1/19/2010

Nossas elites, intelectuais, a mídia e o Estado


Um policial rouba a jaqueta de um ladrão e rouba do ladrão, também, os tênis ainda suados dos pés de um recém-morto pelo ladrão em um local público. Se não houvesse câmaras registrando que o sujeito agonizante não recebeu socorro, pois o policial estava ocupado em roubar o ladrão e não chamou o socorro, o fato passaria desapercebido. E já está esquecido.  Aconteceu no mês de outubro de 2009 no Rio de Janeiro.Retornei a ele por que é caso emblemático.
O acontecimento todo é de uma crueldade, de uma ferocidade, desumanidade tão terrível que só pode ser equiparado a um país em guerra e cujos valores estão completamente distorcidos.
A música de Chico Buarque, Chame o Ladrão, hoje, seria perigosa.
Um país mantido por uma elite apática e tão corrupta que não age-reage a nada que não retorne em benesses para si. E essa elite não é apenas a elite política, mas todo o grupo social organizado que tem condições fazer diferença nessa indiferença e brutalidade, como a igreja, as organizações sindicais patronais ou não, entre outras.
O morto?
Coordenador de projetos sociais do grupo AfroReggae Evandro João da Silva (1).
Notícias do Rio de Janeiro, vejo tiros dentro da noite e algumas pessoas que residem na cidade.Dizerem:-Isso é coisa da Globo, não acontece onde estamos.
-Mentira!
Ou seja, se não acontece na sua janela ou na sua porta não existe.
A apatia é contagiosa.
Dois anos atrás, foi à vez da de uma pessoa ligada a um grande empresário do Sul.
O Jornal Nacional falou dois dias e depois a notícia desapareceu.
Vira notícia quando os crimes possuem repercussão.Quando São Paulo ficou a mercê de uma quadrilha, o fato virou documentário.
Os pequenos crimes, diários, cometidos em todos os níveis, esses não saem no noticiário.
A atitude de o policial roubar o ladrão é reflexo da impunidade, da apatia, da mediocridade organizada e mantida pela preguiça nacional burra e mal intencionada.
A morte foi banalizada pelos apresentadores gritões do jornalismo sensacionalista - imbecil-marrom e do sofisticado casal que aparece bonito e limpinho, toda noite cujo noticiário é tão bonito e limpinho quanto eles, e não possui um editorialista confiável, sério, respeitado.
Dio pai.
Ninguém está a salvo nessa cidade e em nenhum cidade brasileira, nem quem procura melhorar a vida daqueles que nada têm com música, dança, informática ou daqueles que frequentam os mais altos escalões da República.
Só há uma saída e não é o aeroporto e muito menos apagar a luz, a saída é o exílio.
E deixar essa terra que sei abençoada por Deus pegar fogo, nas mãos eficientes daqueles que tem capacidade para fazer isso.
Dos indiferentes, dos que lucram milhões com segurança. Porque tanto barulho com o castelo do deputado em Minas? Ele é apenas mais um que soube aproveitar o filão.Quantos castelos desse tipo proliferam pelo país? E não aparecem na mídia, protegidos atrás de um arsenal de seguranças e de muito dinheiro. As vezes um desses castelos é sacrificado para que todos os outros permaneçam sendo desfrutados, dessa vez foi o político mineiro.
Não é ótimo ter escadas rolantes para o Cristo Redentor? Ótimo, até o dia que teremos que pagar pedágio a algum traficante para podermos subir até lá.
Inversões de prioridades.
E quem mantém isso?
Os que viram as costas, os buscam apenas os interesses pessoais ou de seus grupos, e todos os que se disfarçam nas sombras atrás de organizações que sob o pretexto de proteger, integrar, auxiliar, defendem apenas o status quo de seus salários pagos com os impostos mais altos do mundo.
Recomendo novamente o exílio.
Se você possui um tênis qualquer de marca, só poderá usar ele no Uruguai ou Miami.
Se você tem uma jaqueta mais ou menos, poderá usá-la tranquilamente num desses lugares ou ainda Nova Iorque.
Pois saiba que sua vida aqui não vale nada.
E os nossos intelectuais? Que até 1970 discutiam,analisam, pensavam esse país,onde andam?
É difícil dizer quantas vezes, em nossa história, os intelectuais se ajoelharam diante da corte.
E ela continua, firme, poderosa, lotando as repartições públicas de burocratas felizes no tráfico de influência, que precisa ser legalizado, já que é prática, por que não legalizar o lobby? Em vários países é um negócio como qualquer outro. Assim,como está termina sendo sempre mais caro para o contribuinte.
Nelson Werneck Sodré registra o nome de alguns intelectuais adesistas no período do império.
Não se engane,o que se faz hoje também permanece.
É possível sim, citar nomes que muito próximos da mídia e do Estado agem apenas também para manter seus privilégios.
Para aqueles que não querem o caminho do exílio só existe outro caminho, tentar fazer com que esse jogo seja diferente.

1)Fundado em 1993, o Grupo Cultural AfroReggae (GCAR) é uma organização não governamental que oferece atividades socioculturais para jovens moradores de favelas como forma de fortalecer sua auto-estima, contribuir para a construção de sua cidadania e, com isso afastá-los dos caminhos da violência, do narcotráfico e do subemprego.(texto do site)
http://www.afroreggae.org.br/institucional/
















1/06/2010

Não veja o filme, não leia o livro e nem ganhe uma camiseta com um pacotão de pipoca


Ben 10 o "Avatar" e seus clones, inimigos ou em que ele se transforma, não sei


Queime, queime



Por onde começo com essa vida que estamos vivendo?


Mercado de jovens e seus uniformes,que nos fazem "entrar"


Mas você pensa que somos cegos?


Que não conseguimos ver através de todas as suas mentiras?
     
        fragmento da música de The Lostprophets (1)


Nos grandes lançamentos que chegam as novas supertelas de cinema no Brasil, ao assistir o filme, todos os bons micos amestrados podem ganhar um pacote de pipoca, uma camiseta e se tiver alguma coisa escrita sobre o filme você poderá levar para casa.
Walter Benjamin dizia que o cinema deveria encontrar sua própria realidade e a realidade do cinema deveria ser diferente da realidade do dia-a-dia. Quando Benjamin falava sobre isso, o cinema dava seus primeiros passos como uma possível arte e engatinhava como indústria.
E cresceu da década de 30, em diante, exponencialmente até os mega estúdios nos Estados Unidos, matando índios, incendiando aldeias de índios, dizimando índios, matando africanos, indianos, desprezando todo o tipo de selvagem e impondo a visão dos conquistadores bonzinhos. Onde houvesse gente pra matar lá estava o cinema americano junto da chacina.
Agora, o cinema americano, adequado aos novos tempos, nos traz o Afganistão e problemas de consciência nos Leões e Cordeiros, quando Robert Redford, professor politicamente correto, tenta demover dois bons alunos da ideia de partirem para guerra.
Quando eles aparentemente chutam a própria cabeça como em Soldado Anônimo, onde o personagem quase enlouquece por não conseguir disparar um só tiro e afirma que a masturbação é a única atividade que se dedicam com afinco na guerra do Iraque, chega-se naquilo que Benjamin desejava, o cinema criando a sua própria realidade. O rapaz foi pro Iraque e não conseguiu disparar um único tiro?
Chegou a mirar o fuzil na cabeça de um feio iraquiano com seu chapeuzinho rídiculo de militar e foi desautorizado.
Ah!Então, aquilo lá não é guerra? Não se disparam tiros, não morre gente?
Walt Disney estava certo com a sua Fantasia. Lucro sobre lucro.
Estamos dentro de um cinema com câmara rápida, menos de 20 segundos por imagem, que acelerou a fragmentação do fragmento, fragmento de emoções de todo tipo, sangue dá negócio? Vamos fazer escorrer pela tela, bater carros, explosões quanto mais melhor.Vamos banalizar a violência até torná-la normal, o que não é.
Por isso os soldados que norte-americanos no Iraque, no documentário de Michael Moore, dizem que a melhor música que escutam quando entram na guerra é Burn Burn, música para guerrear.
Guerra com trilha sonora e cujo roteiro é escrito em Washington.
E,eles entram de peito aberto ouvindo a música a todo volume, mesmo que a letra diga outra coisa, importa é o som, o fragmento da emoção.
Depois eles não entendem porque os adolescentes começam a dar tiros em quem não simpatizam na escola, na universidade.
Um cinema que viciou o espectador em adrenalina, e em chorar cada vez que vê em Casablanca e escuta o passivo Sam tocar o times goes bay pro querido patrãozinho rememorar o seu passado de homem. E todos no bar, cantam a Marselhesa de peito estufado e eivados de sentimentos patrióticos, bem distantes da batalha.
Bobagem.
E pra rechear os corações e as veias de açúcar, tome algumas canções, alguns embates amororsos, as danças, e nem raramente uma obra significativa.
Tudo em nome da bilheteria e o entretenimento.
Em um filme, que não lembro o nome, havia um diretor de estúdio que discute sobre cinema e diz que a sua fala preferida, em cinema, era o grito do Tarzan.
Tarzan venceu a tudo e a  todos com seu grito gravado ao contrário, impôs a cultura da macaca Chita, que só sabe abrir a boca e rir, e aprovar a tudo se ganhar banana.
As avaliações dos filmes, pela "critica" especialiazada em cinema americano começa assim: “foi um fracasso de bilheteria não faturou os 50 (ou 100,ou 200) milhões de dólares esperado na semana do lançamento”.
Um dos parâmetros para a avaliação é o quanto o filme rendeu aos produtores. Toda a criação de um filme dessas grandes bilheterias é uma criação coletiva, não tem um único autor, o diretor é apenas um organizador, perdeu a sua função criativa que o Cahiers du Cinéma dizia existir na década de 60, mesmo com Roland Barthes apontando o Sindicato dos Ladrões como um blefe.
E,caso você não saiba a pipoca faz parte do treinamento para se tornar um mico e aumentar o faturamento. A camiseta também, e também os bonecos e brinquedos gerados pelo filme.
Ainda é possível imaginar o cinema como uma arte? Como tentaram os europeus e os outros cinemas no mundo, incluindo o nosso?
Não creio mais que isso seja mais possível.
Se foi não é mais. Não existem recursos para isso.
A menos é claro que se considere arte um desenho animado, entre outras tantas toneladas de cartoons distribuídos pelo mundo como parte desse sistema industrial, que empurra relógios do Ben 10 para crianças indefesas, camisetas do Ben 10 para crianças ainda incapazes de separar a realidade da fantasia, que empurra bonecas, biscoitos e um monte de lixo para crianças, inserindo-as num sistema de consumo precoce e desprotegidas de alguma legislação que preserve o que elas possuem de melhor.
A reprodutibilidade, dizia Benjamin retira a aura do objeto artístico.
Nisso ele estava certo, a reprodutibilidade também retira o valor.
Ou então, teremos que mudar os parâmetros de avaliação para uma obra de arte, no mercado de arte quanto mais cópias circulam de um peça de arte, mais barata ou desvalorizada ela se torna.
Portanto, tudo que é reproduzível perde o valor na medida que aumenta o seu número de cópias e pode-se acrescentar, audiência.
Assim, podemos concluir que tanto o cinema industrial como a televisão, estão longe de serem e produzirem arte, são produtos de consumo cujo valor artístico é um pastiche da arte verdadeira.


1) Escute: http://vagalume.uol.com.br/lostprophets/burn-burn.html




1/03/2010

Cabeças de bagre



Não sei se usa a expressão “cabeça de bagre” além do Mampituba ou se ela é uma expressão legítima do Rio Grande do Sul. Para quem não sabe, ela é empregada para designar aquelas pessoas de pouca ou nenhuma inteligência ou se a tem, não a usam em proveito próprio e muito menos dos outros. São repetidores incansáveis de idéias, conceitos e preconceitos alheios, e quando se metem em política, é o que se vê na maior parte de nossos políticos, um desastre, um bando de políticos cabeça de bagre.

Agora, com a internet esses cabeciones então, se acharam como distribuidores de mensagens e correntes de saúde,amor, paz, beleza e piadas, quando não distribuem material preparado por outros cabeças de bagre sobre política.
Algumas dessas mensagens traem a sua origem

Chegou na minha caixa postal, recentemente, uma dessas sobre a Dilma Roussef, que é de uma violência tão descarada que parece ter sido realizada por parte desses sistemas que ainda agem nas sombras nesse país, em nome de algum controle social, que estão acima da lei e da ordem, pagos naturalmente com o dinheiro dos impostos, prestando contas apenas aos arapongas de plantão e mais ninguém.

Duvido que, na sequência, os cabeça de bagre que distribuem esse tipo de mensagem saibam realmente o objetivo daquilo, se publicidade contra ou a favor da ministra, só quem fez sabe o que está fazendo.

Já vivi nesse país em um tempo de triste memória, quando a minha correspondência vinha toda aberta.

Imaginei que esse tempo tivesse terminado.
Mas não, sei não.
 Esses que fazem isso agora, parecem ser os mesmos, senão parentes, amigos, colegas ou descendentes, tão descerebrados quanto aqueles que liam a correspondência alheia naquele período..

Agora, me poupem, cabeças de bagre, façam o seu trabalho sujo longe de mim e se mantenham vocês, seus colegas e distribuidores de mensagens idiotas longe da minha caixa postal.

12/31/2009

O homem que detestava cebola


Rubem Braga


Os conhecedores de vinho ao se referirem a um determinado vinho e sua qualidade intrínseca falam não apenas do vinho, mas referem-se ao  local em que a uva foi plantada, a safra e quase sempre terminam, quando o vinho merece a avaliação, com a frase:

-Foi um ano excepcional.

Aquele ano para mim também foi um ano assim. Nem faço questão de lembrar que ano era.

Estávamos numa situação e época, onde tudo era excepcional, o local, o ano, as pessoas.

E apenas dois jornalistas podiam fazer notícias ou falar sobre o fato, era um projeto da Companhia Jornalística Caldas Júnior com o grupo Habitasul, não existia para os outros veículos de comunicação do estado e do país.

Só para nós.

Exclusividade de Jaime Copstein, pelo Correio do Povo e eu que cobria pela Folha da Tarde.

E as pessoas ali presentes. Essas sim, eram maiores que qualquer vinho que eu já houvesse provado. Andavam pelos salões do Hotel Laje de Pedra, em Canela, alguns dos mais importantes escritores que esse país já teve..

Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Callado, Josué Guimarães, Pedro Paulo Luft, Ziraldo, Fernando Sabino, Millor Fernandes.

Claro, você olha no tempo e vê, alguns dos nomes acima e se pergunta, que significado tem em nossa literatura, hoje?.

Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, homens que inventaram a crônica no Brasil? Ziraldo e Millor ainda estão vivos e os outros?

Sei lá aonde andam.Deixaram a mídia, foram esquecidos por ela, e seus livros?

Que importância tem?

Se você nunca os leu,bom, lamento.

Antonio Callado, com um bigode parelhinho sobre a boca, vivendo num silêncio de tanto sofrimento em sua vida pessoal naquele momento, que andava pelos corredores do hotel fazendo juz ao sobrenome. Alguém aí leu Reflexos do Baile e Quarup? Jornalista, um dos raros brasileiros que pertencia ao Corpus Christi College, da Cambridge University, local, também, um dia, frequentado por Christopher Marlowe e John Fletcher.

Bebida liberada.

Já contei em outro blog, comecei a beber com Paulo Mendes Campos às 11 da manhã, no bar do hotel, e era 11 da noite continuávamos bebendo e falando, do quê? Só Deus sabe e Vinícius de Moraes.

Não é ficção, Paulo Mendes fazia parte de um grupo da qual Vinícius era mais um personagem.

Na nossa mesa sentou um dicionarista famoso no Estado,com a esposa literata e tentaram conversar conosco, mas não conseguiram, nenhum dos dois estava bêbado o suficiente para conseguir falar conosco.

E, o Paulo me falou do Drumond que tinha uma problema de pele que só o azeite santo poderia curar. Sabe aquele azeite que queimam na igreja?Aquele.

E, mais, Rubem Braga, aquele cronista fantástico, maravilhoso, detestava cebola, mas detestava tanto que quando sua empregada chegava da feira ele examinava a bolsa para ver se ela não trazia nenhuma escondida.

De noite, na mesa de sinuca, Pericles Druck, puxou um charuto cubano e desafiou Ziraldo a mim, entre outros, para um jogo a dinheiro.

De noite, na mesa de fondue, o autor de um livro que tem mais mineiros que ele só,cita-os todos, fala nervosamente comigo que não consegue ler nenhum best-seller, pede para alguém de sua confiança ler e depois fica com a certeza que aquilo desaparece no tempo.

Ele não, ele escreve para o tempo, como menino que sempre fora.

O vinho de ano excepcional.

Porque escrevi e reescrevi isso?

Porque acho que a crônica é uma obra de arte interminável.

Falo da verdadeira crônica.

Aquela que Rubem Braga e Paulo Mendes Campos foram mestres em criar, onde não existe cópia de outros autores, nem descrições desnecessárias, nem sentimentozinho barato do eu vivido. Essa crônica verdadeira dura um instante, eternamente. Acredito que sua função não é fazer rir, ou surpreender o leitor. Mas fazer um corte no tempo, tão preciso, tão forte que é capaz de fixá-lo como a um quadro na parede, de maneira que se você olhar para ele é capaz de vivenciá-lo como se estivesse presente quando ele foi feito ou quando ela foi escrita ou ainda, o que nela estava escrito.


Rubem Braga- foto de autor desconhecido
http://www.releituras.com/rubembraga_bio.asp

12/27/2009

Intelectuais estelionatários

                                                                                       


   Da paixão de um cocheiro e uma lavadeira


  Tagarela, nasceu um rebento raquítico.


   Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.


   A mãe chorou e o batizou: critico...*

                                  Vladimir Maiakovski



A consagração da expressão 171 do Código Penal para o crime de estelionato, tem sido muito utilizada para designar os crimes políticos- financeiros que têm ocorrido com assídua frequência em nosso país.

Outra aplicação perfeita para essa expressão, que utilizo aqui pela primeira vez, é a dos intelectuais estelionatários. E, estelionato literário, o grande volume de publicações que alimenta as prateleiras do comércio livresco das editoras, bienais, megastores, ávidas de títulos rápidos e de fácil digestão como chessburguer e quanto mais decorativos melhor.

Frutos aparentes de uma “geração espontânea”, esses intelectuais estelionatários, surgiram no final da década de 80 e proliferam a partir da década de 90, mas diferente do que eles imaginam, são resultado, de uma Universidade paga, apática e descerebrada, e da Universidade Pública cassada, cujas razões no Brasil são bem conhecidas e de um ideal Fim da História de Francis Fukuyma.

Como para eles não há história, filhos das creches e da música da babá-televisão alimentados pelo He-man e amamentados pela She Ra, consideram que tudo que existiu pelos Poderes de Greyskull- antes deles, pouca ou quase nenhuma expressão ou significado teve.

Assim, começaram a reescrever a “história” da maneira mais pueril e desconexa possível utilizando instrumentos já vencidos de um enciclopedismo dogmático neo reciclado.

Novas histórias da literatura e dicionários regionais proliferam no país, bem como textos sobre descobertas fantásticas de novos autores contemporâneos isolados, ilhados, gênios autocráticos saídos do limbo como eles.
Critica Nem-Nem, nem um coisa nem outra, analisada por Roland Barthes em Mitologias que tenta incluir toda e qualquer referência desconhecida e não elaborada, num catálogo onde a cultura aparece dentre todas as coisas como deusa neutra, asséptica, moralmente palátavel  e comestivel. Qualquer critica que não se enquadre no molde, no modelo, no quadradinho, está excluída.Critica, mesmo, nem pensar, ação entre amigos, sim, de amigo para amigo, citação por citação, sempre favorável.

Essa raça de estelionatários invadiu a imprensa - ”Com um nariz grácil como um vintém por lauda - Ele cheirou o céu afável do jornal”- na consonância com patrões que sempre consideraram a critica, seja do que, e qual for, uma péssima facilitadora de bons negócios e negociatas.

Critica? Só a capaz de gerar chantagem para possibilidade de novos ganhos, escadas para posições mais elevadas.

Vigias de um jornalismo e uma literatura amorfa geraram pequenos monstros “Um enorme lacaio, balofo e bajulante”,- cevados e alicerçados em preconceitos escolhidos a dedo, dogmáticos e sem leitura, onde Joyce, Proust e um que outro latino-americano, formam o arcabouço básico, mais do que isso não é necessário, e tudo que não diz respeito a seu umbigo e dos seus, inexiste.

E, para estabelecer novas cortes, novas relações-redes, de iguais, para comentar e analisar o mesmo, a mesmice, para o ver e ser visto, escrever e ser inscrito no cânone da banalidade comercial, impuseram o uso intensivo da mídia e do marketing como novos deuses-abutres da comunicação literária.

Esse intelectualismo estelionatário está em pleno vigor e sem contraditores do porte de um Otto Maria Carpeaux, Antonio Cândido, Afrânio Coutinho, Manoel Bandeira, para citar alguns nomes respeitáveis com trajetória de dignidade contra essa maré de professores, doutores, jornalistas, escritores/cantores sem passado, que hoje infestam os salões e palcos bem vestidos, arejados, ventilados, repletos de maus versejadores e línguas presas da República.



Referências ao Poema Hino ao Crítíco
Trad. Augusto Campos- Antologia da Poesia Russa Moderna. Ed Civilização Brasileira

Foto: Vladmir Maicoviski, autor desconhecido

12/23/2009


É sempre bom lembrar o poema de Bertolt Brecht




                                                                 Bertold Brecht 

                                                             

Privatizado


"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.


É da empresa privada o seu passo em frente,


seu pão e seu salário. E agora não contente querem


privatizar o conhecimento, a sabedoria,


o pensamento, que só à humanidade pertence."






1)Arte Renato de Mattos Motta
2)Imagem de domínio público do Arquivo Federal Alemão do poeta Bertolt Brecht  - 1898 - 1956-

12/20/2009

Os quatro sábios da RBS e dinheiro para o Açorianos

O recente episódio que terminou na retirada do prêmio Açorianos de Literatura foi emblemático.

Mostrou que mesmo com todo o apoio de mídia, um servidor público tem obrigação de explicar suas atitudes aos cidadãos aos quais deve seu cargo. E podemos exigir dele esse tipo de atitude, pois não existe fortaleza nenhuma atrás de qualquer veículo de comunicação que o mantenha isento disso.

As justificativas dadas pelo secretário para retirada do prêmio ainda foram frágeis.

Um dos motivos apontados por ele é que “não ficaria bem, para transparência do evento”.

Esse não ficar “bem” me parece um tanto forçado quando se trata de algo absolutamente errado, senão irreal e talvez eticamente imoral, o ato da organização pública premiar a si mesmo por algo que faz parte de sua obrigação realizar. Até o ano passado o regulamento do Açorianos não permitia a participação de funcionários da Prefeitura.

E não foi uma “menção honrosa” que a Maratona recebeu, como frisou o secretário em entrevista a Bandeirantes, foi o prêmio Açorianos.

A explicação sobre a escolha de jornalistas “por notório saber” também deixa a desejar quando o secretário afirma em entrevista de tv que deverá ser mais cuidadoso na escolha dos integrantes nos próximos anos, escolhendo jornalistas também de outros veículos. Parece que não houve a percepção dele de que não se trata da participação equânime de veículos de comunicação, mas da forma privilegiada que isso foi feito.

Curiosamente os quatro sábios (“notório saber”) pertenciam, esse ano, a um único veículo de comunicação, ingenuidade na escolha? Falta de atenção, esse ano, do secretário para o assunto?

Quero crer que ele foi mal assessorado.

Entre dos quatro sábios (“notório saber”) da RBS que participaram do evento, um deles, além de jurado foi premiado.

Aqueles que participam como jurados podem ser premiados, mesmo que seja em categorias diferentes? Proponho que essa regra faça parte do regulamento do prêmio, se não estiver lá.

Mas afinal, existe um regulamento do Açorianos ou mudam-se as regras a cada ano?

Seguramente essa foi a única vez em toda a história de um prêmio, em caráter nacional, que ele é retirado pela comunidade cultural do Estado cansada de ver atitudes parciais do poder público como essa, que na busca da promoção pessoal esquece seus deveres para com a sociedade a quem deve sempre explicações.

O secretário também promete que até 2012 algumas categorias do Prêmio Açorianos serão contempladas em dinheiro.

Apenas promessa?Ou uma realidade para deixar todos os próximos concorrentes à premiação felizes? Acenar com recursos será uma boa atitude de quem foi colocado em um cargo público para ter ou exercer uma política cultural, ou cultura? Me sinto desrespeitado quando o poder público usando a prerrogativa de ter recursos na mão, que não são seus, os usa para prometer algo que talvez não possa cumprir.

Com relação a isso é preciso questionar alguns aspectos, porque a poesia deverá só receber a premiação em 2012 e não em 2010?Porque não todas as categorias? Quais foram os critérios que nortearam essa escolha e, de onde sairão os recursos para tanto, que até agora não existiam?

Para concluir gostaria de cumprimentar os jornalistas Felipe Vieira e Lúcia Mattos na demonstração que deram de que existe a possibilidade da realização de um jornalismo sério, responsável e que isso, em última análise, é o pleno exercício da cidadania que não se curva diante do poder exercido pelo Estado e nem dos poderosos veículos de comunicação.

Parabéns a todos que estiveram nessa batalha.

Em tempo: nenhum veículo da RBS noticiou a revogação do prêmio.

Marco Celso Huffell Viola

Fontes: Correio do Povo 18 de dez de 2009

Jornal da Bandeirantes – 19 h horas 17 de dezembro 2009

12/18/2009

Prêmio Açorianos tem que ser devolvido

Pela primeira vez se tem notícia, nesse país, de que um prêmio literário importante é dado e retirado, as razões podem ser entendidas pelas notícias abaixo e o histórico do fato.

Notícias e histórico

Link para a matéria da Tv Bandeirantes


http://www.bandrs.com.br/bandtv/index.php?n=11349&p=0
Link para entrevista Rádio Bandeirantes


Link para a matéria do jornal Correio do Povo

http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=72989

Correio do Povo

Arte & Agenda > Variedades
17/12/2009 20:54 - Atualizado em 17/12/2009 20:58

Destaque em prêmio Açorianos é revogado

Quatro dos jornalistas jurados eram da mesma empresa de comunicação
Depois de um início de polêmica, o prêmio Açorianos de Destaque em Projeto de Incentivo, Promoção e Divulgação da Literatura, concedido ao projeto Maratona Literária, da Coordenação do Livro e Literatura da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre foi revogado na tarde de hoje pelo secretário municipal de Cultura, Sergius Gonzaga. “Decidimos tirar dos registros dos vencedores este projeto porque achamos que não ficaria bem para a transparência do evento”, revela Gonzaga.O secretário esclarece que a escolha foi espontânea do corpo de 27 jurados e que irá enviar uma carta a eles, explicando os motivos do declínio. “Não havia impedimento no regulamento, mas decidimos não aceitá-lo”, ressalta. Em 1995, a revista Porto & Vírgula havia ganho o prêmio Destaque em Mídia Impressa.Sergius Gonzaga disse que por falta de cuidado na escolha dos jurados, quatro dos jornalistas convidados eram da mesma empresa de comunicação, mas que isso não refletiu diretamente em nenhuma das escolhas. “A escolha dos jurados é por notório saber, não pela empresa que representam”, explicou.Ele anunciou, ainda, que o prêmio Açorianos de Literatura terá prêmio em dinheiro nas próximas edições. A categoria Conto receberá um valor a ser confirmado em na edição de 2010, a Narrativa Longa, em 2011 e a Poesia, em 2012.
Correio do Povo link da notícia

http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=72989


Amigos

O Secretário Sergius Gonzaga informou na tarde de hoje (17 dez) a Band News e a jornalista Lucia Mattos que iria cancelar a premiação doAçorianos 2009 a Maratona Literária, em função desta ser uma atividade realizada pela própria secretaria e portanto não poderia ser premiada.Com essa atitude o secretário demonstra que está atento as ponderações que fizemos no texto sobre essa premiação e contou com apoio de vários intelectuais.Textos abaixo, na ordem de seu envio:


----- Original Message -----From: Marco Celso H.ViolaSent: Wednesday, December 16, 2009 3:22 PMSubject:

Maratona Literária-quando o Estado premia a si mesmo

Prêmio Açorianos- de 2009

Percebe-se que não existe nenhuma iniciativa importante na área do livro por parte do Estado, nesse caso o muncípio, quando ele premia a si mesmo por ter feito ou fazer aquilo que é sua obrigação.
O Prêmio Açorianos desse ano revela isso, a premiação da Maratona Literária como "Promoção e Divulgação da Literatura em Porto Alegre"-, a partir de indicação espontânea. Segundo consta existe um corpo de jurados para julgar as diversas categorias do Prêmio Açorianos e a essa, esse ano, soma-se uma curiosa"indicação espontânea". Depois de não ter recebido o Fato Literário de 2009, apesar do esforço realizado junto as urnas colocadas na Feira do Livro e fora dela -com funcionárias da Divisão do Livro destacadas para buscar votos junto aos frequentadores da Feira (se não me engano o dinheiro que paga esse pessoal é dinheiro de impostos) - percebe-se que existe por parte da direção da atual Divisão do Livro bem como adminstração cultural do muncípio a busca de promoção pessoal e de suas atividades e a inexistência total de um plano para a cultura de Porto Alegre onde repetem-se iniciatavas antigas como o Baile da Cidade- cujos custos de um único dia ultrapassam o valor do orçamento anual do Atelier Livre da Prefeitura. Até quando os intelectuais desta cidade vão permanecer integrando-se em atividades como essas sancionando-as sem nenhuma discussão? Está na hora de começar a dizer basta para o cumpadrio, para aqueles que fazem do dinheiro público escada para carreiras nem sempre bem explicadas ou com currículo para exercê-las. Marco Celso Huffell Viola

*Fonte a notícia do site da SMC-

Porto AlegreEm 16/12/09, Celso Sant Anna<celsoluizsantana@hotmail.com> escreveu:

Prezado Marco e demais As políticas em âmbito da capital e do governo do Estado na área da Cultura não respiram o que é feito no teatro, música, poesia e por aí vai. Sabe, índio véio, é de desanimar. Nós que transitamos pela construção diária e de formiguinha no mundo das artes, não estamos em consonância com os "grandes projetos" reforçados por setores da mídia que associam o fazer cultural com sucesso. Sucesso esse, que está a serviço de reforçar um status quo, sem um mínimo de questionamento. Há, praticamente, uma censura velada ao diferente.
O que vale é o grande, com ampla repercussão, e o tradicional, ambos com a função de reforçar valores cristalizados. Existe espaço para todos, mas quando Cultura é um valor tratado pelo enfoque da diversão apenas, aí épreciso refletir. Buenas, acho que peguei leve. Abraços Celso Lembre-se: O meu pensamento vivo você encontra em: http://twitter.com/CelsoSantAnna-----

Original Message -----From: "Renato Motta" <renato.mattos.motta@gmail.com>
Subject: Re: Maratona Literária-quando o Estado premia a si mesmo

Amigos,

Faço minhas as palavras do Celso! Não apenas é vergonhosa e imoral abusca de autopromoção através do aparato público. Acho importanteressaltar que "aquilo que é obrigação" de uma secretaria de Cultura ouuma Divisão desta secretaria fazer não pode ser passível de premiaçãopor esse próprio órgão, ainda mais quando quando a obrigação não écumprida e o serviço resulta mal feito.Do que falo?Falo de um evento que conheci, tendo participado das primeiras 2 ou 3edições, que supostamente deveria "promover e divulgar a literatura emPorto Alegre", que aconteceu no Centro Municipal de Cultura, local debaixa circulação de populares, reunindo um grupo seleto de literatos,artistas plásticos, músicos e membros da "inteligentzia"portoalegrense para lerem "Cem Anos de Solidão", "A Metamorfose", "OsRatos" ou "On the Road", livros que - assim como eu - a maioriadaquelas pessoas já leu há mais de 30 anos... quando percebi que oreferido evento não passava de um convescote de notáveis para ver eser visto, que não produzia efetivamente qualquer contribuiçãocultural, deixei de frequentar. Ainda mais quando tive o desprazer dever as funcionárias da Divisão do livro em plena tarde de um dia desemana empenhadas em arregimentar votos populares para fazer daMaratona o "Fato Literário" em detrimento de outros projetos que mepareceram muito mais meritórios e conseqüentes...Não conseguiram o Prêmio Fato Literário. Fazer o que? Usar o PrêmioAçorianos? Este não há como perder, é só mexer pauzinhos, criar uma"indicação espontânea". Não interessa se isto pode denegrir a imagemde um prêmio que até hoje era tido como digno de respeito. Nãointeressa se a ética mandaria recusar mesmo se o júri tivesse sidorealmente espontâneo ao dar esse prêmio. Interessa a satisfação dasvaidades. Interessa a autopromoção. O odor do incenso aceso em causaprópria, o gozo de ganhar um prêmio pela própria mão.E a Cultura, a verdadeira cultura de Porto Alegre?Esta precisa mendigar verbas, esmolar uma centena de cartazes daqui,um xerox dali, ao custo de colocar medalhas de apoio em eventos sériosque o poder público apenas finge apoiar--Renato de Mattos Mottapoeta, artista plástico, publicitário(51) 3024-6221(51) 9237-5646

De: mar.rio <mar.rio@terra.com.br>Assunto: Re: Re:

Maratona Literária-quando o Estado premia a si mesmo
Data: Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009, 15:53

Olhem, amigos,nosso querido bardo Quintana já dizia que o problema da literatur
agaúcha era a "semostrância".Agora, mais esta atitude coronelista da administração de Porto Alegre,uma cidade abandonada aos buracos e descuidados.Como escritor, infelizmente, não posso me valer de entidade alguma
para discutir sobre isso.
Posso falar por mim, e devo pedir esclarecimentos aos envolvidos, como
cidadão, mas na possibilidade de uma resposta não acredito. Acredito
nas pessoas, não dou crédito aos trocados negociados por algumas.
Não poderia esperar nada menos insólito da secretaria de cultura dePorto Alegre, uma cidade atirada aos descalabros.
Sem que estejam lançados os dados do imaginário,
todo e qualquer
sistema político é ineficiente e precário.

Ainda, e além, há quem queira que esse estado de coisas tome assentos
no palácio do Governo Estadual.
O senhor do tempo nos livre disso, a nós, poetas, atores, dançarinos,artistas visuais, músicos e habitantes desta cidade cercada por muros.
Resta rogar ao Papai Noel que devolva o bom senso ao momento e ao
movimento criativo da província. Papai do Céu não irá tratar dessasegolatrias.Corpo Santo e Sepé Tiaraju, estavam certos: esta loucura tem dono!Mario Piratapoeta & brincadeiroEstrada Luiz Bettio, 70(Chapéu do Sol, Belém Velho)Poa, RS, CEP 91787-110(51) – 98144841http://mariopirata.blogspot.com/

Revogado o Prêmio Açorianos 2009

O texto abaixo iniciou a discussão virtual e com os veículos de comunicação de Porto Alegre que resultou na retirada do Prêmio Açorianos de Literatura para a Maratona Literária de 2009-na categoria de incentivo a leitura, pelo secretário Sergius Gonzaga.

Link para a notícia

http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=72989

Prêmio Açorianos- de 2009 *

Percebe-se que não existe nenhuma iniciativa importante na área do livro por parte do Estado, nesse caso o município, quando ele premia a si mesmo por ter feito ou fazer aquilo que é sua obrigação. O Prêmio Açorianos desse ano revela isso, a premiação da Maratona Literária como "Promoção e Divulgação da Literatura em Porto Alegre"-, a partir de indicação espontânea.
Segundo consta existe um corpo de jurados para julgar as diversas categorias do Prêmio Açorianos e a essa, esse ano, soma-se uma curiosa "indicação espontânea".
Depois de não ter recebido o Fato Literário de 2009, apesar do esforço realizado junto a urnas colocadas na Feira do Livro e fora dela -com funcionárias da Divisão do Livro destacadas para buscar votos junto aos frequentadores da Feira (se não me engano o dinheiro que paga esse pessoal é dinheiro de impostos) - percebe-se que existe por parte da direção da atual Divisão do Livro bem como administração cultural do município a busca de promoção pessoal e de suas atividades e a inexistência total de um plano para a cultura de Porto Alegre onde repetem-se iniciativas antigas como o Baile da Cidade- cujos custos de um único dia ultrapassam o valor do orçamento anual do Atelier Livre da Prefeitura.
Até quando os intelectuais desta cidade vão permanecer integrando-se em atividades como essas, sancionando-as sem nenhuma discussão?
Está na hora de começar a dizer um basta para o cumpadrio, para aqueles que fazem do dinheiro público escada para carreiras nem sempre bem explicadas ou com currículo para exercê-las.

Marco Celso Huffell Viola

15 dezembro-2009

*Fonte da notícia do site da SMC- Porto Alegre

6/12/2009

A diferença entre produtor cultural e despachante cultural

Aonde são aplicados os milhões que a Cultura e o Esporte recebem das loterias?

As leis de incentivo a cultura, tanto nacionais como regionais (Lei Rouanet e leis de incentivo a cultura) terminaram por criar uma nova profissão que por falta de uma melhor designação passou a ser chamado de “produtor cultural”. Mas, na verdade, esses “produtores culturais” nada mais faziam/fazem do que preencher corretamente a papelada que visa encontrar a liberação legal para que o verdadeiro produtor cultural possa arrecadar recursos ou das empresas ou do sistema de financiamento estatal, sem nenhuma garantia de efetividade. A correção dos dados exigidos pela lei não significa o acesso à verba.
A atividade, na maioria das cidades brasileiras onde a cultura não possui recursos e necessita de financiamento, para fazer livros, jornais, revistas, cinema, teatro,etc, virou um negócio mantido por especialistas capazes de enfrentar a papelada com as absurdas exigências legais (que não eliminam o suborno, o lobby, a transferência de recursos para as mesmas empresas que dizem financiar os projetos culturais) e pago com percentual dos recursos arrecadados, quando não antecipadamente.
Com relação aos milhões que a Cultura e o Esporte recebem das loterias, por exemplo, não se tem uma prestação de contas, pública, efetiva para a sociedade da aplicação desses recursos, enquanto isso os verdadeiros produtores culturais, aqueles que produzem cultura, têm que ficar na mão desses “especialistas nos meandros burocráticos” para depois mendigar junto a empresas e instituições e assim conseguir realizar o seu trabalho de produzir cultura, quando conseguem vencer a barreiras de gerentes e marketeiros de plantão que manipulam o chamado dinheiro público. Convém começarmos a estabelecer a diferença entre produtor cultural e o mero despachante cultural, (é preciso enfatizar várias vezes isso), o produtor cultural é o que produz cultura, o outro, o despachante cultural é o indivíduo especialista que sabe como preencher a papelada para conseguir ter acesso a liberação das verbas públicas ou leis de incentivo.
Também os apressados em dar designações simples, associam esse despachante ao produtor de cinema, teatro, e até de televisão, nada mais incorreto, o produtor, aquele que produz, reúne elenco, busca recursos, etc, corre riscos sempre, enquanto o único risco do despachante cultural pode ser uma vírgula mal colocada na papelada exigida pelo sistema burocrático, sem falar que recebe antecipadamente pelo serviço. Então, para caracterizar melhor essa função é importante distinguir: O produtor cultural corre riscos, o despachante não tem risco.
O despachante é uma profissão digna e que existe em vários áreas sociais, em Estados excessivamente burocratizados e que sobrevivem como, despachantes aduaneiros, de papéis para trânsito, contadores -que preenchem o imposto de renda-, etc ou seja é aquele sujeito que conhece os meandros burocráticos e preenche a papelada necessária para que essa ou aquela atividade possa ser realizada dentro da lei.O despachante cultural definitivamente não produz cultura, quem produz cultura é quem faz cultura.

2/28/2009

Worksopa de Letras

O Porto Alegre dá Poesia acontece pelo segundo ano em março de 2009, o encontro que reúne poetas de Porto Alegre, além de resgatar a obra de alguns poetas que já exerceram sua arte na cidade também abre espaço para os contemporâneos.Esse ano, no encerramento acontece o I Worksopa de Letras, uma mistura de ritmos, falas, dizeres, amostragens pessoais e impessoais dos poetas presentes ou até os ausentes se na mesa de trabalhos baixar algum.Informações sobre a programação no http://portopoesia2.blogspot.com/

2/23/2009

O Novo Clássico,as Novas Lógicas e os Críticos Teóricos do Passado

Esse texto foi utilizado em duas palestras, na Feira do Livro de novembro de 2007, no Porto Alegre dá Poesia em março de 2008 e faz parte dos livros Poesia Política e o Livro Negro dos Bardos, do autor.
O século XX foi pródigo em mudanças não apenas na arte, mas ideológicas, políticas, sociais e tecnológicas que alteraram a face do mundo.As grandes mudanças que, na arte, começaram a ocorrer já no final do século XIX desaguaram todas no século XX.
Já falei aqui sobre a não existência de uma nova poesia, mas de uma poesia contemporânea e o meu completo desprezo pelas análises literárias classificatórias não apenas na poesia, mas na arte em geral, que segue os modelos mecanicistas dos enciclopedistas franceses do século XVII e suas derivações sociológicas.
Hoje, todos os professores bem sentados em suas cátedras, e críticos de arte, em sua totalidade têm, (quando tem, a maioria não têm nada) dois modelos de análise ou duas bíblias - uma, a do sociólogo húngaro Arnold Hauser,aluno de Bérgson e frequentador do círculo de Lukács e o seu falho História Social da Literatura e da Arte (2 volumes ed. Mestre Jou).
Talvez uma das melhores contribuições de Hauser a compreensão da arte seja a sua constatação da noção do artista na Renascença, nesse período, diz ele: "acontece a descoberta do conceito do gênio e a ideia de que toda a obra de arte é criação de uma personalidade autocrática, que esta personalidade trancende a tradição, a teoria e as regras." (2). O que Hauser não havia percebido é que as diferentes noção do artista como criador haviam sofrido várias alterações ao longo dos séculos e, em algum casos passavam longe da questão econômica, mas obedeciam a fatores como religiosos, ou apenas culturais. Os egipícios possuíam uma noção do artista completamente diferente dos gregos, os artistas das guildas outra noção, e a Renascença marcou mesmo essa distinção, da Vinci frequentou os ateliers de Verocchio,Ucello e tornou-se uma artista inqualificável, que transcendia aos seus contemporâneos, dai a constatação de Hauser, dessa autocracia do artista e sua obra, não dependendo e sendo produto,única e exclusivamente, do meio.
Todos, eu disse todos, os livros de formação em uso no segundo e terceiro grau no Brasil utilizam as conclusões sociológicas de Hauser como base teórica para análise artística seja literária ou não, aliás,a obra de Hauser por seu fôlego, ele passou dez anos pesquisando, mapeia de forma bem eficiente a arte européia e, é utilizada como base teórica não só no Brasil.
Com relação a literatura, a segunda bíblia é novo Literary Criticism do tcheco norte-americano René Welleck (1915-1978) Livro - Teoria Da Literatura e Metodologia Dos Estudos- Ed.Martins Fontes- esse último, Walleck, criou as distinções entre história literária, literatura comparada e critica literária do que antes dele era tudo metido no mesmo formulário, ele também, não é só usado no Brasil.
Em entrevista realizada recentemente, o autor do Ócio Criativo, Domenico Di Masi [2), afirma que no século XX o conceito de beleza foi destruído e cita como exemplo um quadro de Mondrian:” como podemos saber se é feio ou bonito? diz ele - já que esse conceito foi destruído”.
Domenico ao fazer esta afirmação corrobora a sua formação de sociólogo, europeu formado nas barbas de Hauser e completamente equivocado. O século XXI não rompeu com o conceito da beleza, ao contrário, acrescentou novas visões/padrões a noção de beleza.
A grande questão nisso é que arte no século XX rompeu foi com o clássico, mas não rompeu completamente com o acadêmico. E o acadêmico não rompeu com a visão acadêmica,apenas digeriu mal essas análises sociológicas e adaptou os seus pré-conceitos.
E a questão retorna, a visão acadêmica se mantém através da tradição universitária.E essa por sua vez está ligada na formação clássica e nesse aspecto não houve nenhuma grande mudança, nenhum grande rompimento.
Um natural da pré-Itália de Domenico, Horacio Flaco (3) já possuía preocupações semelhantes quando falava sobre as relações harmônicas que devem existir em uma obra e arte e utilizando a poesia e as artes visuais como exemplo:

Harmonia e proporção entre as partes da obra poética


Se um pintor à cabeça humana unisse
pescoço de cavalo e de diversas
penas vestisse o corpo organizado
de membros de animais de toda a espécie,
de sorte que mulher de belo aspecto
em torpe e negro peixe rematasse
vós, chamados a ver esta pintura,
o riso sofreríeis? Pois convosco
assentai, ó Pisões, que a um quadro destes
será mui semelhante aquele livro
no qual idéias vãs se representam
(quais os sonhos do enfermo), de tal modo,
que nem pés, nem cabeça a uma só forma
convenha. De fingir ampla licença
ao poeta e pintor sempre foi dada.
Assim é; e entre nós tal liberdade
pedimos mutuamente, e concedemos;
mas não há de ser tanta, que se ajunte
agreste çom suave, e queira unir-se
ave a serpente, cordeirinho ao tigre. (4)



Toda a obra de Horácio estava ligada ao clássico grego, por isso sua critica contundente a tudo que não obedece aos padrões da arte clássica, já naquela época.
Alexandre Baumgarten (1714 –1762) filósofo alemão, discípulo de Leibnitz, em seu Meditações Filosóficas sobre Alguma Questão da Obra de Arte de 1735- é quem designa pela primeira vez o termo estética e dá a ele o sentido que deveria ter, mas não tem: “visão que trata do conhecimento sensorial capaz de possibilitar a apreensão do belo através das imagens da arte, em contraposição a lógica do intelecto”.
A estética, ao retirar a lógica do âmbito da análise da obra de arte, deveria retirar os conceitos de feio ou bonito, bem ou mal ou qualquer outra visão maniqueísta baseada na lógica aristotélica, do terceiro excluído, mas não é o que acontece, basta reler a opinião de Domenico Di Masi.
A responsabilidade pelo não entendimento, compreensão e análise apressada que sofre a obra de arte a partir do século XX se deve a esse fator, a formação clássica em contraposição a uma arte que rompeu com o padrão clássico. Ou seja, você analisa de forma clássica algo que não é mais clássico, onde ainda estão envolvidas as noções defendidas por Horácio de ritmo, proporção e harmonia.
E, então, você têm críticos, professores, enfiando na obra de arte essas noções clássicas sob o ponto de vista do realismo socialista, do socilogues, de visões cienticifistas da recorrência do fenômeno, etc.
Pergunto: adianta separar história literária, literatura comparada e critica literária se a visão critica seja qual for utiliza a antiga lógica aristotélica clássica, bom ou ruim, feio bonito etc, mesmo camuflando através de textos pretensamente eruditos, mas profundamente adequados a formação clássica?
Não.
Enquanto do lado ocidental os padrões do clássico eram rompidos o mesmo não ocorreu com a arte oriental que se manteve ligada as suas tradições também ancestrais, mas ao cair nas mãos desses tradutores, professores, críticos, sofrem a mesma aplicação da lógica de análise empregada para identificar a obra de arte ocidental. A ponto de Basho, por exemplo, ser designado como naturalista.
É bom começar a saber, esses teóricos do passado, que no século XX surgiram novas lógicas,como a do lógico brasileiro Newton da Costa- lógica paraconsistente que admite a noção de conceitos incertos e contraditórios e a lógica fuzzy (lógica difusa) criada pelo professor de computação da universidade da Califórnia o norte-americano/irianiano -Lotfi Zadeh- que admite conceitos difusos como, por exemplo: o dia hoje está nublado, em vez do dia está claro ou escuro, feio ou bonito.
Ambas as lógicas derivam da lógica clássica, e se precisamos de lógica para buscar entender o mundo que vivemos ou a arte, é necessário saber que a lógica aristotélica teve o seu prazo de validade estourado para a análise da arte. O século XX a esgotou, assim como a análise cultural social, baseada nela.E não há bobagem nenhuma de pós modernidade que a recupere, outro termo que ao criticar o discurso, deriva do padrão de discurso mecanicista clássico.
Acredito que século XXI traga uma nova visão que, talvez, se torne um novo clássico buscando através dessas novas lógicas, a soma que houve na arte, da visão clássica com a ruptura ocorrida no século XX.
Alguém é capaz de dizer que não reconhece as contribuições ao teatro de Samuel Beckett e Eugene Ionesco?O teatro de ambos conviveu de forma harmoniosa com o teatro de Brecht, no século XX, assim como a obra de Joyce e Tomas Mann. O mesmo aconteceu com as artes visuais.
E a poesia? Os primeiros estertores do clássico começaram a ocorrer no final do século XIX com Rimbaud, Baudelaire, etc. Marineti, em 1907 deu o passo seguinte, ou o pontapé seguinte, depois vieram os dadaístas e os surrealistas, esse último capitaneado por André Breton, que depois terminar com o que havia e propor novas formas, objetos para apoiar o texto, reuniu-se em torno do realismo socialista.
Nada de novo surgiu na sequência, modernismo, concretismo e os outros ismos, poesia praxis, etc. foram derivações dessas vanguardas. Deixo claro aqui que não estou fazendo nenhuma apreciação sobre o conteúdo desses autores e sim dos movimentos.
Sobreviveu o paradoxo: o que é importante? Se tudo é importante? Onde está a nova harmonia? O novo ritmo, a nova proporção?
Inexistem, porque torna-se impossível aplicar em algo que não obedece a esses parâmetros, sobra então para a análise, o conteúdo, esquecendo a forma e o historicismo.
O soneto clássico sobreviveu, assim como o verso livre, como a rima pobre e rica junto com os poemas objetos,o poema piada, entre outros.
Ao esquecer a forma é necessário também esquecer a linguagem, (5) alguns sonetos de Camões são tão belos quanto eram no século XVI, apesar da linguagem hoje ser outra.
Sobra, então o conteúdo, volto a repetir.
Se é bom ou mau, se está de acordo com essa ou aquela escola, não importa.
É preciso separar a lógica da razão clássica da, talvez, ilógica compreensão da arte ou arte tenha sua lógica própria no que só ela pode acrescentar ao homem em sua relação com o universo.

















1)Arnold Hauser- História Social- pag 432
2)Conexão internacional
3)Quinto Horácio Flaco ( Quintus Horatius Flaccus) (Venúsia, 8 de Dezembro de 65 a.C. — Roma, 27 de Novembro de 8 a.C.) poeta lírico e satírico romano e filósofo.cConsiderado um dos maiores poetas da Roma antiga- O texto chamado Arts Poética tem como título original Epístola aos Pisões (cidade romana situada hoje no território de Portugual)
4) Tradução Cândido Lusitano
5) Não se trata aqui de analisar o avanço diacrônico da língua.

2/18/2009

O maior poeta brasileiro de todos os tempos?





Como esse artigo escrito em 2007 não perdeu a atualidade,resolvi editá-lo agora. O artigo acima o elucida melhor.



Em artigo publicado no jornal Zero Hora dia 18 - 9 -2007 A Dura Vida de Poeta, o professor Luis Augusto Fischer ao falar de poesia cai na vala comum dos críticos maniqueístas oriundos das escolas de análise, quando não historicistas-sociológicas derivadas Arnaldo Hauser [1], usam a lógica maniqueísta aristotélica e não procuram ou não sabem observar as distinções entre história literária, literatura comparada e crítica literária, criadas a partir dos trabalhos do tcheco-norte-americano René Welleck [2] (1915-1978), que gerou campos de estudos distintos e uma ciência da literatura do que antes era uma unidade na “Literary Criticism” ou Literatura Crítica.
No texto, o professor Fischer, usa a lógica aristotélica do terceiro excluído.
Nessa lógica binária, só cabem dois parâmetros: bom ou mau; melhor ou pior; fácil ou difícil – etc.
Segundo ele afirma no artigo :“ao contrário das outras artes, a poesia sozinha, sem a parceria da música e/ou da performance teatralizada, é uma atividade sublimamente difícil”.
Ele fala como se poesia fosse uma atividade que necessitasse de complementaridade para se tornar fácil.
Eis a lógica maniqueísta: fácil x difícil.E a confissão da quase impossibilidade de compreender a poesia.
E continua: “Do ponto de vista mais cético, (?sic) se poderia dizer que assim é porque os poetas não tem a habilidade de formar a sua audiência, por deficiência própria, porque os bons a encontram.”
Não é uma maravilha de frase?
Uma generalização completa (quem seriam os deficientes, os bons, quem seriam os poetas?Todos os poetas?).
Haveria poetas bons? Porque o uso do plural aqui? Ele considera apenas um poeta como o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Que outros poetas, segundo ele teriam essa audiência?
Fischer parece que não lê poesia, ou se lê não a entende ou ainda, não se esforça para entender, há uma outra confusão sobre a questão da audiência, outra simplificação.
Do ponto de vista histórico, a poesia subsistiu oralmente durante séculos, foi a base e viga mestra de todos os outros gêneros literários incluindo o teatro (a teatralização da poesia já existia no início dela, sendo caminho natural da mesma), o romance e o que derivou deles.
Qual seria a audiência de um Homero? De François Villon? De um Dante de Alighieri? Lamentável essa visão que desloca a análise para a poesia de audiência,como se poesia fosse mais uma questão de ruído e mídia, como se o importante estivesse no volume ( nos dois sentidos, volume de quantidade e audiência, de áudio) e não na qualidade ou outro fator um tanto “mais” nobre, como a cultura, por exemplo.
Existem várias simplificações, no texto, absurdas para alguém que escreve, o autor do artigo pergunta "quem são os antagonistas relevantes de agora"? Referindo-se a criação poética de Drumond que enfrentou "inimigos" como o parnasianismo, etc. o professor esqueceu as aulas referentes ao modernismo e da profunda sensibilidade do poeta.
Como se o enfrentamento de algum movimento ou o que quer que seja provoque a verdadeira criação poética.
O que os poetas hoje tem a enfrentar?
Críticos como esse, talvez seja uma boa resposta.
A leitura livresca do autor do artigo parece ser um tanto rala, pequena, pois ao considerar “Carlos Drumondd de Andrade o maior poeta brasileiro de qualquer época”, enfatiza no texto uma visão pessoal empobrecedora da literatura brasileira, num reducionismo lamentável para um professor, que esquece os grandes poetas que fizeram nossas letras e, como via de consequência estão nos pilares desse país, possibilitando que tivéssemos fala própria (identidade) como Gregório de Mattos Guerra, Gonçalves Dias e sua Canção do Exílio, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manoel Bandeira,Cecília Meirelles,Vinícius de Moraes, João Cabral de Mello Neto, o nosso Mario Quintana e tantos outros...

Poesia é um gênero literário que não se mede utilizando os mesmos instrumentos com os quais se mede as três dimensões, estatística é outra área e lógica simples e reducionista também.
Uma boa sugestão para o professor Fischer é remeter o nome de Drumond para o Guineses Book incluí-lo como “ o maior poeta brasileiro de qualquer época”, para ver se eles o registram assim.
Difícil.
Eles, no mínimo, teriam o bom senso de procurar equipará-lo a outros poetas brasileiros.





[1] Arnold Hauser-História Social da Literatura e da Arte Ed. Mestre Jou- São Paulo 1982
2 René Walleck e Austin Warren -Teoria da Literatura -Ed. -America-Portugal-Lisboa -1972

Poema de Nei Duclós

É difícil ficar indiferente a um poema desses do meu companheiro de jornada, em 2009 comemoramos, realmente, 40 anos de estrada.
Celso, poeta:
Tudo o que falas tem valor
teu berro na sala
tua voz na caverna do Tempo
Tudo o que dizes,
fica semente comum que frutifica
floresta futura, rebento
Tudo o que apagas,
some e o que lembras,
volta o alto mar
dispõe o porto
Tudo o que tocas, vinga
em gerações de tormenta
cidade e montanha, escutam
Por isso teu rosto carregado de velas
teus braços em eterna colheita
tua poesia que nos sustenta
Esse é o tamanho do que semeias
a intensidade do teu canto
a direção, fecunda, do teu vento
Esse é o poema feito pessoa
povo, nação, endereço
Esse é o dom do recomeço

1/02/2009

Oliveira Silveira

Não sei se alguém mais vai saber direito o que falo aqui,são poucos os destinatários, um é o Nei Duclós, o outro é ele mesmo.
Os outros são fantasmas que estiveram concosco numa leitura de poemas, há 4o anos atrás.



Nei!
To aqui pasmo com essa do Oliveira, que nós conhecemos desde que éramos crianças.Foi no XIXI de Março (era assim mesmo que chamavam) na Sarmento Leite, no Centro Acadêmico da Medicina-o Frankilin, estava com um problema qualquer que não poderíamos ler lá os nossos poemas, a sala do XIXI estava lotada,inclusive com os policiais de sempre- era agosto de 1969- 40 anos atrás- eu li um poema que usava como epígrafe um verso de Leopoldo Sanghor, quando alguém, no fundo da sala, com uma voz grave me corrigiu, e a partir dali esteve presente em várias etapas da minha vida, Oliveira Silveira.Ele sempre foi maior do que aparentava.Foi porta-bandeira numa clara manhã de carnaval.E, esteve conosco no Porto Poesia 1 e 2.Oliveira um grande abraço de coração.Celso

12/18/2008

Porto Poesia recebe Troféu Açorianos

O Porto Poesia recebeu no ultimo dia 15 de dezembro Troféu Açorianos de Incentivo a Literatura e a Leitura da Secretaria de Cultura de Porto Alegre o mais importante e representativo prêmio de literatura do Estado do Rio grande do Sul. O evento realizado no mês de outubro, reuniu em Porto Alegre nas depedências do Shopping Total, mais de 100 palestrantes, entre poetas, oficineiros, professores,etc. Na ocasião, também foram feitos lançamentos de livros, exibidos filmes e performances e contou com a presença também de autores de outros Estados. E, 2009 o Porto Poesia deverá prosseguir na sua terceira edição também no mês de outubro.

7/25/2008

PortoPoesia lança parceria com o Shopping TOTAL


Na ocasião foram apresentadas as novidades da segunda edição do festival de Poesia de Porto Alegre, que ocorre de 06 a 12 de outubro de 2008. Além disso, também foi lançado também a primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte.



No dia 16 de julho foi lançado a segunda edição do PortoPoesia – Festival de Poesia de Porto Alegre, com apresentação das novidades que o evento traz neste ano, entre elas, a parceria com o Shopping TOTAL, que sediará toda sua programação. Esta parceria foi oficializada durante o evento, com assinatura de termo de colaboração entre a organização do festival e representantes do Shopping.
A parceria entre o PortoPoesia e Shopping TOTAL se insere no novo conceito do Shopping, em valorizar a cultura, iniciado com o projeto de Lifestyle que está transformando o conjunto de prédios tombados da antiga Cervejaria Bopp, em espaços para diversas expressões da arte, com operações exclusivas distribuídas em alamedas e largos temáticos. De acordo com Marco Celso H. Viola, um dos realizadores do evento, essa parceria “desacraliza a poesia, tirando-a de dentro das livrarias e colocando-a num dos espaços mais tradicionais e belos da cidade, ao alcance de todos os públicos”.
Durante o evento, também foi lançado primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte, uma publicação cultural que visa resgatar a tradição do jornalismo literário no Estado, abrindo espaço para a divulgação da produção local. O jornal possui um Conselho Editorial, composto pelos gestores do PortoPoesia, que elegeu três gêneros prioritários para publicação: poesia, conto e ensaio. O jornal, em formato tablóide, possui 12 páginas e terá periodicidade mensal e distribuição gratuita.

A segunda edição do festival PortoPoesia será realizada de 06 a 12 de outubro de 2008 e contará com uma programação intensa que contempla 12 palestras, 22 sessões de leituras de poesia, 4 rodas de poesias para crianças, 14 performances, 11 debates, 12 espetáculos, 10 oficinas, diversos lançamentos, sessões de autógrafos, saraus, apresentações livres, sessões de cinema e exposições de acervos, entre elas uma Mostra Nacional de Revistas de Poesia. Serão 10 horas diárias de atrações totalizando 85 apresentações em 70 horas de atividades culturais. A organização estima a participação de mais de 8 mil pessoas, durante o evento. Até o momento, mais de 50 profissionais da área da cultura e poetas confirmaram suas presenças no comando das atividades, entre eles, Armindo Trevisan, Donald Schüller, Alcy Cheuiche, Lau Siqueira, Luiz Coronel, Oliveira Silveira, Paulo Custódio, José Eduardo Degrazia,Mario Pirata, entre outros. O evento acontecerá em diversos espaços do Shopping Total. Como na edição anterior, a programação é gratuita e aberta ao publico.
O PortoPoesia é um festival de poesia concebido da união dos poetas locais, com o objetivo de abrir espaço para as produções gaúchas e tornar conhecido este importante gênero literário, a fim de democratizar a informação literária em Porto Alegre. A idéia é mobilizar pesquisadores, professores universitários, escolas de ensino médio, tradutores de poesia, profissionais do teatro, músicos, artistas plásticos, letristas, e poetas convidados, propiciando o acesso à cultura e educação, estimulando o desenvolvimento do gosto literário em crianças, jovens e no público em geral.
Além do Shopping TOTAL o PortoPoesia conta com o apoio das Secretarias de Educação e Cultura de Porto Alegre.

6/28/2008

Exumando pó ou o filho do barbeiro de Fernando Pessoa

Marco Celso Huffell Viola


A mídia e um círculo de parasitas que navega entre as academias adora comemorar, festejar a obra de autores, sejam quais forem, e os centenários,então, são o motivo ideal, cem anos disso ou daquilo.No ano seguinte a obra é esquecida e, na mesma velocidade, um novo autor “centenário” é rememorado. E, todos esses comemoradores, mordem e ganham alguma coisa com isso, ou seus quinze minutos de fama ou dinheiro mesmo.
Agora chegou a vez dos 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa. Por que 120 anos?Não entendo a razão de não comemoraram os 119 anos de nascimento ou 121, ou 119 e um quarto... Um recente documentário da Globonews sobre os 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa só mostrou o quão foi pequena ou miúda (como dizem os portugueses) a vida de um dos maiores poetas da língua portuguesa e menor ainda a imaginação do repórter, que a determinado momento chega aproximar o poeta português a Leonardo da Vinci em função de duas invenções dele, a carta-envelope e a máquina de escrever com tipos móveis,invenções essas das quais não existe o menor registro.
Por mais que o jornalista buscasse alguma coisa, revirando velhas anotações, fotos, parentes, mais distante ficava da obra do poeta. E, surge a clássica entrevista com um “estudioso,especialista” junto à estátua de bronze que paralisa em metal uma também fase miúda e magra da vida do poeta como se aquela fosse a verdadeira imagem dele.Uma caricatura em metal como tantas outras que povoam as praças do mundo de fantasmas inúteis que só servem para abrigo das pombas ou para os ladrões de bronze.
Dos especialistas,parentes, sobre a vida de Fernando Pessoa, não havia nada mais a declarar sobre ele que já não se soubesse.Em determinado ponto do documentário o jornalista resolveu entrevistar o filho do barbeiro do Fernando Pessoa...Incrível.Há no documentário, também um filme da ex-namorada, do poeta. Pra quê?Vê-se a distância uma senhora com rosto comum, pateticamente, já morta, abanando de uma janela.Nonsense puro.
O poeta não deixou a guarda de sua alma em fotos, parentes desimportantes ou mesmo no esquema de elétricos feito por ele para encontrar com a namorada.Aquilo tudo está velho desfocado,amarelo. O que ele deixou de importante foi a sua obra, não sua vida.”Viver não é preciso.”E ele viveu pouco, quase nada, o suficiente apenas para escrever.Homenagens nunca as teve,apenas um livro publicado durante sua existência física.Mas isso não interessa esses exumadores de pó como se apenas a realidade vivida pelo poeta possa revelar ou dizer sobre sua identidade,impossível para alguém que em toda a sua obra negou a sua. A vida prática do poeta português, a não ser seu encontro com Alesiter Crowlewy e a correção de seu horóscopo, nada teve mais rumoroso,importante, nada absolutamente nada estranho ou digno de nota, ao contrário da obra. A sua vida pode ser comparada aos brasileiros Drumond e Manoel Bandeira,uma vida comum, banal,cuja vida interior é muitas e várias vezes mais rica e habitada que a vida exterior.
A obra do poeta é sua vida interior,o exterior é apenas um rasgo, uma fresta aonde o verdadeiro poeta espia.Há, as exceções, quando a vida do poeta mistura com sua arte,então, existe algum significado associá-los,mesmo assim não completamente, poesia não é arte da realidade. Recentemente ouvi,um desses analistas da obra alheia, ansioso por declarar algo importante,sobre Mario Quintana.Contemporâneo de Mário (eram colegas de redação) ele falou sobre o poeta:“aprendi mais com o silêncio de Mário do com que com suas palavras.” Traduzindo: o poeta não falava com ele. Não dava a mínima importância a esse analista futuro de sua obra.
Não é ótimo?
A necessidade de aduzir, enxertar-se na pessoa da poeta é tanta que vale tudo, mesmo que isso seja completamente insignificante e desnecessário.Mas o que afirmo aqui pode ser associado a outros gêneros de arte, todos têm os seus “especialistas, não criativos” sem luz própria que precisam para sobreviver, se aquecer como mariposas na luz alheia.
Aliás, o filho do barbeiro de Fernando Pessoa perdeu a oportunidade de recolher algumas fiapos do cabelo do poeta ou de sua barba e guardar para posteridade se soubesse, na ocasião, de quem se tratava.E se fosse um filho de barbeiro com imaginação poderia dizer até que Fernando Pessoa pagava com versos ao corte de cabelo do fígaro seu pai.Mas não, tanto ele como o repórter eram um pouco sem imaginação e ficamos nós todos pensando o que poderia fazer um poeta dentro de uma barbearia, imagino que ele também poderia ter escrito o poema A Barbearia, auxiliando, e muito, as entrevistas futuras do filho do barbeiro...Ficou-me a impressão (ou me ficou a impressão?) que o poeta não gostava desse barbeiro e preferia o dono da tabacaria, resta saber se existe algum sobrevivente dessa loja onde ele comprava seus fumos, e se ele aparecer, certamente, vai colaborar apenas com a nossa compreensão da capacidade pulmonar do poeta ou vai esclarecer e espalhar mais fumaça sobre a obra de Alberto Caieiro ou Ricardo Reis?

3/20/2008

Mídia medíocre


Por mais dez anos fui setorista na área e economia de vários jornais,onde cheguei a exercer até a função de colunista fantasma de um colunista preguiçoso, além de ter realizado vários cursos e seminários de especialização sobre economia. Sempre entendi o jornalismo econômico como qualquer outro setor dentro de um veículo de comunicação, como um tradutor dos acontecimentos ou fatos. O jornalista funcionando como um filtro, com alguma reflexão ou mesmo buscando mais de uma visão de um mesmo acontecimento, possibilitando ao leitor uma melhor escolha e compreensão sobre o relatado.
Esse jornalismo sempre foi diferenciado do chamado jornalismo chapa branca que proliferou nas décadas 70/80, mas não deixou de existir e repete e repetia apenas a voz do dono, sem critica ou reflexão. Enquanto na década de 70/80 o jornalismo estava amarrado e amordaçado por censura, na década de 90 a censura econômica aperfeiçoou o serviço, e a critica e a reflexão, no jornalismo, ao ceder ao poder econômico ou ao se tornar política ideológica e/ou partidária atirou ao brejo qualquer possibilidade de seriedade.
Revendo recentemente uma retrospectiva do programa Manhattan Connection- um dos mais antigos programas de televisão por assinatura no Brasil, com 15 anos de existência- ficou bem claro que os melhores momentos do programa foram aqueles em o jornalista Paulo Francis esteve presente. Em 15 anos de programas semanais foi só o Francis que produção conseguiu encontrar. A retrospectiva terminou sendo uma homenagem merecida a ele.
Paulo Francis, antes e tudo, era um jornalista que amava e respeitava a sua profissão, quando presente, no programa, os outros participantes eram meros coadjuvantes diante do brilhantismo contraditório de Francis,”só as pessoas inteligentes são contraditórias”, dizia ele com razão, “a unanimidade é burra”, completaria Nelson Rodrigues.
Entre as várias questões apontadas por Francis estava uma critica a linguagem do jornalismo contemporâneo, voltado para uma mídia réles, simplória, repetitiva e de linguagem empolada.Em um dos momentos, Lucas Mendes fala de alguém, que ele, Lucas, considerava um grande jornalista, Francis pede, então, que cite uma frase, uma única frase desse jornalista: ”-Me cita uma frase, uma só, dele”,diz, e Lucas não consegue, sem se dar conta que o que Francis queria, e afirmava, naquela solicitação, era que o jornalismo é feito de frases e opiniões.Se o jornalista não é capaz de formular uma frase inteligente, não possuía opinião, não era um grande jornalista.
Francis fez parte de uma estirpe que deu grandes nomes ao jornalismo do Brasil, como Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Stanislau Ponte Preta, os também poetas Paulo Mendes Campos e Millor Fernandes, entre outros que estiveram também no Pasquim e renovaram a linguagem do jornalismo brasileiro..Acontece que esse jornalismo que Francis praticava,é raramente feito hoje no Brasil.Toda aquela simplicidade,análise e despojamento da linguagem, duramente adquirida pelo Pasquim, perdeu-se no tempo, retrocedeu.
No próprio programa Manhattan Connection, depois do Francis, a critica é rápida, rasteira e desaparece do programa,quando não fica unívoca, não se vê frases inteligentes,brilhantes, mas sim um programinha de dicas novaiorquinas e algumas discussãozinha sobre fatos menores da mídia norte-americana, aquela viceralidade que era dada pelo Francis hoje,esta dividida em patéticos comentários que mal conseguem ultrapassar o nível da banalidade.
Profetas do dia seguinte
E essa banalidade interpretativa empolada pode ser amplamente apreciada em vários telejornais e jornais brasileiros e para citar um exemplo, no recentemente programa exibido na Globo News Espaço Aberto- Crise Externa Qual é a Natureza da Crise?1 Nele,uma das principais setoristas de economia da Rede Globo, entrevista dois bem nutridos economistas brasileiros que deitam sabedoria sobre a crise norte-americana, que ninguém atualmente sabe qual é o tamanho do rombo e que derruba por terra várias gerações de expertos ou espertos, economistas, inclusive estes, que se soubessem que ela estaria por vir certamente teriam ficado milionários,aplicando ou indicando aos seus clientes onde aplicar seus recursos em locais protegidos dessa crise. E a prova mais contundente que nenhum desses economistas sabe exatamente o que está falando e que são profetas do dia seguinte,é a pergunta: Como não sabiam que a economia norte-americana é uma bolha vazia já há vários anos?E com tantos cálculos econômicos disponíveis não sabiam quando ela chegaria ponto de arrebentar?
Que a economia norte-americana deixou de viver de sua riqueza e parou de poupar faz tempo, para viver da poupança do resto do mundo,é sabido desde a década de oitenta, quando o controle do petróleo passou para mão dos árabes e os carros japoneses entupiram os quintais, antes produtivos de Detroit –os recentes documentários do Michel Moore são bastantes claros a esse respeito- a transferência dos empregos para países onde havia mão-de-obra mais barata e os fabulosos investimentos especulativos árabes na economia daquele país, terminaram por deixar o quadro de artificialidade bem visível.
Até onde se sabe todo o sistema capitalista está alicerçado em três bases, setor primário, setor secundário (indústria) e serviços (há escritórios na Índia que encarregados de fazer o imposto de renda de empresas norte-americanas).Não apenas a riqueza norte-americana se espalhou para todo lado, como os empregos, ficando apenas o que era mais barato fazer e produzir no país,nem a recente e multimilionária indústria eletroeletrônica escapou,procurou Taiwan, China, Índia,e assim, o crédito substituiu a produção, mais cedo ou mais tarde, alguém teria que pagar a conta.
Não duvide se dentro alguns anos os mexicanos não tenham que fechar as suas fronteiras aos norte-americanos que podem inverter o fluxo correndo para lá em busca de uma vida melhor..
Se estes profetas do dia seguinte fossem tão sábios assim, um Banco com 105 anos, como Barins não teria quebrado com o cofre cheio de análises econômicas, sobre todo o mundo, e salas abarrotadas de economistas bem nutridos e com apenas um operador mal intencionado na Ásia.Ou não teria acontecido o recente rombo suspeito num dos mais importantes bancos franceses, que na minha opinião, preferiu comprar a culpa de um funcionáriozinho do quinto escalão do que jogá-la sobre a diretoria por aplicações mal feitas na bolha vazia norte-americana, no valor de sete bilhões de dólares. É muito dinheiro para alguém do final da fila do banco mexer sem ter até os parentes colaterais de quinta geração muito bem vigiados.
E, vem, um destes economistas brasileiros depois de meia hora usando a palavra commodities, dizer que a época de ouro acabou. Frase imediatamente repetida pela entrevistadora do programa, sem nenhum critério e análise maior por parte dela.
Mas que época de ouro, cara-pálida?Época de ouro de quem, acabou?Dos norte-americanos?Não me parece que eles tenham vivido numa época de ouro nos últimos vinte anos,mas com desemprego e recessão.
Então, vamos continuar dividindo a conta que não fizemos? Será?Durante o governo Reagan o Tesouro norte-americano resolveu subir os juros para conter a sua inflação (sem olhar para o lados) e quebrou o México que mandou um bilhetinho para Washington, dizendo: “não podemos pagar a conta”. E foi criado o chamado efeito Tequila em que o Brasil entrou junto,o culpado, ora, é claro, o México.Os economistas bem sentados, aqui em vários locais do mundo ao contarem essa história, até hoje, lançam pedras no México. 2
A era Reagan acabou sem que aparecessem os prometidos empregos e o fim da recessão, o Clinton não conseguiu nada além de azarar uma estagiária e fazer com que os homossexuais tivessem direito de freqüentar as forças armadas. Os Bush, republicanos, arrumaram duas guerrinhas na mesma região para ver se melhoravam as finanças internas e faziam com que opinião pública do país deixasse de se preocupar com problemas tão simples como subsistência, continuou tudo igual.Só adiaram o problema.
O sistema capitalista tem infinitas formas de se adaptar,é um perfeito camaleão, quem disser o contrário não andou lendo história ultimamente,ganha com tudo, incluído a desgraça alheia, quebra uns bancos aqui e ali, outros engordam,desfazem-se algumas fortunas,criam-se outras, alguns milhares de norte-americanos perdem suas casas,surge uma novo mercado de residências recicladas ou coisa que valha, e segue o baile, até a próxima crise.
Mas nós aqui, no quintal, pelo que sei, nunca vivemos uma época de ouro e sim, continuamos numa época de metais menos nobres,e miseráveis como sempre fomos, mas e estamos muito bem em algumas commodities como, ferro, petróleo,grãos, carne,laranja etc, continuamos em alguns lugares, com mão de obra escrava e, é impossível perder o que nunca tivemos, uma época de ouro, por exemplo.
Mas perdemos a capacidade de critica e análise e a simplicidade de traduzir os fatos, isso sim.
1) Exibido em 13.03.2008.
2) Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano- de autoria do colombiano Plínio Apuleyo Mendoza, do peruano Álvaro Vargas Llosa e do cubano Carlos Alberto Montaner, com prefácios, de Mário Vargas Llosa e de Roberto Campos.