementaridade para se tornar fácil.
Eis a lógica maniqueísta: fácil x difícil.E a confissão da quase impossibilidade de compreender a poesia.
E continua: “Do ponto de vista mais cético, (?sic) se poderia dizer que assim é porque os poetas não tem a habilidade de formar a sua audiência, por deficiência própria, porque os bons a encontram.”
Não é uma maravilha de frase?
Uma generalização completa (quem seriam os deficientes, os bons, quem seriam os poetas?Todos os poetas?).
Haveria poetas bons? Porque o uso do plural aqui? Ele considera apenas um poeta como o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Que outros poetas, segundo ele teriam essa audiência?
Fischer parece que não lê poesia, ou se lê não a entende ou ainda, não se esforça para entender, há uma outra confusão sobre a questão da audiência, outra simplificação.
Do ponto de vista histórico, a poesia subsistiu oralmente durante séculos, foi a base e viga mestra de todos os outros gêneros literários incluindo o teatro (a teatralização da poesia já existia no início dela, sendo caminho natural da mesma), o romance e o que derivou deles.
Qual seria a audiência de um Homero? De François Villon? De um Dante de Alighieri? Lamentável essa visão que desloca a análise para a poesia de audiência,como se poesia fosse mais uma questão de ruído e mídia, como se o importante estivesse no volume ( nos dois sentidos, volume de quantidade e audiência, de áudio) e não na qualidade ou outro fator um tanto “mais” nobre, como a cultura, por exemplo.
Existem várias simplificações, no texto, absurdas para alguém que escreve, o autor do artigo pergunta "quem são os antagonistas relevantes de agora"? Referindo-se a criação poética de Drumond que enfrentou "inimigos" como o parnasianismo, etc. o professor esqueceu as aulas referentes ao modernismo e da profunda sensibilidade do poeta.
Como se o enfrentamento de algum movimento ou o que quer que seja provoque a verdadeira criação poética.
O que os poetas hoje tem a enfrentar?
Críticos como esse, talvez seja uma boa resposta.
A leitura livresca do autor do artigo parece ser um tanto rala, pequena, pois ao considerar “Carlos Drumondd de Andrade o maior poeta brasileiro de qualquer época”, enfatiza no texto uma visão pessoal empobrecedora da literatura brasileira, num reducionismo lamentável para um professor, que esquece os grandes poetas que fizeram nossas letras e, como via de consequência estão nos pilares desse país, possibilitando que tivéssemos fala própria (identidade) como Gregório de Mattos Guerra, Gonçalves Dias e sua Canção do Exílio, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manoel Bandeira,Cecília Meirelles,Vinícius de Moraes, João Cabral de Mello Neto, o nosso Mario Quintana e tantos outros...

Poesia é um gênero literário que não se mede utilizando os mesmos instrumentos com os quais se mede as três dimensões, estatística é outra área e lógica simples e reducionista também.
Uma boa sugestão para o professor Fischer é remeter o nome de Drumond para o Guineses Book incluí-lo como “ o maior poeta brasileiro de qualquer época”, para ver se eles o registram assim.
Difícil.
Eles, no mínimo, teriam o bom senso de procurar equipará-lo a outros poetas brasileiros.





[1] Arnold Hauser-História Social da Literatura e da Arte Ed. Mestre Jou- São Paulo 1982
2 René Walleck e Austin Warren -Teoria da Literatura -Ed. -America-Portugal-Lisboa -1972

Um comentário:

José Antônio Silva disse...

Viola,muito interessante o teu comentário ao artigo do Fischer, pois a julgar do que informas aqui o texto dele (que não li) é de uma pobreza conceitual e de informação específica que desnorteia...
Tuas colocações corretas e abertas à grandeza deste universo.
Abraço
José Antônio Silva