6/12/2009

A diferença entre produtor cultural e despachante cultural

Aonde são aplicados os milhões que a Cultura e o Esporte recebem das loterias?

As leis de incentivo a cultura, tanto nacionais como regionais (Lei Rouanet e leis de incentivo a cultura) terminaram por criar uma nova profissão que por falta de uma melhor designação passou a ser chamado de “produtor cultural”. Mas, na verdade, esses “produtores culturais” nada mais faziam/fazem do que preencher corretamente a papelada que visa encontrar a liberação legal para que o verdadeiro produtor cultural possa arrecadar recursos ou das empresas ou do sistema de financiamento estatal, sem nenhuma garantia de efetividade. A correção dos dados exigidos pela lei não significa o acesso à verba.
A atividade, na maioria das cidades brasileiras onde a cultura não possui recursos e necessita de financiamento, para fazer livros, jornais, revistas, cinema, teatro,etc, virou um negócio mantido por especialistas capazes de enfrentar a papelada com as absurdas exigências legais (que não eliminam o suborno, o lobby, a transferência de recursos para as mesmas empresas que dizem financiar os projetos culturais) e pago com percentual dos recursos arrecadados, quando não antecipadamente.
Com relação aos milhões que a Cultura e o Esporte recebem das loterias, por exemplo, não se tem uma prestação de contas, pública, efetiva para a sociedade da aplicação desses recursos, enquanto isso os verdadeiros produtores culturais, aqueles que produzem cultura, têm que ficar na mão desses “especialistas nos meandros burocráticos” para depois mendigar junto a empresas e instituições e assim conseguir realizar o seu trabalho de produzir cultura, quando conseguem vencer a barreiras de gerentes e marketeiros de plantão que manipulam o chamado dinheiro público. Convém começarmos a estabelecer a diferença entre produtor cultural e o mero despachante cultural, (é preciso enfatizar várias vezes isso), o produtor cultural é o que produz cultura, o outro, o despachante cultural é o indivíduo especialista que sabe como preencher a papelada para conseguir ter acesso a liberação das verbas públicas ou leis de incentivo.
Também os apressados em dar designações simples, associam esse despachante ao produtor de cinema, teatro, e até de televisão, nada mais incorreto, o produtor, aquele que produz, reúne elenco, busca recursos, etc, corre riscos sempre, enquanto o único risco do despachante cultural pode ser uma vírgula mal colocada na papelada exigida pelo sistema burocrático, sem falar que recebe antecipadamente pelo serviço. Então, para caracterizar melhor essa função é importante distinguir: O produtor cultural corre riscos, o despachante não tem risco.
O despachante é uma profissão digna e que existe em vários áreas sociais, em Estados excessivamente burocratizados e que sobrevivem como, despachantes aduaneiros, de papéis para trânsito, contadores -que preenchem o imposto de renda-, etc ou seja é aquele sujeito que conhece os meandros burocráticos e preenche a papelada necessária para que essa ou aquela atividade possa ser realizada dentro da lei.O despachante cultural definitivamente não produz cultura, quem produz cultura é quem faz cultura.

2/28/2009

Worksopa de Letras

O Porto Alegre dá Poesia acontece pelo segundo ano em março de 2009, o encontro que reúne poetas de Porto Alegre, além de resgatar a obra de alguns poetas que já exerceram sua arte na cidade também abre espaço para os contemporâneos.Esse ano, no encerramento acontece o I Worksopa de Letras, uma mistura de ritmos, falas, dizeres, amostragens pessoais e impessoais dos poetas presentes ou até os ausentes se na mesa de trabalhos baixar algum.Informações sobre a programação no http://portopoesia2.blogspot.com/

2/23/2009

O Novo Clássico,as Novas Lógicas e os Críticos Teóricos do Passado

Esse texto foi utilizado em duas palestras, na Feira do Livro de novembro de 2007, no Porto Alegre dá Poesia em março de 2008 e faz parte dos livros Poesia Política e o Livro Negro dos Bardos, do autor.
O século XX foi pródigo em mudanças não apenas na arte, mas ideológicas, políticas, sociais e tecnológicas que alteraram a face do mundo.As grandes mudanças que, na arte, começaram a ocorrer já no final do século XIX desaguaram todas no século XX.
Já falei aqui sobre a não existência de uma nova poesia, mas de uma poesia contemporânea e o meu completo desprezo pelas análises literárias classificatórias não apenas na poesia, mas na arte em geral, que segue os modelos mecanicistas dos enciclopedistas franceses do século XVII e suas derivações sociológicas.
Hoje, todos os professores bem sentados em suas cátedras, e críticos de arte, em sua totalidade têm, (quando tem, a maioria não têm nada) dois modelos de análise ou duas bíblias - uma, a do sociólogo húngaro Arnold Hauser,aluno de Bérgson e frequentador do círculo de Lukács e o seu falho História Social da Literatura e da Arte (2 volumes ed. Mestre Jou).
Talvez uma das melhores contribuições de Hauser a compreensão da arte seja a sua constatação da noção do artista na Renascença, nesse período, diz ele: "acontece a descoberta do conceito do gênio e a ideia de que toda a obra de arte é criação de uma personalidade autocrática, que esta personalidade trancende a tradição, a teoria e as regras." (2). O que Hauser não havia percebido é que as diferentes noção do artista como criador haviam sofrido várias alterações ao longo dos séculos e, em algum casos passavam longe da questão econômica, mas obedeciam a fatores como religiosos, ou apenas culturais. Os egipícios possuíam uma noção do artista completamente diferente dos gregos, os artistas das guildas outra noção, e a Renascença marcou mesmo essa distinção, da Vinci frequentou os ateliers de Verocchio,Ucello e tornou-se uma artista inqualificável, que transcendia aos seus contemporâneos, dai a constatação de Hauser, dessa autocracia do artista e sua obra, não dependendo e sendo produto,única e exclusivamente, do meio.
Todos, eu disse todos, os livros de formação em uso no segundo e terceiro grau no Brasil utilizam as conclusões sociológicas de Hauser como base teórica para análise artística seja literária ou não, aliás,a obra de Hauser por seu fôlego, ele passou dez anos pesquisando, mapeia de forma bem eficiente a arte européia e, é utilizada como base teórica não só no Brasil.
Com relação a literatura, a segunda bíblia é novo Literary Criticism do tcheco norte-americano René Welleck (1915-1978) Livro - Teoria Da Literatura e Metodologia Dos Estudos- Ed.Martins Fontes- esse último, Walleck, criou as distinções entre história literária, literatura comparada e critica literária do que antes dele era tudo metido no mesmo formulário, ele também, não é só usado no Brasil.
Em entrevista realizada recentemente, o autor do Ócio Criativo, Domenico Di Masi [2), afirma que no século XX o conceito de beleza foi destruído e cita como exemplo um quadro de Mondrian:” como podemos saber se é feio ou bonito? diz ele - já que esse conceito foi destruído”.
Domenico ao fazer esta afirmação corrobora a sua formação de sociólogo, europeu formado nas barbas de Hauser e completamente equivocado. O século XXI não rompeu com o conceito da beleza, ao contrário, acrescentou novas visões/padrões a noção de beleza.
A grande questão nisso é que arte no século XX rompeu foi com o clássico, mas não rompeu completamente com o acadêmico. E o acadêmico não rompeu com a visão acadêmica,apenas digeriu mal essas análises sociológicas e adaptou os seus pré-conceitos.
E a questão retorna, a visão acadêmica se mantém através da tradição universitária.E essa por sua vez está ligada na formação clássica e nesse aspecto não houve nenhuma grande mudança, nenhum grande rompimento.
Um natural da pré-Itália de Domenico, Horacio Flaco (3) já possuía preocupações semelhantes quando falava sobre as relações harmônicas que devem existir em uma obra e arte e utilizando a poesia e as artes visuais como exemplo:

Harmonia e proporção entre as partes da obra poética


Se um pintor à cabeça humana unisse
pescoço de cavalo e de diversas
penas vestisse o corpo organizado
de membros de animais de toda a espécie,
de sorte que mulher de belo aspecto
em torpe e negro peixe rematasse
vós, chamados a ver esta pintura,
o riso sofreríeis? Pois convosco
assentai, ó Pisões, que a um quadro destes
será mui semelhante aquele livro
no qual idéias vãs se representam
(quais os sonhos do enfermo), de tal modo,
que nem pés, nem cabeça a uma só forma
convenha. De fingir ampla licença
ao poeta e pintor sempre foi dada.
Assim é; e entre nós tal liberdade
pedimos mutuamente, e concedemos;
mas não há de ser tanta, que se ajunte
agreste çom suave, e queira unir-se
ave a serpente, cordeirinho ao tigre. (4)



Toda a obra de Horácio estava ligada ao clássico grego, por isso sua critica contundente a tudo que não obedece aos padrões da arte clássica, já naquela época.
Alexandre Baumgarten (1714 –1762) filósofo alemão, discípulo de Leibnitz, em seu Meditações Filosóficas sobre Alguma Questão da Obra de Arte de 1735- é quem designa pela primeira vez o termo estética e dá a ele o sentido que deveria ter, mas não tem: “visão que trata do conhecimento sensorial capaz de possibilitar a apreensão do belo através das imagens da arte, em contraposição a lógica do intelecto”.
A estética, ao retirar a lógica do âmbito da análise da obra de arte, deveria retirar os conceitos de feio ou bonito, bem ou mal ou qualquer outra visão maniqueísta baseada na lógica aristotélica, do terceiro excluído, mas não é o que acontece, basta reler a opinião de Domenico Di Masi.
A responsabilidade pelo não entendimento, compreensão e análise apressada que sofre a obra de arte a partir do século XX se deve a esse fator, a formação clássica em contraposição a uma arte que rompeu com o padrão clássico. Ou seja, você analisa de forma clássica algo que não é mais clássico, onde ainda estão envolvidas as noções defendidas por Horácio de ritmo, proporção e harmonia.
E, então, você têm críticos, professores, enfiando na obra de arte essas noções clássicas sob o ponto de vista do realismo socialista, do socilogues, de visões cienticifistas da recorrência do fenômeno, etc.
Pergunto: adianta separar história literária, literatura comparada e critica literária se a visão critica seja qual for utiliza a antiga lógica aristotélica clássica, bom ou ruim, feio bonito etc, mesmo camuflando através de textos pretensamente eruditos, mas profundamente adequados a formação clássica?
Não.
Enquanto do lado ocidental os padrões do clássico eram rompidos o mesmo não ocorreu com a arte oriental que se manteve ligada as suas tradições também ancestrais, mas ao cair nas mãos desses tradutores, professores, críticos, sofrem a mesma aplicação da lógica de análise empregada para identificar a obra de arte ocidental. A ponto de Basho, por exemplo, ser designado como naturalista.
É bom começar a saber, esses teóricos do passado, que no século XX surgiram novas lógicas,como a do lógico brasileiro Newton da Costa- lógica paraconsistente que admite a noção de conceitos incertos e contraditórios e a lógica fuzzy (lógica difusa) criada pelo professor de computação da universidade da Califórnia o norte-americano/irianiano -Lotfi Zadeh- que admite conceitos difusos como, por exemplo: o dia hoje está nublado, em vez do dia está claro ou escuro, feio ou bonito.
Ambas as lógicas derivam da lógica clássica, e se precisamos de lógica para buscar entender o mundo que vivemos ou a arte, é necessário saber que a lógica aristotélica teve o seu prazo de validade estourado para a análise da arte. O século XX a esgotou, assim como a análise cultural social, baseada nela.E não há bobagem nenhuma de pós modernidade que a recupere, outro termo que ao criticar o discurso, deriva do padrão de discurso mecanicista clássico.
Acredito que século XXI traga uma nova visão que, talvez, se torne um novo clássico buscando através dessas novas lógicas, a soma que houve na arte, da visão clássica com a ruptura ocorrida no século XX.
Alguém é capaz de dizer que não reconhece as contribuições ao teatro de Samuel Beckett e Eugene Ionesco?O teatro de ambos conviveu de forma harmoniosa com o teatro de Brecht, no século XX, assim como a obra de Joyce e Tomas Mann. O mesmo aconteceu com as artes visuais.
E a poesia? Os primeiros estertores do clássico começaram a ocorrer no final do século XIX com Rimbaud, Baudelaire, etc. Marineti, em 1907 deu o passo seguinte, ou o pontapé seguinte, depois vieram os dadaístas e os surrealistas, esse último capitaneado por André Breton, que depois terminar com o que havia e propor novas formas, objetos para apoiar o texto, reuniu-se em torno do realismo socialista.
Nada de novo surgiu na sequência, modernismo, concretismo e os outros ismos, poesia praxis, etc. foram derivações dessas vanguardas. Deixo claro aqui que não estou fazendo nenhuma apreciação sobre o conteúdo desses autores e sim dos movimentos.
Sobreviveu o paradoxo: o que é importante? Se tudo é importante? Onde está a nova harmonia? O novo ritmo, a nova proporção?
Inexistem, porque torna-se impossível aplicar em algo que não obedece a esses parâmetros, sobra então para a análise, o conteúdo, esquecendo a forma e o historicismo.
O soneto clássico sobreviveu, assim como o verso livre, como a rima pobre e rica junto com os poemas objetos,o poema piada, entre outros.
Ao esquecer a forma é necessário também esquecer a linguagem, (5) alguns sonetos de Camões são tão belos quanto eram no século XVI, apesar da linguagem hoje ser outra.
Sobra, então o conteúdo, volto a repetir.
Se é bom ou mau, se está de acordo com essa ou aquela escola, não importa.
É preciso separar a lógica da razão clássica da, talvez, ilógica compreensão da arte ou arte tenha sua lógica própria no que só ela pode acrescentar ao homem em sua relação com o universo.

















1)Arnold Hauser- História Social- pag 432
2)Conexão internacional
3)Quinto Horácio Flaco ( Quintus Horatius Flaccus) (Venúsia, 8 de Dezembro de 65 a.C. — Roma, 27 de Novembro de 8 a.C.) poeta lírico e satírico romano e filósofo.cConsiderado um dos maiores poetas da Roma antiga- O texto chamado Arts Poética tem como título original Epístola aos Pisões (cidade romana situada hoje no território de Portugual)
4) Tradução Cândido Lusitano
5) Não se trata aqui de analisar o avanço diacrônico da língua.

2/18/2009

O maior poeta brasileiro de todos os tempos?





Como esse artigo escrito em 2007 não perdeu a atualidade,resolvi editá-lo agora. O artigo acima o elucida melhor.



Em artigo publicado no jornal Zero Hora dia 18 - 9 -2007 A Dura Vida de Poeta, o professor Luis Augusto Fischer ao falar de poesia cai na vala comum dos críticos maniqueístas oriundos das escolas de análise, quando não historicistas-sociológicas derivadas Arnaldo Hauser [1], usam a lógica maniqueísta aristotélica e não procuram ou não sabem observar as distinções entre história literária, literatura comparada e crítica literária, criadas a partir dos trabalhos do tcheco-norte-americano René Welleck [2] (1915-1978), que gerou campos de estudos distintos e uma ciência da literatura do que antes era uma unidade na “Literary Criticism” ou Literatura Crítica.
No texto, o professor Fischer, usa a lógica aristotélica do terceiro excluído.
Nessa lógica binária, só cabem dois parâmetros: bom ou mau; melhor ou pior; fácil ou difícil – etc.
Segundo ele afirma no artigo :“ao contrário das outras artes, a poesia sozinha, sem a parceria da música e/ou da performance teatralizada, é uma atividade sublimamente difícil”.
Ele fala como se poesia fosse uma atividade que necessitasse de complementaridade para se tornar fácil.
Eis a lógica maniqueísta: fácil x difícil.E a confissão da quase impossibilidade de compreender a poesia.
E continua: “Do ponto de vista mais cético, (?sic) se poderia dizer que assim é porque os poetas não tem a habilidade de formar a sua audiência, por deficiência própria, porque os bons a encontram.”
Não é uma maravilha de frase?
Uma generalização completa (quem seriam os deficientes, os bons, quem seriam os poetas?Todos os poetas?).
Haveria poetas bons? Porque o uso do plural aqui? Ele considera apenas um poeta como o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Que outros poetas, segundo ele teriam essa audiência?
Fischer parece que não lê poesia, ou se lê não a entende ou ainda, não se esforça para entender, há uma outra confusão sobre a questão da audiência, outra simplificação.
Do ponto de vista histórico, a poesia subsistiu oralmente durante séculos, foi a base e viga mestra de todos os outros gêneros literários incluindo o teatro (a teatralização da poesia já existia no início dela, sendo caminho natural da mesma), o romance e o que derivou deles.
Qual seria a audiência de um Homero? De François Villon? De um Dante de Alighieri? Lamentável essa visão que desloca a análise para a poesia de audiência,como se poesia fosse mais uma questão de ruído e mídia, como se o importante estivesse no volume ( nos dois sentidos, volume de quantidade e audiência, de áudio) e não na qualidade ou outro fator um tanto “mais” nobre, como a cultura, por exemplo.
Existem várias simplificações, no texto, absurdas para alguém que escreve, o autor do artigo pergunta "quem são os antagonistas relevantes de agora"? Referindo-se a criação poética de Drumond que enfrentou "inimigos" como o parnasianismo, etc. o professor esqueceu as aulas referentes ao modernismo e da profunda sensibilidade do poeta.
Como se o enfrentamento de algum movimento ou o que quer que seja provoque a verdadeira criação poética.
O que os poetas hoje tem a enfrentar?
Críticos como esse, talvez seja uma boa resposta.
A leitura livresca do autor do artigo parece ser um tanto rala, pequena, pois ao considerar “Carlos Drumondd de Andrade o maior poeta brasileiro de qualquer época”, enfatiza no texto uma visão pessoal empobrecedora da literatura brasileira, num reducionismo lamentável para um professor, que esquece os grandes poetas que fizeram nossas letras e, como via de consequência estão nos pilares desse país, possibilitando que tivéssemos fala própria (identidade) como Gregório de Mattos Guerra, Gonçalves Dias e sua Canção do Exílio, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manoel Bandeira,Cecília Meirelles,Vinícius de Moraes, João Cabral de Mello Neto, o nosso Mario Quintana e tantos outros...

Poesia é um gênero literário que não se mede utilizando os mesmos instrumentos com os quais se mede as três dimensões, estatística é outra área e lógica simples e reducionista também.
Uma boa sugestão para o professor Fischer é remeter o nome de Drumond para o Guineses Book incluí-lo como “ o maior poeta brasileiro de qualquer época”, para ver se eles o registram assim.
Difícil.
Eles, no mínimo, teriam o bom senso de procurar equipará-lo a outros poetas brasileiros.





[1] Arnold Hauser-História Social da Literatura e da Arte Ed. Mestre Jou- São Paulo 1982
2 René Walleck e Austin Warren -Teoria da Literatura -Ed. -America-Portugal-Lisboa -1972

Poema de Nei Duclós

É difícil ficar indiferente a um poema desses do meu companheiro de jornada, em 2009 comemoramos, realmente, 40 anos de estrada.
Celso, poeta:
Tudo o que falas tem valor
teu berro na sala
tua voz na caverna do Tempo
Tudo o que dizes,
fica semente comum que frutifica
floresta futura, rebento
Tudo o que apagas,
some e o que lembras,
volta o alto mar
dispõe o porto
Tudo o que tocas, vinga
em gerações de tormenta
cidade e montanha, escutam
Por isso teu rosto carregado de velas
teus braços em eterna colheita
tua poesia que nos sustenta
Esse é o tamanho do que semeias
a intensidade do teu canto
a direção, fecunda, do teu vento
Esse é o poema feito pessoa
povo, nação, endereço
Esse é o dom do recomeço

1/02/2009

Oliveira Silveira

Não sei se alguém mais vai saber direito o que falo aqui,são poucos os destinatários, um é o Nei Duclós, o outro é ele mesmo.
Os outros são fantasmas que estiveram concosco numa leitura de poemas, há 4o anos atrás.



Nei!
To aqui pasmo com essa do Oliveira, que nós conhecemos desde que éramos crianças.Foi no XIXI de Março (era assim mesmo que chamavam) na Sarmento Leite, no Centro Acadêmico da Medicina-o Frankilin, estava com um problema qualquer que não poderíamos ler lá os nossos poemas, a sala do XIXI estava lotada,inclusive com os policiais de sempre- era agosto de 1969- 40 anos atrás- eu li um poema que usava como epígrafe um verso de Leopoldo Sanghor, quando alguém, no fundo da sala, com uma voz grave me corrigiu, e a partir dali esteve presente em várias etapas da minha vida, Oliveira Silveira.Ele sempre foi maior do que aparentava.Foi porta-bandeira numa clara manhã de carnaval.E, esteve conosco no Porto Poesia 1 e 2.Oliveira um grande abraço de coração.Celso

12/18/2008

Porto Poesia recebe Troféu Açorianos

O Porto Poesia recebeu no ultimo dia 15 de dezembro Troféu Açorianos de Incentivo a Literatura e a Leitura da Secretaria de Cultura de Porto Alegre o mais importante e representativo prêmio de literatura do Estado do Rio grande do Sul. O evento realizado no mês de outubro, reuniu em Porto Alegre nas depedências do Shopping Total, mais de 100 palestrantes, entre poetas, oficineiros, professores,etc. Na ocasião, também foram feitos lançamentos de livros, exibidos filmes e performances e contou com a presença também de autores de outros Estados. E, 2009 o Porto Poesia deverá prosseguir na sua terceira edição também no mês de outubro.

7/25/2008

PortoPoesia lança parceria com o Shopping TOTAL


Na ocasião foram apresentadas as novidades da segunda edição do festival de Poesia de Porto Alegre, que ocorre de 06 a 12 de outubro de 2008. Além disso, também foi lançado também a primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte.



No dia 16 de julho foi lançado a segunda edição do PortoPoesia – Festival de Poesia de Porto Alegre, com apresentação das novidades que o evento traz neste ano, entre elas, a parceria com o Shopping TOTAL, que sediará toda sua programação. Esta parceria foi oficializada durante o evento, com assinatura de termo de colaboração entre a organização do festival e representantes do Shopping.
A parceria entre o PortoPoesia e Shopping TOTAL se insere no novo conceito do Shopping, em valorizar a cultura, iniciado com o projeto de Lifestyle que está transformando o conjunto de prédios tombados da antiga Cervejaria Bopp, em espaços para diversas expressões da arte, com operações exclusivas distribuídas em alamedas e largos temáticos. De acordo com Marco Celso H. Viola, um dos realizadores do evento, essa parceria “desacraliza a poesia, tirando-a de dentro das livrarias e colocando-a num dos espaços mais tradicionais e belos da cidade, ao alcance de todos os públicos”.
Durante o evento, também foi lançado primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte, uma publicação cultural que visa resgatar a tradição do jornalismo literário no Estado, abrindo espaço para a divulgação da produção local. O jornal possui um Conselho Editorial, composto pelos gestores do PortoPoesia, que elegeu três gêneros prioritários para publicação: poesia, conto e ensaio. O jornal, em formato tablóide, possui 12 páginas e terá periodicidade mensal e distribuição gratuita.

A segunda edição do festival PortoPoesia será realizada de 06 a 12 de outubro de 2008 e contará com uma programação intensa que contempla 12 palestras, 22 sessões de leituras de poesia, 4 rodas de poesias para crianças, 14 performances, 11 debates, 12 espetáculos, 10 oficinas, diversos lançamentos, sessões de autógrafos, saraus, apresentações livres, sessões de cinema e exposições de acervos, entre elas uma Mostra Nacional de Revistas de Poesia. Serão 10 horas diárias de atrações totalizando 85 apresentações em 70 horas de atividades culturais. A organização estima a participação de mais de 8 mil pessoas, durante o evento. Até o momento, mais de 50 profissionais da área da cultura e poetas confirmaram suas presenças no comando das atividades, entre eles, Armindo Trevisan, Donald Schüller, Alcy Cheuiche, Lau Siqueira, Luiz Coronel, Oliveira Silveira, Paulo Custódio, José Eduardo Degrazia,Mario Pirata, entre outros. O evento acontecerá em diversos espaços do Shopping Total. Como na edição anterior, a programação é gratuita e aberta ao publico.
O PortoPoesia é um festival de poesia concebido da união dos poetas locais, com o objetivo de abrir espaço para as produções gaúchas e tornar conhecido este importante gênero literário, a fim de democratizar a informação literária em Porto Alegre. A idéia é mobilizar pesquisadores, professores universitários, escolas de ensino médio, tradutores de poesia, profissionais do teatro, músicos, artistas plásticos, letristas, e poetas convidados, propiciando o acesso à cultura e educação, estimulando o desenvolvimento do gosto literário em crianças, jovens e no público em geral.
Além do Shopping TOTAL o PortoPoesia conta com o apoio das Secretarias de Educação e Cultura de Porto Alegre.

6/28/2008

Exumando pó ou o filho do barbeiro de Fernando Pessoa

Marco Celso Huffell Viola


A mídia e um círculo de parasitas que navega entre as academias adora comemorar, festejar a obra de autores, sejam quais forem, e os centenários,então, são o motivo ideal, cem anos disso ou daquilo.No ano seguinte a obra é esquecida e, na mesma velocidade, um novo autor “centenário” é rememorado. E, todos esses comemoradores, mordem e ganham alguma coisa com isso, ou seus quinze minutos de fama ou dinheiro mesmo.
Agora chegou a vez dos 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa. Por que 120 anos?Não entendo a razão de não comemoraram os 119 anos de nascimento ou 121, ou 119 e um quarto... Um recente documentário da Globonews sobre os 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa só mostrou o quão foi pequena ou miúda (como dizem os portugueses) a vida de um dos maiores poetas da língua portuguesa e menor ainda a imaginação do repórter, que a determinado momento chega aproximar o poeta português a Leonardo da Vinci em função de duas invenções dele, a carta-envelope e a máquina de escrever com tipos móveis,invenções essas das quais não existe o menor registro.
Por mais que o jornalista buscasse alguma coisa, revirando velhas anotações, fotos, parentes, mais distante ficava da obra do poeta. E, surge a clássica entrevista com um “estudioso,especialista” junto à estátua de bronze que paralisa em metal uma também fase miúda e magra da vida do poeta como se aquela fosse a verdadeira imagem dele.Uma caricatura em metal como tantas outras que povoam as praças do mundo de fantasmas inúteis que só servem para abrigo das pombas ou para os ladrões de bronze.
Dos especialistas,parentes, sobre a vida de Fernando Pessoa, não havia nada mais a declarar sobre ele que já não se soubesse.Em determinado ponto do documentário o jornalista resolveu entrevistar o filho do barbeiro do Fernando Pessoa...Incrível.Há no documentário, também um filme da ex-namorada, do poeta. Pra quê?Vê-se a distância uma senhora com rosto comum, pateticamente, já morta, abanando de uma janela.Nonsense puro.
O poeta não deixou a guarda de sua alma em fotos, parentes desimportantes ou mesmo no esquema de elétricos feito por ele para encontrar com a namorada.Aquilo tudo está velho desfocado,amarelo. O que ele deixou de importante foi a sua obra, não sua vida.”Viver não é preciso.”E ele viveu pouco, quase nada, o suficiente apenas para escrever.Homenagens nunca as teve,apenas um livro publicado durante sua existência física.Mas isso não interessa esses exumadores de pó como se apenas a realidade vivida pelo poeta possa revelar ou dizer sobre sua identidade,impossível para alguém que em toda a sua obra negou a sua. A vida prática do poeta português, a não ser seu encontro com Alesiter Crowlewy e a correção de seu horóscopo, nada teve mais rumoroso,importante, nada absolutamente nada estranho ou digno de nota, ao contrário da obra. A sua vida pode ser comparada aos brasileiros Drumond e Manoel Bandeira,uma vida comum, banal,cuja vida interior é muitas e várias vezes mais rica e habitada que a vida exterior.
A obra do poeta é sua vida interior,o exterior é apenas um rasgo, uma fresta aonde o verdadeiro poeta espia.Há, as exceções, quando a vida do poeta mistura com sua arte,então, existe algum significado associá-los,mesmo assim não completamente, poesia não é arte da realidade. Recentemente ouvi,um desses analistas da obra alheia, ansioso por declarar algo importante,sobre Mario Quintana.Contemporâneo de Mário (eram colegas de redação) ele falou sobre o poeta:“aprendi mais com o silêncio de Mário do com que com suas palavras.” Traduzindo: o poeta não falava com ele. Não dava a mínima importância a esse analista futuro de sua obra.
Não é ótimo?
A necessidade de aduzir, enxertar-se na pessoa da poeta é tanta que vale tudo, mesmo que isso seja completamente insignificante e desnecessário.Mas o que afirmo aqui pode ser associado a outros gêneros de arte, todos têm os seus “especialistas, não criativos” sem luz própria que precisam para sobreviver, se aquecer como mariposas na luz alheia.
Aliás, o filho do barbeiro de Fernando Pessoa perdeu a oportunidade de recolher algumas fiapos do cabelo do poeta ou de sua barba e guardar para posteridade se soubesse, na ocasião, de quem se tratava.E se fosse um filho de barbeiro com imaginação poderia dizer até que Fernando Pessoa pagava com versos ao corte de cabelo do fígaro seu pai.Mas não, tanto ele como o repórter eram um pouco sem imaginação e ficamos nós todos pensando o que poderia fazer um poeta dentro de uma barbearia, imagino que ele também poderia ter escrito o poema A Barbearia, auxiliando, e muito, as entrevistas futuras do filho do barbeiro...Ficou-me a impressão (ou me ficou a impressão?) que o poeta não gostava desse barbeiro e preferia o dono da tabacaria, resta saber se existe algum sobrevivente dessa loja onde ele comprava seus fumos, e se ele aparecer, certamente, vai colaborar apenas com a nossa compreensão da capacidade pulmonar do poeta ou vai esclarecer e espalhar mais fumaça sobre a obra de Alberto Caieiro ou Ricardo Reis?

3/20/2008

Mídia medíocre


Por mais dez anos fui setorista na área e economia de vários jornais,onde cheguei a exercer até a função de colunista fantasma de um colunista preguiçoso, além de ter realizado vários cursos e seminários de especialização sobre economia. Sempre entendi o jornalismo econômico como qualquer outro setor dentro de um veículo de comunicação, como um tradutor dos acontecimentos ou fatos. O jornalista funcionando como um filtro, com alguma reflexão ou mesmo buscando mais de uma visão de um mesmo acontecimento, possibilitando ao leitor uma melhor escolha e compreensão sobre o relatado.
Esse jornalismo sempre foi diferenciado do chamado jornalismo chapa branca que proliferou nas décadas 70/80, mas não deixou de existir e repete e repetia apenas a voz do dono, sem critica ou reflexão. Enquanto na década de 70/80 o jornalismo estava amarrado e amordaçado por censura, na década de 90 a censura econômica aperfeiçoou o serviço, e a critica e a reflexão, no jornalismo, ao ceder ao poder econômico ou ao se tornar política ideológica e/ou partidária atirou ao brejo qualquer possibilidade de seriedade.
Revendo recentemente uma retrospectiva do programa Manhattan Connection- um dos mais antigos programas de televisão por assinatura no Brasil, com 15 anos de existência- ficou bem claro que os melhores momentos do programa foram aqueles em o jornalista Paulo Francis esteve presente. Em 15 anos de programas semanais foi só o Francis que produção conseguiu encontrar. A retrospectiva terminou sendo uma homenagem merecida a ele.
Paulo Francis, antes e tudo, era um jornalista que amava e respeitava a sua profissão, quando presente, no programa, os outros participantes eram meros coadjuvantes diante do brilhantismo contraditório de Francis,”só as pessoas inteligentes são contraditórias”, dizia ele com razão, “a unanimidade é burra”, completaria Nelson Rodrigues.
Entre as várias questões apontadas por Francis estava uma critica a linguagem do jornalismo contemporâneo, voltado para uma mídia réles, simplória, repetitiva e de linguagem empolada.Em um dos momentos, Lucas Mendes fala de alguém, que ele, Lucas, considerava um grande jornalista, Francis pede, então, que cite uma frase, uma única frase desse jornalista: ”-Me cita uma frase, uma só, dele”,diz, e Lucas não consegue, sem se dar conta que o que Francis queria, e afirmava, naquela solicitação, era que o jornalismo é feito de frases e opiniões.Se o jornalista não é capaz de formular uma frase inteligente, não possuía opinião, não era um grande jornalista.
Francis fez parte de uma estirpe que deu grandes nomes ao jornalismo do Brasil, como Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Stanislau Ponte Preta, os também poetas Paulo Mendes Campos e Millor Fernandes, entre outros que estiveram também no Pasquim e renovaram a linguagem do jornalismo brasileiro..Acontece que esse jornalismo que Francis praticava,é raramente feito hoje no Brasil.Toda aquela simplicidade,análise e despojamento da linguagem, duramente adquirida pelo Pasquim, perdeu-se no tempo, retrocedeu.
No próprio programa Manhattan Connection, depois do Francis, a critica é rápida, rasteira e desaparece do programa,quando não fica unívoca, não se vê frases inteligentes,brilhantes, mas sim um programinha de dicas novaiorquinas e algumas discussãozinha sobre fatos menores da mídia norte-americana, aquela viceralidade que era dada pelo Francis hoje,esta dividida em patéticos comentários que mal conseguem ultrapassar o nível da banalidade.
Profetas do dia seguinte
E essa banalidade interpretativa empolada pode ser amplamente apreciada em vários telejornais e jornais brasileiros e para citar um exemplo, no recentemente programa exibido na Globo News Espaço Aberto- Crise Externa Qual é a Natureza da Crise?1 Nele,uma das principais setoristas de economia da Rede Globo, entrevista dois bem nutridos economistas brasileiros que deitam sabedoria sobre a crise norte-americana, que ninguém atualmente sabe qual é o tamanho do rombo e que derruba por terra várias gerações de expertos ou espertos, economistas, inclusive estes, que se soubessem que ela estaria por vir certamente teriam ficado milionários,aplicando ou indicando aos seus clientes onde aplicar seus recursos em locais protegidos dessa crise. E a prova mais contundente que nenhum desses economistas sabe exatamente o que está falando e que são profetas do dia seguinte,é a pergunta: Como não sabiam que a economia norte-americana é uma bolha vazia já há vários anos?E com tantos cálculos econômicos disponíveis não sabiam quando ela chegaria ponto de arrebentar?
Que a economia norte-americana deixou de viver de sua riqueza e parou de poupar faz tempo, para viver da poupança do resto do mundo,é sabido desde a década de oitenta, quando o controle do petróleo passou para mão dos árabes e os carros japoneses entupiram os quintais, antes produtivos de Detroit –os recentes documentários do Michel Moore são bastantes claros a esse respeito- a transferência dos empregos para países onde havia mão-de-obra mais barata e os fabulosos investimentos especulativos árabes na economia daquele país, terminaram por deixar o quadro de artificialidade bem visível.
Até onde se sabe todo o sistema capitalista está alicerçado em três bases, setor primário, setor secundário (indústria) e serviços (há escritórios na Índia que encarregados de fazer o imposto de renda de empresas norte-americanas).Não apenas a riqueza norte-americana se espalhou para todo lado, como os empregos, ficando apenas o que era mais barato fazer e produzir no país,nem a recente e multimilionária indústria eletroeletrônica escapou,procurou Taiwan, China, Índia,e assim, o crédito substituiu a produção, mais cedo ou mais tarde, alguém teria que pagar a conta.
Não duvide se dentro alguns anos os mexicanos não tenham que fechar as suas fronteiras aos norte-americanos que podem inverter o fluxo correndo para lá em busca de uma vida melhor..
Se estes profetas do dia seguinte fossem tão sábios assim, um Banco com 105 anos, como Barins não teria quebrado com o cofre cheio de análises econômicas, sobre todo o mundo, e salas abarrotadas de economistas bem nutridos e com apenas um operador mal intencionado na Ásia.Ou não teria acontecido o recente rombo suspeito num dos mais importantes bancos franceses, que na minha opinião, preferiu comprar a culpa de um funcionáriozinho do quinto escalão do que jogá-la sobre a diretoria por aplicações mal feitas na bolha vazia norte-americana, no valor de sete bilhões de dólares. É muito dinheiro para alguém do final da fila do banco mexer sem ter até os parentes colaterais de quinta geração muito bem vigiados.
E, vem, um destes economistas brasileiros depois de meia hora usando a palavra commodities, dizer que a época de ouro acabou. Frase imediatamente repetida pela entrevistadora do programa, sem nenhum critério e análise maior por parte dela.
Mas que época de ouro, cara-pálida?Época de ouro de quem, acabou?Dos norte-americanos?Não me parece que eles tenham vivido numa época de ouro nos últimos vinte anos,mas com desemprego e recessão.
Então, vamos continuar dividindo a conta que não fizemos? Será?Durante o governo Reagan o Tesouro norte-americano resolveu subir os juros para conter a sua inflação (sem olhar para o lados) e quebrou o México que mandou um bilhetinho para Washington, dizendo: “não podemos pagar a conta”. E foi criado o chamado efeito Tequila em que o Brasil entrou junto,o culpado, ora, é claro, o México.Os economistas bem sentados, aqui em vários locais do mundo ao contarem essa história, até hoje, lançam pedras no México. 2
A era Reagan acabou sem que aparecessem os prometidos empregos e o fim da recessão, o Clinton não conseguiu nada além de azarar uma estagiária e fazer com que os homossexuais tivessem direito de freqüentar as forças armadas. Os Bush, republicanos, arrumaram duas guerrinhas na mesma região para ver se melhoravam as finanças internas e faziam com que opinião pública do país deixasse de se preocupar com problemas tão simples como subsistência, continuou tudo igual.Só adiaram o problema.
O sistema capitalista tem infinitas formas de se adaptar,é um perfeito camaleão, quem disser o contrário não andou lendo história ultimamente,ganha com tudo, incluído a desgraça alheia, quebra uns bancos aqui e ali, outros engordam,desfazem-se algumas fortunas,criam-se outras, alguns milhares de norte-americanos perdem suas casas,surge uma novo mercado de residências recicladas ou coisa que valha, e segue o baile, até a próxima crise.
Mas nós aqui, no quintal, pelo que sei, nunca vivemos uma época de ouro e sim, continuamos numa época de metais menos nobres,e miseráveis como sempre fomos, mas e estamos muito bem em algumas commodities como, ferro, petróleo,grãos, carne,laranja etc, continuamos em alguns lugares, com mão de obra escrava e, é impossível perder o que nunca tivemos, uma época de ouro, por exemplo.
Mas perdemos a capacidade de critica e análise e a simplicidade de traduzir os fatos, isso sim.
1) Exibido em 13.03.2008.
2) Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano- de autoria do colombiano Plínio Apuleyo Mendoza, do peruano Álvaro Vargas Llosa e do cubano Carlos Alberto Montaner, com prefácios, de Mário Vargas Llosa e de Roberto Campos.

1/26/2008

Acredito na rapaziada... que rapaziada mesmo? A Portelinha é a favela mais segura atualmente do país e a mais inocente.Seu líder comunitário não é traficante e, sim, um simpático sujeito corrupto e corruptor que para se manter e manter funcionando o seu império apenas faz extorsão dos comerciantes locais.Coisa que esses concordam amavelmente dando seu dinheiro para ver todo mundo sorrindo alegre, com todos os dentes, na favela. Na Portelinha o tráfico não tem vez e ninguém empunha armas.Na recente guerra pelo poder dentro da favela, os simpáticos personagens principais esconderam-se atrás de uma mesa de bilhar para se defender das balas dos fuzis AR15 da facção contrária e, só morreram os personagens idiotas, os espertos sobreviveram todos.Por outro lado, a tropa de elite não invadiu e nem atirou em ninguém. È máximo que a ficção nacional novelística conseguiu atingir. Os roteiristas da novela exageraram na dose de realismo parafantástico, com essa novela, mostrando como é bom viver numa favela na cidade maravilhosa,samba, suor e cerveja à vontade o ano todo.O poder público do Rio de Janeiro deveria aceitar as sugestões dos roteiristas da novela e mandar seus funcionários fazer um estágio mais intenso com o administrador da Portelinha para estender o seu modelo para outras favelas do Rio, multiplicando-o, já que é um exemplo completo dos tempos da bela e poética malandragem do Rio de Janeiro,artigo que o país deveria colocar na sua pauta de exportação tamanha aceitação nacional como exemplo de viver bem com o esforço alheio, com a mulher alheia,com o dinheiro alheio.A música de Gonzaguinha que pontua as cenas do personagem principal é outra descaracterização da intenção da própria.A rapaziada a que se refere, com certeza, não é personificada pelo personagem de Antonio Fagundes. E continuando o baile de absurdos, a Universidade particular aproxima-se da favela para captar novos alunos que precisam fazer um prova muito rigorosa, quando se sabe que isso acabou no Brasil, alguém precisa atualizar os roteiristas nisso também, o chamado vestibular da maior parte das universidades pagas não passa mais de uma redação que pode ser feita de qualquer jeito que o candidato é aprovado imediatamente,bolsas integrais? Onde?Só para os moradores da Portelinha.E a Universidade pública, sumiu...Não quer saber de aluno que mora em favela. O tratamento dado ao racismo chega as raias do deboche, por um lado, dois personagens vencem a tudo e a todos os preconceitos com o amor e um filho,por outro, uma acusação falsa que mancha o caráter ilibado de um professor sugerindo que o acusador se vale da pigmentação de sua pele para obter vantagem monetária em conluio com um corpo doscente caricato de uma universidade mais caricata, com uma diretoria hilária e muito mal educada.Todos os personagens ficariam bem num sanatório para doentes mentais incluído os figurinistas que não acertam os óculos para conseguir fazer com que o ator José Wilker consiga uma olhar de intelectual inteligente e não de amante pouco entusiasmado da loira falsa, dona da Faculdade. Do lado do mal, está outro escroque que é do mal porque não é risonho, mas é tão chantagista e ladrão quanto o personagem principal da novela e, é também estereotipo dos empresários nacionais quase sempre retratados como indivíduos sem caráter, ladrões por índole que não medem esforços para realizar suas empresas e, para conseguir vencer, são capazes de roubar até moças ingênuas e indefesas.A caricatura quando bem feita, em ficção, quando bem realizada tem valor,Dias Gomes e mesmo Janete Clair não deixaram bons herdeiros no ramo dos novelistas nacionais.Tanto o molde quanto o resultado dessa novela é lamentável.

1/24/2008

Nazismo e o DNA Criminoso

Marco Celso Huffell Viola

Quando Aldos Huxley publicou Brave New World, em 1932 (Admirável Mundo Novo, na tradução para o português)a civilização industrial dava os primeiros passos e a grande novidade era o início da produção em massa dos carros Ford.
Huxley na sua criação imaginou uma civilização onde as pessoas fossem também produzidas em massa e criados seres perfeitos que pudessem ser corrigidos, caso houvesse algum erro na sua fabricação,possibilitando assim o surgimento de escravos que não criassem problemas sociais, bem como seres superiores.Parte da civilização criada pelo escritor inglês chegou mais rápido que, talvez, ele próprio imaginasse. Antes da Segunda Guerra e, durante, os nazistas começaram a fazer experimentos nesse sentido, tentando realizar uma raça pura através das casas de acasalamento onde eles reuniam casais com ancestrais arianos tentado gerar filhos perfeitos.O resultado foi o que o que se viu, apesar de todo os cuidados, nasceram muitas crianças com defeitos físicos inexplicáveis.O que eles fizeram, além disso, buscando esse resultado está documentado demais, mas nunca é demais falar sobre o assunto.
Hoje se sabe que essa idéia de raça pura não nasceu sozinha havia uma arcabouço cientifico que a sustentava a eugenia ((do grego- bem nascer) o termo foi criado pelo matemático inglês Francis Galton, primo de Darwin e estuda as melhores condições para reprodução humana.A ciência que começou par e passu com o darvinismo continua viva hoje, bem mais modernizada e virando negócio nos bancos de DNA e nas pesquisas que envolvem esse novo caminho da ciência contemporânea.
E a questão do envolvimento ético dos cientistas volta com a toda sua força quando se fala em uma pesquisa como a que deverá ser realizada com jovens prisioneiros da Fase(antiga Febem, troca o nome, mas a situação dos jovens prisioneiros continua idêntico), e jovens considerados não-violentos, pelas duas das principais universidades do Rio Grande do Sul, onde se pretende estabelecer parâmetros que conduzem a descoberta da origem da violência nos jovens aprisionados através, do inclusive, estudo do DNA.
A pesquisa lembra em tudo as práticas nazistas, prisioneiros sendo submetidos à investigação da ciência armada fisicamente e com toda a sabedoria de um psicologia pífia,de parâmetros subjetivos, quando se sabe que o pesquisador interfere no resultado da mesma, sem levar em consideração a situação física e psíquica dos apenados. Compará-los com jovens que não estão na mesma situação, é coisa de uma infantilidade primária.
E correndo por fora chega à nova deusa da ciência atual, o DNA.
Essa confiança irrestrita e sem controle numa ciência que usa o dinheiro público,- uma vez que Universidade Federal do Rio Grande do Sul o utiliza,- na busca aparente do bem estar coletivo,nem sempre pode ser o que aparenta ser. Numa sociedade organizada ou que se pretende como a nossa, é importante salientar que essa mesma confiança levou a ciência aos erros, com os já citados, e a médicos que castravam os pobres ou recomendavam a lobotomia como cura para distúrbios psíquicos, entre várias outras atrocidades que não convém enumerar aqui.
É preciso estar muito atento a isso.
Vamos tecer algumas hipóteses: E se apenas a pesquisa de DNA consegue descobrir que existe um gen da violência? Os portadores desse gen serão separados do resto da humanidade?Com quê?Com marcas adesivas?Tatuagens?Com chips subcutâneos? Confinados já ao nascer? E, se esses brilhantes pesquisadores descobrem, também, que determinadas pessoas têm tendências a carregar mais peso(como burros de carga) que outras, vamos separá-las para usá-los como serviçais?
No gado isso já está sendo feito, agora cabe a nós decidir o quanto somos gado nas mãos de uma ciência que esqueceu a ética em algum canto do seu bolso.
Eis a sociedade de castas previstas por Huxley e tentada realizar pelos nazistas e que os pesquisadores na santa inocência( que não acredito que a tenham,deve ser mais barato, mais fácil e mais cômodo-menos repercussão negativa social- fazer essa pesquisa aqui, do quem em países mais avançados) buscam encontrar aqui no Rio Grande do Sul. Se a sociedade que cerca esses pesquisadores ficar indiferente ao que eles fazem, justificados por seus títulos acadêmicos, talvez um dia eles consigam criar essa sociedade de sonho totalitário.

Sugestão de leitura
Admirável Mundo Novo-Editora Globo

1984- George Orwel- Editora Nacional
http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_79720.shtml

5/26/2007

Porto Alegre vai parar!

Vai parar de ignorar a poesia que vai invadir as ruas, os becos escuros e sem saída de uma cidade pequena que se pretende grande. Vem aí o Porto Poesia, ancorando nessa cidade que também se pretende alegre e esquece que a poesia é a verdadeira fonte da alegria.Vem aí o Porto Poesia trazendo no bojo a revolução da poesia que acontece em bares nunca dantes navegados, em saraus feitos a dez graus abaixo de zero por poetas loucos, roucos, insones, insanos que gostam de uma arte que ninguém compra e ninguém vende.Vem aí o Porto Poesia que vem para aquecer,desafogar Porto Alegre, desatolar Porto Alegre do seu bem comportado marasmo cultural e, de contrabando,escondido no porão dessa nau capitânia, vem junto a primavera, aquela prima distante de todos os poetas.

5/17/2007

Até quando seremos uma nação de perdedores? O Dólar Furado

Até quando seremos uma nação de perdedores? O Dólar Furado

Aparentemente está em curso no país mais um estelionato do governo federal contra a nação.
Talvez agora fosse a hora da Polícia Federal montar mais uma operação de nome misterioso que, sugiro que, desta vez seja o Dólar Furado e começar a investigar, mesmo, a própria casa. Ou seja, o governo federal. Ou talvez, isso seja obrigação do, quem sabe, Ministério Público.
A razão da necessidade de uma investigação, na minha opinião, está alicerçada na opinião de um importante jornalista de economia, sobre a recente queda do dólar.Ele não sugere isso, essa investigação, quem sugere sou eu, afinal, como cidadão desse país tenho todo o direito de exigir que o poder público funcione adequadamente e não prejudique a nação que representa.
De acordo com o respeitado jornalista de economia Luis Nassif, a recente queda do dólar está alicerçada em acordos um tanto suspeitos, diz a coluna dele do dia 16/05/2007 que tem como título As gambiarras e o câmbio http://luisnassif.blig.ig.com.br/”Algumas semanas atrás chamei a atenção para o acerto em curso entre a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos) e o novo Ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge. De repente, o ex-presidente da ANFAVEA Rogério Goldfarb mudou de opinião e passou a dizer que a apreciação cambial não era problema.Estava na cara o início do processo de acertos com os setores mais influentes, para calar a crítica contra o câmbio.Ontem, entre os setores “desprotegidos” que serão beneficiados com redução de tributos e encargos, estava o sofrido setor automobilístico brasileiro”.
A denúncia do jornalista, para mim, é grave, mais alguém dá importância a ela?
E a conta? Quem vai pagar esses acordos, não bem explicados?
Aparentemente toda a sociedade brasileira, todos os que estão do lado de fora do governo e dessas grandes empresas, ou seja, todos os que não se beneficiam com a especulação de um câmbio mantido artificialmente com o chamado dinheiro público.
E a mídia? Porque está a favor?O próprio Nassif em entrevista a Tv Cultura no dia 15 de maio explica: toda a mídia aumenta seus lucros na compra de material importando, tvs a cabo, revistas, etc, têm lucro com o dólar baixo.
Há setores da mídia exultantes com esse dólar furado e o exagero é tanto que, segundo Nassif, uma repórter de tv a cabo sugeriu a candidatura do atual presidente do Banco Central nas próximas eleições para a presidência da república.
Não é uma beleza?
Como é a segunda vez que acontece isso, em duas administrações subseqüentes, na primeira foi no governo Fernando Henrique que, segundo consta, já fez a sua mea culpa sobre esse “erro” econômico.
Não consigo imaginar que seja a repetição não intencional de uma mesma política, mas de uma política intencional para beneficiar os mesmos setores em detrimento de toda a economia do país que perde sempre. Aumentamos empregos na China e, em vários outros países onde os empresários brasileiros fazem compras ou grandes negócios com o dólar baixo. Perdem-se empregos aqui, quebram empresas pequenas ou seja, perdem todos. E quando a economia do país como um todo perde, repito, perdem todos.
Será que não chega desse país ser um país de perdedores?

5/15/2007

O Haiti é aqui

Marco Celso Huffell Viola - de Porto Alegre

Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade

A canção Caetano Veloso e Gilberto Gil é uma acerto inegável sobre esse país.Ela se justifica plenamente.Completamente.
No dia 7 de maio 2007) a RBS (Rede Brasil Sul, a principal rede de comunicações do Rio Grande do Sul) exibiu uma reportagem feita no Haiti pela repórter Rejane Schultz onde ela mostra os brilhantes resultados obtidos pelo exército brasileiro no Haiti na sua missão de paz junto aquele país.
Na reportagem, ela diz que é agora é possível caminhar pelas ruas de Port Príncipe com tranqüilidade e exibe alguns rostos riscados um painel como sendo os dos marginais que atormentavam as populações indefesas que hoje dançam nas ruas com algumas bandeiras brasileiras.Surge também no meio da reportagem um jovem general brasileiro, muito simpático, dizendo que está lá apenas cumprindo a sua missão e que o exército brasileiro quando não está combatendo, está auxiliando a população do Haiti.
Fui ao delírio!
Ao ver uma reportagem assim, a minha antiga profissão de repórter (de repórter policial) baixa como um espírito maligno e começa a querer melhorar a reportagem. E, na verdade, como a profissão de repórter é uma função onde existem mais perguntas que respostas, surge a primeira questão: Porque uma tv do extremo sul do Brasil vai ao Haiti fazer uma reportagem sobre aquele país?
É incomum.
Raramente, pra não dizer nunca,eles fazem reportagens internacionais.
Talvez porque o general que dirige as tropas brasileiras seja oriundo do Rio Grande do Sul, pode ser uma resposta.
Afinal, do Rio Grande do Sul teve por hábito, alguns anos atrás, fornecer generais para governar esse país, bem como civis. E, essa rede de tv não faz reportagem gratuita.Tudo nela é pago, hoje ou amanhã.Seguem a filosofia de que não existe almoço grátis.
Mas isso é apenas uma ilação, sugiro apenas aos leitores que procurem saber e guardar o nome do general, pode ser importante no futuro, o anterior que estava lá, morreu, suicidou-se, parece, em situação muito estranha. Mas quem quer saber a verdade sobre um assunto como esse? Só os arapongas desses departamentos secretos das organizações militares, o respeitável público está se lixando para isso. E os repórteres que passaram por lá, depois disso, não mencionam o fato.
Outra questão: Missão de Paz não é um eufemismo?é uma expressão forçada, pois para conseguir essa paz é necessário guerrear, Missão de Guerra seria mais adequado.
Agora o Haiti.
É um país tão miserável que povo anda comendo barro, (barro com sal, tortas de barro com sal) isso mesmo, barro, aquele coisa que dizem que todos nós somos feitos, de tão miserável que é.
Um povo pobre, autofágico, que não possui nenhuma riqueza significativa, nada, nem em terras, nem em recursos naturais, nada, vezes nada.Só gente faminta e espoliada, desde que os franceses saíram de lá.A colonização francesa teve essa característica, deixar a terra arrasada atrás de si.
E o Haiti só perpetuou o modelo colonialista extrativo.

Ah! Mas porque o grande irmão iria se incomodar em apaziguar um lugar assim? Onde não existe nada para explorar?O país faz fronteira com a Republica Dominicana que é mais um estado informal norte-americano E, ali, na República Dominicana está tudo tranqüilo, é possível aos norte-americanos, canadenses e os mais ociosos cidadãos do mundo com muitos dólares na conta aproveitarem o sol, fazendo turismo, naturismo, ou simplesmente sendo hedonistas.
Pra que se preocupar com o outro lado da fronteira que só tem vodu?
O grande irmão tem mais o que fazer.Tem que cuidar da paz do mundo, tem que cuidar dos interesses do petróleo, tem que cuidar dos interesses das empresas multinacionais sejam quais forem, esses haitianos...isso é uma África, aqui na América Central, nem consumidores são ah! Pega um exército qualquer sobre a bandeira da ONU e bota lá.
Port Príncipe é menor, aliás, o Haiti inteiro é menor que a grande São Paulo.
Agora vem outra questão, levantada recentemente na Tv Cultura quando foi entrevistado o jurista Hélio Bicudo no programa Roda Vida, quem é o comandante em chefe das forças armadas? Não é o presidente da República? A minha nova pergunta, como repórter é: porque ele, o comandante em chefe das forças armadas não desloca esse exército, esse que apaziguou o Haiti, com experiência em conflitos desse tipo( de rua, dentro de cidades) para resolver o problema das grandes e belas cidades brasileiras onde balas rascantes riscam a noite?Precisa pedir licença pra ONU?Sugiro que nós brasileiros façamos um abaixo assinado para a ONU para conseguir trazer essa força de paz apaziguadora aqui para o Brasil, já que não há vontade política de ninguém para fazer isso.
Basta deslocar esse exército, com esse bonito e generoso general que é guerreiro quando é preciso- como ele afirmou na reportagem- para tomar conta, acabar com as balas perdidas que derrubam mais brasileiros num ano que todos os haitianos que morreram desde que os Ton Ton Macoute largaram aquele lugar esquecido por Deus e feio por natureza.
E, agora perco toda a elegância e mando pra longe a reportagem e chamo esse general as falas, armado, assim, no Haiti, até eu cumpadi, quero ver se neguinho é da porrada mesmo e sobe a Rocinha até o topo, a pé, com a mão na cintura fingindo que está segurando um trinta e oito.
Hoje, não amanhã.
Mas eu não devo entender mesmo de geopolítica e muito menos de relações internacionais para considerar o Haiti mais importante que o país em que vivo. E não conseguir entender que varrer o quintal alheio seja mais fácil que varrer o próprio quintal.Triste o país que precisa de heróis, já dizia Bertold Brecht. Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade.

5/09/2007

Cultura não é entretenimento- ou então vamos criar o ministério do entretenimento

Sou fã de carteirinha de Gilberto Gil há muitos anos, compositor e músico sensível como raros no Brasil, não fiquei admirado com a sua aproximação com o atual governo. Gil sempre foi um artista engajado nas lutas sociais, sofreu com a censura no período da ditadura e mesmo depois continuou atuando politicamente, além de manter a sua carreira de músico e compositor. Atitude incomum nos artistas brasileiros, contemporâneos, que preferem ignorar o seu em torno ou então, mantém atitude de alienação, como se o artista estivesse fora do mundo,quando não têm atitudes meramente reativas ao noticiário da mídia, porque perderam a capacidade de refletir sobre a realidade adjacente.Não sei se Gil precisou assinar ficha em algum partido para atuar como ministro da cultura, o que não chega a ser relevante. Também não achei inadequada a sua indicação, li várias entrevistas onde ele dizia acreditar ser possível atuar dentro do governo e auxiliar a melhorar a realidade do país. Houve ocasião em que ele foi vaiado por estudantes insatisfeitos com o seu ministério e o da educação.Pensei que depois disso ele iria se afastar do governo já que como artista popular nunca havia sofrido uma vaia ou condenação do seu trabalho pelo público. A ligação entre política e a arte quando se torna muito presente na obra do artista, acaba prejudicando a arte do mesmo.Fica mais difícil separar os dois, quando o artista põe a sua arte a serviço da política.E, nessas ocasiões, raramente o público separa o artista do político que exerce um papel momentâneo na vida do país.Minha admiração pelo seu status de político aumentou depois disso, mesmo sabendo que o Estado que ele representa quase nada tem feito de importante para a cultura, é possível contar nos dedos as novidades surgidas nesse governo na área cultural.As leis de incentivo continuam a mesma droga de sempre, a do livro, não afetou em nada o preço final do livro, teatro, música clássica, todas as artes e artistas, todos, invariavelmente, continuam correndo atrás de patrocínio privado, não existe realmente uma política pública real de apoio à cultura nesse país.Não posso condenar o ministro por esse quadro que vem de longa data e não sei mesmo o quanto de novo ele tem feito para modificar essa situação ou apenas segue apagando incêndios. No dia 8 de maio ele deu uma entrevista ao Observatório da Imprensa sobre as novas políticas para tv e internet.Durante a entrevista mostrou todo o seu entusiasmo com a criação desse novo sistema que começa a ser apoiado pelo atual governo e que pode realmente possibilitar a democratização e a pulverização da cultura no país, através da facilidade do acesso ao uso maciço da tv e internet, se tudo o que se diz sobre o assunto for realmente verdade.Na longa entrevista que o ministro deu a Alberto Dines, na minha opinião, resvalou em apenas um assunto: Confundiu cultura com entretenimento. Mas essa não é uma confusão só dele, o repórter Dines, mesmo com larga experiência que tem, entrou na do ministro e pareceu acreditar que cultura é sinônimo de entretenimento ou as duas são a mesma coisa.Se alguém tem alguma dúvida sobre isso basta ir atrás do dicionário para conhecer a distância abissal entre as palavras e o significado de cada uma. A noção que cultura é entretenimento (ou diversão, para usar um sinônimo mais adequado) começa a partir da segunda guerra mundial com o predomínio cultural norte-americano sobre a arte. E nenhum segmento artístico ficou imune a isso e, a televisão brasileira, que era o assunto em debate do ministro com o jornalista, seguindo o mesmo padrão da tv americana tornou-se sinônimo de diversão ou entretenimento. Mas é preciso que alguém diga ao ministro, que também, até onde se sabe, ele não é um ministro do entretenimento e sim da cultura, que a cultura está acima, além e também subjacente ao entretenimento. Você pode ver um programa de televisão na Bósnia, cópia de um programa de televisão americano que, mesmo assim, os bósnios vão se comportar como bósnios e falar como bósnios, ou seja, cultura é o que faz um sujeito ser bósnio ou não bósnio.Entretenimento é o que os bósnios fazem pra se divertir, ocupar seu tempo ocioso como bons bósnios que são. O entretenimento é um aspecto da cultura e não a cultura em si.Será preciso ser mais específico que isso? Se a arte, a filosofia ou a educação, por exemplo, fossem feitas apenas para entreter talvez vivemos no melhor dos mundos e a nossa vida fosse um show permanente onde passaríamos cantando e abanando os braços para cima, feito idiotas, ou num filme hollywoodiano onde viveríamos iluminados por holofotes. Continuo fã do artista, do ministro nem tanto apesar da confusão sobre esse assunto não ser só dele.Agora, que esse país está precisando muito de cultura isso está.

5/03/2007

Um textinho de Cecília Meireles-e um pouco de tv aberta

Marco Celso Huffell Viola- Porto Alegre

Pedro Bial em um dos últimos episódios da série BBB7, para criar um clima na despedida de mais um participante, resolveu ler um “textinho de Cecília Meirelles”, os participantes que não tinham a mínima idéia de quem é/ou foi Cecília, ficaram sem entender a razão da leitura do “textinho”, o respeitável público também não entendeu, porque também não conhece uma da maiores poetisas da língua portuguesa e sem exagero da poesia ocidental.
Bial que foi um dos jornalistas importantes desse país, parece que resolveu jogar o seu currículo de grandes reportagens e entrevistas como as realizadas com Darcy Ribeiro, João Cabral de Mello Neto, entre outras, no lixo da comunicação imbecil e rasteira. E tem surtos como esse, onde tenta aparentar algum aspecto de intelectual e acaba atirando na banalidade o nome de Cecília Meireles em um programa realizado para 50 milhões de semi analfabetos ou analfabetos culturais, com participantes semi-analfabetos apresentado por um jornalista que esqueceu ou nunca teve a noção entre o importante e o fácil.
É fácil enganar um povo como o nosso, carente de tudo.
Basta brincar com a esperança daqueles que nada tem, constranger mulheres de poucos recursos a mostrar seu corpo e o diabo dá risada feliz a cada domingo que os índices de audiência empatam entre as mais importantes emissoras do país.
E, essas emissoras, sem nenhum compromisso com nada a não ser com o seu faturamento, exploram a credulidade, empurram pseudomúsica, pseudocantores, pseudo-atores guela abaixo dessa multidão de miseráveis.
E vamos rir do sujeito que caiu no chão, que caiu do telhado, que caiu, que caiu de algum lugar, que levou uma pancada, tudo narrado por um apresentador mal educado e grosseiro.
Aliás, a grosseria é marca registrada de alguns programas, onde a grosseria intitucionalizada tenta aparentar independência dos valores mínimos de convivência social e respeito físico pela integridade do próximo quando na realidade demonstra é falta de inteligência em fazer algo melhor.
E o resto da programação segue num ritmo de gincana, de todo o tipo, cada uma mais infantil que outra.
Quando não aparece um padre cantor, numa emissora católica, travestido de padre, usando um sobrepeliz vermelho que canta rebolando em cima do altar em meio a uma missa, cantando canções que ofendem a mínima noção do que seja música e letra. E outro, na mesma emissora católica, oferece à venda uma jóia em forma de cruz com terra recolhida em Israel.O clip da busca dessa tal “terra santa” pelo padre nada fica a dever aos clipes mais bregas da MTV, é de arrepiar, chega a ser pornográfico, o padre caminhando descalço, olhando para o infinito, entre as águas do Rio Jordão.Repulsivo.
Enquanto isso a igreja diz que faz esse ano a campanha da fraternidade sobre a Amazônia e essa emissora de tv não realiza um documentário, uma notícia, uma pesquisa sobre a Amazônia e, depois da missa, volta o padre cantor a repetir ladainhas para uma imagem de um santo pregada na parede.E repete suas frases com tanta veêmencia, que só sendo santo pra aguentar um chato daquele tamanho.
Mas, enquanto a tv católica não fala nada sobre a Amazônia, a outra, para enfeitar a sua grade de programação, gasta alguns milhões para produzir uma série sobre da Amazônia com veleidades sociais, utilizando uma mistura de textos que a autora não credita a ninguém a não ser a sua genialidade. Mas isso é para ser exibido às 23 horas, quase proibido para os menores em inteligência e percepção que podem interpretar mal aquelas questões de conflitos agrários que terminam por glamourizar e mitificar a luta de Chico Mendes e tantos que morreram naqueles conflitos que continuam ocorrendo, tornandos palatáveis e de fácil assimilação, tirando desses conflitos agrários o que tem de importante em troca de uma maquiagem mal feita, mas de aparente bom gosto.
Em nome da audiência criada e forjada pela estrutura dessas programações, há personagens como Jô Soares cujo programa copia os modelos de talk show norte-americanos, e que tem por objetivo de fazer rir permanentemente uma platéia escolhida de estudantes, que autentica a mediocridade das entrevistas. Quando eles riem, a entrevista vai bem, quando eles ficam quietos é hora de chamar as vinhetas e trocar o entrevistado.
Em recente entrevista realizada com o poeta Affonso Romano Santana que divulgava dois livros seus de poesia, na ânsia de agradar o auditório, ele pergunta se o Affonso não conhecia nenhuma quadrinha de banheiro.
Pior que essa, só a tv italiana ou da Libéria, se a Libéria tiver tv aberta.

Tenho medo é desses amarelos. A neo-literatura

O escritor Emanuel Medeiros Vieira propõe algumas questões simples ao atual presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva e que ele, com certeza, terá dificuldade em responder:
O senhor já leu um livro, neste ano?
O senhor já leu algum livro, no ano passado?
O senhor já leu algum livro, nos últimos dez anos?
O senhor já leu algum livro na vida?O senhor acha que literatura é algo importante?
"Emanuel, agora existe também uma nova praga, a neo-literatura. Leitura fácil e rápida, disfarçada de paradidática.
E, ele pode ter lido, afinal, o governo compra livros desse tipo, as toneladas, todo o ano.
Essas questões lembraram-me uma entrevista que demos para a TV Educativa, Paulo Markun, Nei Duclós e eu, em 2004, durante a Feira do Livro, em Porto Alegre.
Na ocasião, nós três promovíamos nossos livros.Nei, o seu romance Universo Baldio, eu, Poemas para Ler em Voz Alta e Paulo Markun, O Sapo e o Príncipe, onde ele, Markun, traçava um paralelo sobre as carreiras de Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. Dois presidentes brasileiros oriundos da esquerda e que chegavam ao poder, um após o outro.
Apesar de não estar participando da entrevista como jornalista perguntei a Markun que tipo de repercussão o seu livro tivera junto aos biografados.
Ele respondeu que recebera os cumprimentos de Fernando Henrique e do Lula estava aguardando que a esposa, dona Marisa, lesse o livro para ele:-"Porque é ela quem lê”, -respondeu Markun, finalizando.
Seria cômico se não fosse trágico.
Dois presidentes que saem da esquerda e se atiram num projeto neo liberal sem escalas para governar o Brasil, afirmando que são sociais -democratas.
Um, o Sapo Barbudo (como o chamou, certa vez, Brizola) que não precisa e nunca precisou de leitura porque tem uma intuição do cão e uma percepção extra-sensorial para a oportunidade e o peleguismo, desde seus tempos de operário. "Flor estranha criada na estufa da ditadura” clamava, também Brizola, enquanto alguns outros líderes sindicais amanheceram com boca cheia de formiga ele prosperava, engordava o seu discurso e sobrevivia a tudo.
Alguém aí lembra de Manoel Fiel Filho? Preso em 1976, sob a acusação de pertencer ao PCB e que apareceu morto, enforcado em sua cela, poucos dias depois da prisão.
E, em 1980, depois de um brilhante carreira como líder sindical, Lula lança um partido com uma bandeira vermelha, em plena Guerra Fria (e o Golbery no seu Geopolítica e o Poder, dando risada).
Suassuna em sua obra prima O Auto da Compadecida, botava na boca do cangaceiro Severino, o que ele pensava sobre João Grilo:“-Tenho medo é desses amarelos!”
Essa gente amarela, que vem do nordeste, capaz de sobreviver a qualquer coisa, não pela violência, nem pela leitura que não tem, nunca teve e até não tem nada contra, não ( é capaz até de ler um bom cordel) mas pela esperteza e sagacidade, capaz de meter medo em cangaceiro.
O outro presidente, é o príncipe, segundo identifica Markun em seu livro, Fernando Henrique. Enquanto o amarelo tem uma intuição do cão, esse tem uma formação do cão, com leitura, com vários doutorados honoris causa das mais importantes universidades do mundo.
E o país?
Bom, o país é discurso, é fazer o que todos os outros fizeram anteriormente.Transferência de recursos, etc, mas o importante não é o país e, vamos fazer uma fundação com meu nome...Afinal eu criei isso eu criei aquilo.
O plano real é plano com mais mães e pais que conheço. Tem o Ciro Gomes, o Itamar, tem o Rícupero, lembram dele? Que ganhou depois da genial jogada da parabólica como prêmio a embaixada em Lisboa.
E não vamos esquecer também o Fundo Monetário Internacional,verdadeiro progenitor de todos os planos econômicos anteriores e posteriores.Se não fosse assim Israel não teria realizado o mesmo plano de confisco de moeda, idêntico ao Collor, tal e qual.
Nada se inventa, tudo se copia.
Criou nada, princípe cara pálida.Obedeceu indistintamente a tudo e a todos...Nem se deu o trabalho de se definir politicamente depois de ter abandonado a esquerda, virou o quê? Social democrata? Mas o que é social democracia, afinal? Algo que faz acordo com os liberais?
Pra que se definir? Sem definições podemos fazer acordos á vontadeDeixa assim, melhor assim, ninguém entende nada mesmo..Economia, então.
Até 1990, ninguém no governo sabia o que era dívida pública.Isso eles afirmam num documentário feito pela TV Senado ou TV Câmera, onde os bem penteados ex-ministros Fernando Henrique, Bresser Pereira, e o hacker, ex-diretor do Banco Central, Gustavo Franco (esse Gustavo é um ET, era garoto quando assumiu a direção do principal Banco de uma das sete maiores economias do mundo, sem nenhum mérito aparente ou posterior-até agora não ganhou nenhum Nobel de economia- só posso atribuir o fato, a ele ter um padrinho maior que a mãe dele, nunca vi coisa igual no mundo) explicam o que houve em mais essa década perdida do país.
Só para lembrar:Os bancos privados vão incorporar ao seu patrimônio, até o final desse ano (2007) alguns bilhões de dólares que pertenciam aos poupadores e que foi literalmente surrupiado por um dos planos verão do senhor Bresser e et caterva.
Vejam os presidentes dos principais bancos centrais no mundo, cada um com cem anos de atividades e serviços prestados as suas nações e com 1200 pós-graduações.Aqui eles entregam a direção desse banco pra qualquer um, agora é a vez de um ex-gerente geral do Banco de Boston, bem falante, e que deu um lucro louco pra esse tal banco, aqui no Brasil, sabe como? Só aceitava como cliente do banco (quando era gerente do mesmo), salários confirmados acima de 5 mil reais, além de emprestar dinheiro ao governo que é onde os bancos fazem muito dinheiro, melhor que isso só fabricando dinheiro por conta própria. Entrevistei o homem quando ainda dirigia o tal banco norte-americano.
Vai ver se ele também não é um amarelinho.Mas voltando ao príncipe.
Ele sai do governo e sua missão é explicar, como o personagem de Lampesusa: “Fizemos tudo pra deixar tudo como está.Vem aí outro, com um discursinho mais à esquerda pra fazer a mesma coisa”.E vamos aproveitar e dar algumas palestras cobrando bem caro e fazendo graça pro diabo rir.Em país de cegos.Ninguém pergunta nada.E, parece que agora, o partido do sapo e do príncipe são sociais democratas.Está na hora de começar a cobrar essas definições, de verdade, dessa gente.
Apesar de não teres dirigido a pergunta a mim, entro na conversa e respondo, Emanuel: leitura pra quê?O exemplo dos dois presidentes, é bem claro, um leu o suficiente pra procurar deixar seu nominho na história, mentindo que fez um plano real, uma pirâmide com vista pro nada e o outro, um amarelinho que escapou da fome, da pobreza, da exclusão, porque tem uma esposa que sabe ler.
Pra isso, serve a leitura e também pra distinguir essa gente.Pra apontar quem são uns e quem são outros.E pra que serve a cultura? Goering, já dizia: me falam em cultura e puxo um revólver!
Hoje não precisa nem puxar o revólver, a cultura está tão elitista e tão sem acesso a maioria da população como estava no Quatroccento ou na baixa idade média.
Cultura virou questão de muito dinheiro.Os livros para irem para as prateleiras de algumas livrarias, têm pagar mensalidade, senão nem passam pela porta.Nas livrarias de aeroporto, se não for auto-ajuda, eles não querem.
E as editoras?Essas, estão sendo adquiridas por multinacionais ou se tornando mega editoras que crescem vendendo milhões para as compras estatais de livros chamados didáticos e para-didáticos.Nesses últimos anos as editoras brasileiros descobriram um novo veio, reciclar autores como Machado de Assis.
Recentemente uma grande editora encomendou a vários autores nacionais textos sobre o personagem Bentinho, do Machado, com novos "enfoques", é claro
E quem vai comprar essa droga?O governo.E quem vai ler?Aparentemente os neo-leitores do primeiro e segundo grau.E quem paga essa nova neo-literatura?
Advinhem...O governo, com suas maravilhosas compras anuais e cujos critérios precisam ser urgentemente reavaliados.Basta tentar entrar no site de registro dessas compras pra ver que há alguma coisa estranha acontecendo por ali.Ninguém fala nada porque para o mercado livreiro está bom, e num país em que nem o presidente lê e, quando, havia um presidente leitor, ele também nunca deu importância ao livro, pra que alguém vai se preocupar com isso?E o dinheiro é de quem botar a mão primeiro.E pelo jeito está sobrando pra encher as prateleiras de bibliotecas que ninguém vai consultar.
Quanto aos amarelinhos, por favor, não confundam o que disse aqui com preconceito, afinal, Suassuna falou neles primeiro, e esse povo tem sobrevivido a essa raça de cobras criadas porque também é todo ele um pouco amarelinho e resiste a tudo.E, talvez, seja até por isso que votaram nele, até descobrirem que por baixo daquela barba ele já renegou a sua gente e mudou de cor há muito tempo, se é que algum dia teve alguma.

4/19/2007

A universidade e o preconceito- uma coleção étnica

Tenho por parte de mãe, uma bisavó negra ainda escrava quando casou com o inglês, meu bisavô (em cartório em São Gabriel) e, por parte de pai, um italiano que chegou no Rio Grande do Sul, antes da grande imigração de 1870 e casou com uma paraguaia.
Não tenho direito a cidadania italiana porque o sobrenome se perde numa família extremamente prolífica. Não tenho e nem quero a cidadania paraguaia, porque, no máximo o que vou conseguir é alguma isenção sobre produtos importados, se algum dia virar camelô, a inglesa, então, seria luxo demais. Muito menos, posso reivindicar a cidadania nagô, que possuo legitimamente, mesmo tendo olho azul, porque sei lá que região da África minha bisavó provém. E aí, me sobra a condição de ser brasileiro e cidadão do mundo. O que é uma condição difícil, mas não lamentável. Lamento, isso sim, quando deparo com o fato de que os mais cultos,ou aparentemente mais cultos, ou seja, aqueles que tem acesso à cultura em nosso país não sabem exatamente o que são e a que vieram.Ou não fazem questão de saber, ou então fazem questão de manter esse desconhecimento e divisões étnicas,separatistas, sociais ou culturais para dele usufruir alguma benesse ou ainda, para aumentar esses abismos e criar mais guetos entre homens, nações e raças.Lamento quando deparo como o fato de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), através de sua editora ter uma coleção de livros editada por alguns, professores? que não sei se mal esclarecidos ou mal formados ou os dois, que dividiu autores (vários) do Rio Grande do Sul por algumas etnias formadoras do Estado. Nos livros editados pela universidade há textos de poetas,escritores,jornalistas, com os seguintes títulos: Nós, os afro-gaúchos; Nós, os gaúchos;Nós, os ítalo-gaúchos; Nós, os teuto-gaúchos. Estão a venda no site da Editora da Universidade www.ufrgs.br/editora/ Na lista de preços é mais fácil encontrá-los.Os organizadores destas antologias esqueceram que o Brasil, hoje, não é um Estado multinacional e sua formação racial em alguns casos é quase imprecisa. Falei em alguns casos, porque existem no país, ainda em uso entre as diversas nações indígenas quase 120 idiomas, mas mesmos essas nações apesar de possuírem seus estamentos, estão submetidos, acima de suas regras, a regras jurídicas legais e lingüísticas das quais fazem parte a configuração da nação que vivemos. Esqueceram esses, professores? as perseguições que sofreram os alemães no Rio Grande do Sul para integrarem-se? Será que esqueceram, também, no que conduziu essas separações étnicas antes e durante a segunda guerra mundial? A guerra em Ruanda entre as etnias tutsi e hutu que já matou mais de 1 milhão de pessoas -divisão étnica,essa, alimentada pelos colonizadores belgas; dos curdos, hoje, um povo sem pátria).E parece que a coleção parou nisso, por quê? Se continuasse, faltaram, imagino, títulos como: Nós, gaúchos-gauleses (que reuniriam os belgas e franceses), Nós, os gaúchos ingleses, Nós, os gaúchos espanhóis (que reuniriam os catalões e os bascos).Mas qual foi mesmo o critério de escolha para a seleção de material que consta nessas antolgias?Se o critério para escolha dos colaboradores na coleção foi pela ordem de descendência patrilinear eu poderia colaborar em apenas um dos livros.Se foi regional e patrilinear em dois livros e, se nenhum dos anteriores, poderia apresentar textos para três dos livros, pois sou pela minha ascendência: afro-gaúcho, gaúcho e ítalo-gaúcho e se mexer um pouco mais há um traço de basco.Acho interessante que nessa coleção tenham sido esquecidos, também os judeus-gaúchos e os árabes (nessa entrariam descendentes de palestinos/ turcos e todas outra etnias da qual faz parte o mundo árabe e que está presente no Rio Grande do Sul desde a sua formação, basta buscar em sociologia histórica Manoelito de Ornellas- Gaúchos e Beduínos, e na ficção Simões Lopes Neto-Lendas do Sul-A Salamanca do Jarau, cujo título já evidencia a ligação com a Espanha moura. Onde estão estes últimos?Incluídos nos gaúchos?Por quê?Suspeito que eles existam.Porque não tiveram também o seu livro, em separado, nesta linda coleção étnica?Será que faltou dinheiro para editar ou daria algum problema? Sugiro que na continuidade da coleção façam mais dois livros, além dos já citados, com os guaranis, Nós, os gaúchos tupi-guaranis, ou vamos esquecer a sua cultura e história para formação desse Estado, também? E outro, com o título:Nós,osgaúchosautosegregadosesegregadoresdaculturabrasileira.Agora vem a dúvida: Vamos pegar três exemplos, se vivos fossem no Rio Grande do Sul: Machado de Assis. Em qual dessas coletâneas o colocariam?Afro-brasileiro? E aquele negro Cruz e Souza; e aquele mulato genial Afonso de Lima Barreto, que comemora esse ano 125 anos de seu nascimento sem nenhuma grande festa (patrocinada por algum banco estatal-com direito a discursos de vários especialistas autonomeados em sua obra) e que disse: “nasci pobre, nasci mulato...Executei minha missão fui poeta!”.Não daria também mais um título:Nós,os gaúchos mulatos ?Ficamos então, no pior dos mundos.Aqueles que têm a obrigação de sinalizar, educar, mostrar, orientar, depreende-se por uma coleção dessas não terem a mínima noção do que é cultura, do que é importante em cultura, mesmo se tiveram publicado um milhão de livros antes desses.Na minha opinião, justificar por qualquer ângulo ou critério uma separação étnica para cultura é criar mais divisões e preconceitos. Tudo começa com a cultura e a educação, inclusive os preconceitos. Acredito que objetivo da editora de uma universidade seria trabalhar contra isso.Não vejo coleções com critérios étnicos,separatistas, semelhantes editadas por universidades brasileiras ou em outros países.Se houverem,por favor me avisem! Seleção de textos baseado na cor da pele de seus autores,sexo, origem familiar,localização geográfica, faixa etária,religião e profissão são restritivos e inservíveis para qualquer noção ou visão de cultura que se pretenda abrangente e importante, para não ser mais rigoroso e aprofundar as questões de racismo ou separatismo. Enquanto isso, a Universidade perde cada vez mais sua importância social e cultural com publicações como estas, realizada com dinheiro público que se prestam mais a dividir aquilo que deveria estar unido em torno de uma cultura verdadeiramente brasileira e universal.

4/17/2007

Conosco, Nei, a anatomia ficou Maicoviski

para Nei Duclós

Houve um tempo que era sempre verão
que o mundo cabia na nossa mão,
no bolso havia um mapa do céu,
cantávamos enlouquecidos a plenos pulmões, na janela,na porta, no meio da rua
para quem quisesse ouvir
sem se preocupar com a vida,
com a morte, com o tempo,
nada, nem ninguém ousava nos desafiar
ríamos de madrugada,
no focinho dos cães raivosos.
Recordo o medo e o silêncio imposto,
meu pai dizendo:
- filho, não escreve essa hora da noite,
o barulho da máquina, tem sempre alguém escutando. Mas não havia receio,
era sempre verão,
vivíamos em outro país
onde toda a geografia havido ficado louca,
éramos feitos só de poesia
e os que nos vigiavam não entendiam nosso canto
e nos olhavam desconfiados,
quando estenderam sua garras na nossa direção,
não conseguiram nos aprisionar em seu baú de ossos,
não havia armas e nem cadeia para nós,
a poesia era nossa mãe coragem,
ela nos alimentava com seu sangue e com seu suor,
e não tínhamos lágrimas,
pois cada vez que a vida nos batia, querendo nos acordar,
retrucávamos em verso ou prosa
e com um sorriso que todos nós tínhamos.
Hoje, percorrendo este labirinto de cartas, recortes, fotos e nomes esquecidos pelo caminho percebo que ela nunca nos abandonou e continua sendo verão,
toda a vida, a vida toda em nosso coração.