12/18/2008

Porto Poesia recebe Troféu Açorianos

O Porto Poesia recebeu no ultimo dia 15 de dezembro Troféu Açorianos de Incentivo a Literatura e a Leitura da Secretaria de Cultura de Porto Alegre o mais importante e representativo prêmio de literatura do Estado do Rio grande do Sul. O evento realizado no mês de outubro, reuniu em Porto Alegre nas depedências do Shopping Total, mais de 100 palestrantes, entre poetas, oficineiros, professores,etc. Na ocasião, também foram feitos lançamentos de livros, exibidos filmes e performances e contou com a presença também de autores de outros Estados. E, 2009 o Porto Poesia deverá prosseguir na sua terceira edição também no mês de outubro.

7/25/2008

PortoPoesia lança parceria com o Shopping TOTAL


Na ocasião foram apresentadas as novidades da segunda edição do festival de Poesia de Porto Alegre, que ocorre de 06 a 12 de outubro de 2008. Além disso, também foi lançado também a primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte.



No dia 16 de julho foi lançado a segunda edição do PortoPoesia – Festival de Poesia de Porto Alegre, com apresentação das novidades que o evento traz neste ano, entre elas, a parceria com o Shopping TOTAL, que sediará toda sua programação. Esta parceria foi oficializada durante o evento, com assinatura de termo de colaboração entre a organização do festival e representantes do Shopping.
A parceria entre o PortoPoesia e Shopping TOTAL se insere no novo conceito do Shopping, em valorizar a cultura, iniciado com o projeto de Lifestyle que está transformando o conjunto de prédios tombados da antiga Cervejaria Bopp, em espaços para diversas expressões da arte, com operações exclusivas distribuídas em alamedas e largos temáticos. De acordo com Marco Celso H. Viola, um dos realizadores do evento, essa parceria “desacraliza a poesia, tirando-a de dentro das livrarias e colocando-a num dos espaços mais tradicionais e belos da cidade, ao alcance de todos os públicos”.
Durante o evento, também foi lançado primeira edição do jornal PortoPoesia Literatura & Arte, uma publicação cultural que visa resgatar a tradição do jornalismo literário no Estado, abrindo espaço para a divulgação da produção local. O jornal possui um Conselho Editorial, composto pelos gestores do PortoPoesia, que elegeu três gêneros prioritários para publicação: poesia, conto e ensaio. O jornal, em formato tablóide, possui 12 páginas e terá periodicidade mensal e distribuição gratuita.

A segunda edição do festival PortoPoesia será realizada de 06 a 12 de outubro de 2008 e contará com uma programação intensa que contempla 12 palestras, 22 sessões de leituras de poesia, 4 rodas de poesias para crianças, 14 performances, 11 debates, 12 espetáculos, 10 oficinas, diversos lançamentos, sessões de autógrafos, saraus, apresentações livres, sessões de cinema e exposições de acervos, entre elas uma Mostra Nacional de Revistas de Poesia. Serão 10 horas diárias de atrações totalizando 85 apresentações em 70 horas de atividades culturais. A organização estima a participação de mais de 8 mil pessoas, durante o evento. Até o momento, mais de 50 profissionais da área da cultura e poetas confirmaram suas presenças no comando das atividades, entre eles, Armindo Trevisan, Donald Schüller, Alcy Cheuiche, Lau Siqueira, Luiz Coronel, Oliveira Silveira, Paulo Custódio, José Eduardo Degrazia,Mario Pirata, entre outros. O evento acontecerá em diversos espaços do Shopping Total. Como na edição anterior, a programação é gratuita e aberta ao publico.
O PortoPoesia é um festival de poesia concebido da união dos poetas locais, com o objetivo de abrir espaço para as produções gaúchas e tornar conhecido este importante gênero literário, a fim de democratizar a informação literária em Porto Alegre. A idéia é mobilizar pesquisadores, professores universitários, escolas de ensino médio, tradutores de poesia, profissionais do teatro, músicos, artistas plásticos, letristas, e poetas convidados, propiciando o acesso à cultura e educação, estimulando o desenvolvimento do gosto literário em crianças, jovens e no público em geral.
Além do Shopping TOTAL o PortoPoesia conta com o apoio das Secretarias de Educação e Cultura de Porto Alegre.

6/28/2008

Exumando pó ou o filho do barbeiro de Fernando Pessoa

Marco Celso Huffell Viola


A mídia e um círculo de parasitas que navega entre as academias adora comemorar, festejar a obra de autores, sejam quais forem, e os centenários,então, são o motivo ideal, cem anos disso ou daquilo.No ano seguinte a obra é esquecida e, na mesma velocidade, um novo autor “centenário” é rememorado. E, todos esses comemoradores, mordem e ganham alguma coisa com isso, ou seus quinze minutos de fama ou dinheiro mesmo.
Agora chegou a vez dos 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa. Por que 120 anos?Não entendo a razão de não comemoraram os 119 anos de nascimento ou 121, ou 119 e um quarto... Um recente documentário da Globonews sobre os 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa só mostrou o quão foi pequena ou miúda (como dizem os portugueses) a vida de um dos maiores poetas da língua portuguesa e menor ainda a imaginação do repórter, que a determinado momento chega aproximar o poeta português a Leonardo da Vinci em função de duas invenções dele, a carta-envelope e a máquina de escrever com tipos móveis,invenções essas das quais não existe o menor registro.
Por mais que o jornalista buscasse alguma coisa, revirando velhas anotações, fotos, parentes, mais distante ficava da obra do poeta. E, surge a clássica entrevista com um “estudioso,especialista” junto à estátua de bronze que paralisa em metal uma também fase miúda e magra da vida do poeta como se aquela fosse a verdadeira imagem dele.Uma caricatura em metal como tantas outras que povoam as praças do mundo de fantasmas inúteis que só servem para abrigo das pombas ou para os ladrões de bronze.
Dos especialistas,parentes, sobre a vida de Fernando Pessoa, não havia nada mais a declarar sobre ele que já não se soubesse.Em determinado ponto do documentário o jornalista resolveu entrevistar o filho do barbeiro do Fernando Pessoa...Incrível.Há no documentário, também um filme da ex-namorada, do poeta. Pra quê?Vê-se a distância uma senhora com rosto comum, pateticamente, já morta, abanando de uma janela.Nonsense puro.
O poeta não deixou a guarda de sua alma em fotos, parentes desimportantes ou mesmo no esquema de elétricos feito por ele para encontrar com a namorada.Aquilo tudo está velho desfocado,amarelo. O que ele deixou de importante foi a sua obra, não sua vida.”Viver não é preciso.”E ele viveu pouco, quase nada, o suficiente apenas para escrever.Homenagens nunca as teve,apenas um livro publicado durante sua existência física.Mas isso não interessa esses exumadores de pó como se apenas a realidade vivida pelo poeta possa revelar ou dizer sobre sua identidade,impossível para alguém que em toda a sua obra negou a sua. A vida prática do poeta português, a não ser seu encontro com Alesiter Crowlewy e a correção de seu horóscopo, nada teve mais rumoroso,importante, nada absolutamente nada estranho ou digno de nota, ao contrário da obra. A sua vida pode ser comparada aos brasileiros Drumond e Manoel Bandeira,uma vida comum, banal,cuja vida interior é muitas e várias vezes mais rica e habitada que a vida exterior.
A obra do poeta é sua vida interior,o exterior é apenas um rasgo, uma fresta aonde o verdadeiro poeta espia.Há, as exceções, quando a vida do poeta mistura com sua arte,então, existe algum significado associá-los,mesmo assim não completamente, poesia não é arte da realidade. Recentemente ouvi,um desses analistas da obra alheia, ansioso por declarar algo importante,sobre Mario Quintana.Contemporâneo de Mário (eram colegas de redação) ele falou sobre o poeta:“aprendi mais com o silêncio de Mário do com que com suas palavras.” Traduzindo: o poeta não falava com ele. Não dava a mínima importância a esse analista futuro de sua obra.
Não é ótimo?
A necessidade de aduzir, enxertar-se na pessoa da poeta é tanta que vale tudo, mesmo que isso seja completamente insignificante e desnecessário.Mas o que afirmo aqui pode ser associado a outros gêneros de arte, todos têm os seus “especialistas, não criativos” sem luz própria que precisam para sobreviver, se aquecer como mariposas na luz alheia.
Aliás, o filho do barbeiro de Fernando Pessoa perdeu a oportunidade de recolher algumas fiapos do cabelo do poeta ou de sua barba e guardar para posteridade se soubesse, na ocasião, de quem se tratava.E se fosse um filho de barbeiro com imaginação poderia dizer até que Fernando Pessoa pagava com versos ao corte de cabelo do fígaro seu pai.Mas não, tanto ele como o repórter eram um pouco sem imaginação e ficamos nós todos pensando o que poderia fazer um poeta dentro de uma barbearia, imagino que ele também poderia ter escrito o poema A Barbearia, auxiliando, e muito, as entrevistas futuras do filho do barbeiro...Ficou-me a impressão (ou me ficou a impressão?) que o poeta não gostava desse barbeiro e preferia o dono da tabacaria, resta saber se existe algum sobrevivente dessa loja onde ele comprava seus fumos, e se ele aparecer, certamente, vai colaborar apenas com a nossa compreensão da capacidade pulmonar do poeta ou vai esclarecer e espalhar mais fumaça sobre a obra de Alberto Caieiro ou Ricardo Reis?

3/20/2008

Mídia medíocre


Por mais dez anos fui setorista na área e economia de vários jornais,onde cheguei a exercer até a função de colunista fantasma de um colunista preguiçoso, além de ter realizado vários cursos e seminários de especialização sobre economia. Sempre entendi o jornalismo econômico como qualquer outro setor dentro de um veículo de comunicação, como um tradutor dos acontecimentos ou fatos. O jornalista funcionando como um filtro, com alguma reflexão ou mesmo buscando mais de uma visão de um mesmo acontecimento, possibilitando ao leitor uma melhor escolha e compreensão sobre o relatado.
Esse jornalismo sempre foi diferenciado do chamado jornalismo chapa branca que proliferou nas décadas 70/80, mas não deixou de existir e repete e repetia apenas a voz do dono, sem critica ou reflexão. Enquanto na década de 70/80 o jornalismo estava amarrado e amordaçado por censura, na década de 90 a censura econômica aperfeiçoou o serviço, e a critica e a reflexão, no jornalismo, ao ceder ao poder econômico ou ao se tornar política ideológica e/ou partidária atirou ao brejo qualquer possibilidade de seriedade.
Revendo recentemente uma retrospectiva do programa Manhattan Connection- um dos mais antigos programas de televisão por assinatura no Brasil, com 15 anos de existência- ficou bem claro que os melhores momentos do programa foram aqueles em o jornalista Paulo Francis esteve presente. Em 15 anos de programas semanais foi só o Francis que produção conseguiu encontrar. A retrospectiva terminou sendo uma homenagem merecida a ele.
Paulo Francis, antes e tudo, era um jornalista que amava e respeitava a sua profissão, quando presente, no programa, os outros participantes eram meros coadjuvantes diante do brilhantismo contraditório de Francis,”só as pessoas inteligentes são contraditórias”, dizia ele com razão, “a unanimidade é burra”, completaria Nelson Rodrigues.
Entre as várias questões apontadas por Francis estava uma critica a linguagem do jornalismo contemporâneo, voltado para uma mídia réles, simplória, repetitiva e de linguagem empolada.Em um dos momentos, Lucas Mendes fala de alguém, que ele, Lucas, considerava um grande jornalista, Francis pede, então, que cite uma frase, uma única frase desse jornalista: ”-Me cita uma frase, uma só, dele”,diz, e Lucas não consegue, sem se dar conta que o que Francis queria, e afirmava, naquela solicitação, era que o jornalismo é feito de frases e opiniões.Se o jornalista não é capaz de formular uma frase inteligente, não possuía opinião, não era um grande jornalista.
Francis fez parte de uma estirpe que deu grandes nomes ao jornalismo do Brasil, como Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Stanislau Ponte Preta, os também poetas Paulo Mendes Campos e Millor Fernandes, entre outros que estiveram também no Pasquim e renovaram a linguagem do jornalismo brasileiro..Acontece que esse jornalismo que Francis praticava,é raramente feito hoje no Brasil.Toda aquela simplicidade,análise e despojamento da linguagem, duramente adquirida pelo Pasquim, perdeu-se no tempo, retrocedeu.
No próprio programa Manhattan Connection, depois do Francis, a critica é rápida, rasteira e desaparece do programa,quando não fica unívoca, não se vê frases inteligentes,brilhantes, mas sim um programinha de dicas novaiorquinas e algumas discussãozinha sobre fatos menores da mídia norte-americana, aquela viceralidade que era dada pelo Francis hoje,esta dividida em patéticos comentários que mal conseguem ultrapassar o nível da banalidade.
Profetas do dia seguinte
E essa banalidade interpretativa empolada pode ser amplamente apreciada em vários telejornais e jornais brasileiros e para citar um exemplo, no recentemente programa exibido na Globo News Espaço Aberto- Crise Externa Qual é a Natureza da Crise?1 Nele,uma das principais setoristas de economia da Rede Globo, entrevista dois bem nutridos economistas brasileiros que deitam sabedoria sobre a crise norte-americana, que ninguém atualmente sabe qual é o tamanho do rombo e que derruba por terra várias gerações de expertos ou espertos, economistas, inclusive estes, que se soubessem que ela estaria por vir certamente teriam ficado milionários,aplicando ou indicando aos seus clientes onde aplicar seus recursos em locais protegidos dessa crise. E a prova mais contundente que nenhum desses economistas sabe exatamente o que está falando e que são profetas do dia seguinte,é a pergunta: Como não sabiam que a economia norte-americana é uma bolha vazia já há vários anos?E com tantos cálculos econômicos disponíveis não sabiam quando ela chegaria ponto de arrebentar?
Que a economia norte-americana deixou de viver de sua riqueza e parou de poupar faz tempo, para viver da poupança do resto do mundo,é sabido desde a década de oitenta, quando o controle do petróleo passou para mão dos árabes e os carros japoneses entupiram os quintais, antes produtivos de Detroit –os recentes documentários do Michel Moore são bastantes claros a esse respeito- a transferência dos empregos para países onde havia mão-de-obra mais barata e os fabulosos investimentos especulativos árabes na economia daquele país, terminaram por deixar o quadro de artificialidade bem visível.
Até onde se sabe todo o sistema capitalista está alicerçado em três bases, setor primário, setor secundário (indústria) e serviços (há escritórios na Índia que encarregados de fazer o imposto de renda de empresas norte-americanas).Não apenas a riqueza norte-americana se espalhou para todo lado, como os empregos, ficando apenas o que era mais barato fazer e produzir no país,nem a recente e multimilionária indústria eletroeletrônica escapou,procurou Taiwan, China, Índia,e assim, o crédito substituiu a produção, mais cedo ou mais tarde, alguém teria que pagar a conta.
Não duvide se dentro alguns anos os mexicanos não tenham que fechar as suas fronteiras aos norte-americanos que podem inverter o fluxo correndo para lá em busca de uma vida melhor..
Se estes profetas do dia seguinte fossem tão sábios assim, um Banco com 105 anos, como Barins não teria quebrado com o cofre cheio de análises econômicas, sobre todo o mundo, e salas abarrotadas de economistas bem nutridos e com apenas um operador mal intencionado na Ásia.Ou não teria acontecido o recente rombo suspeito num dos mais importantes bancos franceses, que na minha opinião, preferiu comprar a culpa de um funcionáriozinho do quinto escalão do que jogá-la sobre a diretoria por aplicações mal feitas na bolha vazia norte-americana, no valor de sete bilhões de dólares. É muito dinheiro para alguém do final da fila do banco mexer sem ter até os parentes colaterais de quinta geração muito bem vigiados.
E, vem, um destes economistas brasileiros depois de meia hora usando a palavra commodities, dizer que a época de ouro acabou. Frase imediatamente repetida pela entrevistadora do programa, sem nenhum critério e análise maior por parte dela.
Mas que época de ouro, cara-pálida?Época de ouro de quem, acabou?Dos norte-americanos?Não me parece que eles tenham vivido numa época de ouro nos últimos vinte anos,mas com desemprego e recessão.
Então, vamos continuar dividindo a conta que não fizemos? Será?Durante o governo Reagan o Tesouro norte-americano resolveu subir os juros para conter a sua inflação (sem olhar para o lados) e quebrou o México que mandou um bilhetinho para Washington, dizendo: “não podemos pagar a conta”. E foi criado o chamado efeito Tequila em que o Brasil entrou junto,o culpado, ora, é claro, o México.Os economistas bem sentados, aqui em vários locais do mundo ao contarem essa história, até hoje, lançam pedras no México. 2
A era Reagan acabou sem que aparecessem os prometidos empregos e o fim da recessão, o Clinton não conseguiu nada além de azarar uma estagiária e fazer com que os homossexuais tivessem direito de freqüentar as forças armadas. Os Bush, republicanos, arrumaram duas guerrinhas na mesma região para ver se melhoravam as finanças internas e faziam com que opinião pública do país deixasse de se preocupar com problemas tão simples como subsistência, continuou tudo igual.Só adiaram o problema.
O sistema capitalista tem infinitas formas de se adaptar,é um perfeito camaleão, quem disser o contrário não andou lendo história ultimamente,ganha com tudo, incluído a desgraça alheia, quebra uns bancos aqui e ali, outros engordam,desfazem-se algumas fortunas,criam-se outras, alguns milhares de norte-americanos perdem suas casas,surge uma novo mercado de residências recicladas ou coisa que valha, e segue o baile, até a próxima crise.
Mas nós aqui, no quintal, pelo que sei, nunca vivemos uma época de ouro e sim, continuamos numa época de metais menos nobres,e miseráveis como sempre fomos, mas e estamos muito bem em algumas commodities como, ferro, petróleo,grãos, carne,laranja etc, continuamos em alguns lugares, com mão de obra escrava e, é impossível perder o que nunca tivemos, uma época de ouro, por exemplo.
Mas perdemos a capacidade de critica e análise e a simplicidade de traduzir os fatos, isso sim.
1) Exibido em 13.03.2008.
2) Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano- de autoria do colombiano Plínio Apuleyo Mendoza, do peruano Álvaro Vargas Llosa e do cubano Carlos Alberto Montaner, com prefácios, de Mário Vargas Llosa e de Roberto Campos.

1/26/2008

Acredito na rapaziada... que rapaziada mesmo? A Portelinha é a favela mais segura atualmente do país e a mais inocente.Seu líder comunitário não é traficante e, sim, um simpático sujeito corrupto e corruptor que para se manter e manter funcionando o seu império apenas faz extorsão dos comerciantes locais.Coisa que esses concordam amavelmente dando seu dinheiro para ver todo mundo sorrindo alegre, com todos os dentes, na favela. Na Portelinha o tráfico não tem vez e ninguém empunha armas.Na recente guerra pelo poder dentro da favela, os simpáticos personagens principais esconderam-se atrás de uma mesa de bilhar para se defender das balas dos fuzis AR15 da facção contrária e, só morreram os personagens idiotas, os espertos sobreviveram todos.Por outro lado, a tropa de elite não invadiu e nem atirou em ninguém. È máximo que a ficção nacional novelística conseguiu atingir. Os roteiristas da novela exageraram na dose de realismo parafantástico, com essa novela, mostrando como é bom viver numa favela na cidade maravilhosa,samba, suor e cerveja à vontade o ano todo.O poder público do Rio de Janeiro deveria aceitar as sugestões dos roteiristas da novela e mandar seus funcionários fazer um estágio mais intenso com o administrador da Portelinha para estender o seu modelo para outras favelas do Rio, multiplicando-o, já que é um exemplo completo dos tempos da bela e poética malandragem do Rio de Janeiro,artigo que o país deveria colocar na sua pauta de exportação tamanha aceitação nacional como exemplo de viver bem com o esforço alheio, com a mulher alheia,com o dinheiro alheio.A música de Gonzaguinha que pontua as cenas do personagem principal é outra descaracterização da intenção da própria.A rapaziada a que se refere, com certeza, não é personificada pelo personagem de Antonio Fagundes. E continuando o baile de absurdos, a Universidade particular aproxima-se da favela para captar novos alunos que precisam fazer um prova muito rigorosa, quando se sabe que isso acabou no Brasil, alguém precisa atualizar os roteiristas nisso também, o chamado vestibular da maior parte das universidades pagas não passa mais de uma redação que pode ser feita de qualquer jeito que o candidato é aprovado imediatamente,bolsas integrais? Onde?Só para os moradores da Portelinha.E a Universidade pública, sumiu...Não quer saber de aluno que mora em favela. O tratamento dado ao racismo chega as raias do deboche, por um lado, dois personagens vencem a tudo e a todos os preconceitos com o amor e um filho,por outro, uma acusação falsa que mancha o caráter ilibado de um professor sugerindo que o acusador se vale da pigmentação de sua pele para obter vantagem monetária em conluio com um corpo doscente caricato de uma universidade mais caricata, com uma diretoria hilária e muito mal educada.Todos os personagens ficariam bem num sanatório para doentes mentais incluído os figurinistas que não acertam os óculos para conseguir fazer com que o ator José Wilker consiga uma olhar de intelectual inteligente e não de amante pouco entusiasmado da loira falsa, dona da Faculdade. Do lado do mal, está outro escroque que é do mal porque não é risonho, mas é tão chantagista e ladrão quanto o personagem principal da novela e, é também estereotipo dos empresários nacionais quase sempre retratados como indivíduos sem caráter, ladrões por índole que não medem esforços para realizar suas empresas e, para conseguir vencer, são capazes de roubar até moças ingênuas e indefesas.A caricatura quando bem feita, em ficção, quando bem realizada tem valor,Dias Gomes e mesmo Janete Clair não deixaram bons herdeiros no ramo dos novelistas nacionais.Tanto o molde quanto o resultado dessa novela é lamentável.

1/24/2008

Nazismo e o DNA Criminoso

Marco Celso Huffell Viola

Quando Aldos Huxley publicou Brave New World, em 1932 (Admirável Mundo Novo, na tradução para o português)a civilização industrial dava os primeiros passos e a grande novidade era o início da produção em massa dos carros Ford.
Huxley na sua criação imaginou uma civilização onde as pessoas fossem também produzidas em massa e criados seres perfeitos que pudessem ser corrigidos, caso houvesse algum erro na sua fabricação,possibilitando assim o surgimento de escravos que não criassem problemas sociais, bem como seres superiores.Parte da civilização criada pelo escritor inglês chegou mais rápido que, talvez, ele próprio imaginasse. Antes da Segunda Guerra e, durante, os nazistas começaram a fazer experimentos nesse sentido, tentando realizar uma raça pura através das casas de acasalamento onde eles reuniam casais com ancestrais arianos tentado gerar filhos perfeitos.O resultado foi o que o que se viu, apesar de todo os cuidados, nasceram muitas crianças com defeitos físicos inexplicáveis.O que eles fizeram, além disso, buscando esse resultado está documentado demais, mas nunca é demais falar sobre o assunto.
Hoje se sabe que essa idéia de raça pura não nasceu sozinha havia uma arcabouço cientifico que a sustentava a eugenia ((do grego- bem nascer) o termo foi criado pelo matemático inglês Francis Galton, primo de Darwin e estuda as melhores condições para reprodução humana.A ciência que começou par e passu com o darvinismo continua viva hoje, bem mais modernizada e virando negócio nos bancos de DNA e nas pesquisas que envolvem esse novo caminho da ciência contemporânea.
E a questão do envolvimento ético dos cientistas volta com a toda sua força quando se fala em uma pesquisa como a que deverá ser realizada com jovens prisioneiros da Fase(antiga Febem, troca o nome, mas a situação dos jovens prisioneiros continua idêntico), e jovens considerados não-violentos, pelas duas das principais universidades do Rio Grande do Sul, onde se pretende estabelecer parâmetros que conduzem a descoberta da origem da violência nos jovens aprisionados através, do inclusive, estudo do DNA.
A pesquisa lembra em tudo as práticas nazistas, prisioneiros sendo submetidos à investigação da ciência armada fisicamente e com toda a sabedoria de um psicologia pífia,de parâmetros subjetivos, quando se sabe que o pesquisador interfere no resultado da mesma, sem levar em consideração a situação física e psíquica dos apenados. Compará-los com jovens que não estão na mesma situação, é coisa de uma infantilidade primária.
E correndo por fora chega à nova deusa da ciência atual, o DNA.
Essa confiança irrestrita e sem controle numa ciência que usa o dinheiro público,- uma vez que Universidade Federal do Rio Grande do Sul o utiliza,- na busca aparente do bem estar coletivo,nem sempre pode ser o que aparenta ser. Numa sociedade organizada ou que se pretende como a nossa, é importante salientar que essa mesma confiança levou a ciência aos erros, com os já citados, e a médicos que castravam os pobres ou recomendavam a lobotomia como cura para distúrbios psíquicos, entre várias outras atrocidades que não convém enumerar aqui.
É preciso estar muito atento a isso.
Vamos tecer algumas hipóteses: E se apenas a pesquisa de DNA consegue descobrir que existe um gen da violência? Os portadores desse gen serão separados do resto da humanidade?Com quê?Com marcas adesivas?Tatuagens?Com chips subcutâneos? Confinados já ao nascer? E, se esses brilhantes pesquisadores descobrem, também, que determinadas pessoas têm tendências a carregar mais peso(como burros de carga) que outras, vamos separá-las para usá-los como serviçais?
No gado isso já está sendo feito, agora cabe a nós decidir o quanto somos gado nas mãos de uma ciência que esqueceu a ética em algum canto do seu bolso.
Eis a sociedade de castas previstas por Huxley e tentada realizar pelos nazistas e que os pesquisadores na santa inocência( que não acredito que a tenham,deve ser mais barato, mais fácil e mais cômodo-menos repercussão negativa social- fazer essa pesquisa aqui, do quem em países mais avançados) buscam encontrar aqui no Rio Grande do Sul. Se a sociedade que cerca esses pesquisadores ficar indiferente ao que eles fazem, justificados por seus títulos acadêmicos, talvez um dia eles consigam criar essa sociedade de sonho totalitário.

Sugestão de leitura
Admirável Mundo Novo-Editora Globo

1984- George Orwel- Editora Nacional
http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_79720.shtml

5/26/2007

Porto Alegre vai parar!

Vai parar de ignorar a poesia que vai invadir as ruas, os becos escuros e sem saída de uma cidade pequena que se pretende grande. Vem aí o Porto Poesia, ancorando nessa cidade que também se pretende alegre e esquece que a poesia é a verdadeira fonte da alegria.Vem aí o Porto Poesia trazendo no bojo a revolução da poesia que acontece em bares nunca dantes navegados, em saraus feitos a dez graus abaixo de zero por poetas loucos, roucos, insones, insanos que gostam de uma arte que ninguém compra e ninguém vende.Vem aí o Porto Poesia que vem para aquecer,desafogar Porto Alegre, desatolar Porto Alegre do seu bem comportado marasmo cultural e, de contrabando,escondido no porão dessa nau capitânia, vem junto a primavera, aquela prima distante de todos os poetas.

5/17/2007

Até quando seremos uma nação de perdedores? O Dólar Furado

Até quando seremos uma nação de perdedores? O Dólar Furado

Aparentemente está em curso no país mais um estelionato do governo federal contra a nação.
Talvez agora fosse a hora da Polícia Federal montar mais uma operação de nome misterioso que, sugiro que, desta vez seja o Dólar Furado e começar a investigar, mesmo, a própria casa. Ou seja, o governo federal. Ou talvez, isso seja obrigação do, quem sabe, Ministério Público.
A razão da necessidade de uma investigação, na minha opinião, está alicerçada na opinião de um importante jornalista de economia, sobre a recente queda do dólar.Ele não sugere isso, essa investigação, quem sugere sou eu, afinal, como cidadão desse país tenho todo o direito de exigir que o poder público funcione adequadamente e não prejudique a nação que representa.
De acordo com o respeitado jornalista de economia Luis Nassif, a recente queda do dólar está alicerçada em acordos um tanto suspeitos, diz a coluna dele do dia 16/05/2007 que tem como título As gambiarras e o câmbio http://luisnassif.blig.ig.com.br/”Algumas semanas atrás chamei a atenção para o acerto em curso entre a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos) e o novo Ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge. De repente, o ex-presidente da ANFAVEA Rogério Goldfarb mudou de opinião e passou a dizer que a apreciação cambial não era problema.Estava na cara o início do processo de acertos com os setores mais influentes, para calar a crítica contra o câmbio.Ontem, entre os setores “desprotegidos” que serão beneficiados com redução de tributos e encargos, estava o sofrido setor automobilístico brasileiro”.
A denúncia do jornalista, para mim, é grave, mais alguém dá importância a ela?
E a conta? Quem vai pagar esses acordos, não bem explicados?
Aparentemente toda a sociedade brasileira, todos os que estão do lado de fora do governo e dessas grandes empresas, ou seja, todos os que não se beneficiam com a especulação de um câmbio mantido artificialmente com o chamado dinheiro público.
E a mídia? Porque está a favor?O próprio Nassif em entrevista a Tv Cultura no dia 15 de maio explica: toda a mídia aumenta seus lucros na compra de material importando, tvs a cabo, revistas, etc, têm lucro com o dólar baixo.
Há setores da mídia exultantes com esse dólar furado e o exagero é tanto que, segundo Nassif, uma repórter de tv a cabo sugeriu a candidatura do atual presidente do Banco Central nas próximas eleições para a presidência da república.
Não é uma beleza?
Como é a segunda vez que acontece isso, em duas administrações subseqüentes, na primeira foi no governo Fernando Henrique que, segundo consta, já fez a sua mea culpa sobre esse “erro” econômico.
Não consigo imaginar que seja a repetição não intencional de uma mesma política, mas de uma política intencional para beneficiar os mesmos setores em detrimento de toda a economia do país que perde sempre. Aumentamos empregos na China e, em vários outros países onde os empresários brasileiros fazem compras ou grandes negócios com o dólar baixo. Perdem-se empregos aqui, quebram empresas pequenas ou seja, perdem todos. E quando a economia do país como um todo perde, repito, perdem todos.
Será que não chega desse país ser um país de perdedores?

5/15/2007

O Haiti é aqui

Marco Celso Huffell Viola - de Porto Alegre

Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade

A canção Caetano Veloso e Gilberto Gil é uma acerto inegável sobre esse país.Ela se justifica plenamente.Completamente.
No dia 7 de maio 2007) a RBS (Rede Brasil Sul, a principal rede de comunicações do Rio Grande do Sul) exibiu uma reportagem feita no Haiti pela repórter Rejane Schultz onde ela mostra os brilhantes resultados obtidos pelo exército brasileiro no Haiti na sua missão de paz junto aquele país.
Na reportagem, ela diz que é agora é possível caminhar pelas ruas de Port Príncipe com tranqüilidade e exibe alguns rostos riscados um painel como sendo os dos marginais que atormentavam as populações indefesas que hoje dançam nas ruas com algumas bandeiras brasileiras.Surge também no meio da reportagem um jovem general brasileiro, muito simpático, dizendo que está lá apenas cumprindo a sua missão e que o exército brasileiro quando não está combatendo, está auxiliando a população do Haiti.
Fui ao delírio!
Ao ver uma reportagem assim, a minha antiga profissão de repórter (de repórter policial) baixa como um espírito maligno e começa a querer melhorar a reportagem. E, na verdade, como a profissão de repórter é uma função onde existem mais perguntas que respostas, surge a primeira questão: Porque uma tv do extremo sul do Brasil vai ao Haiti fazer uma reportagem sobre aquele país?
É incomum.
Raramente, pra não dizer nunca,eles fazem reportagens internacionais.
Talvez porque o general que dirige as tropas brasileiras seja oriundo do Rio Grande do Sul, pode ser uma resposta.
Afinal, do Rio Grande do Sul teve por hábito, alguns anos atrás, fornecer generais para governar esse país, bem como civis. E, essa rede de tv não faz reportagem gratuita.Tudo nela é pago, hoje ou amanhã.Seguem a filosofia de que não existe almoço grátis.
Mas isso é apenas uma ilação, sugiro apenas aos leitores que procurem saber e guardar o nome do general, pode ser importante no futuro, o anterior que estava lá, morreu, suicidou-se, parece, em situação muito estranha. Mas quem quer saber a verdade sobre um assunto como esse? Só os arapongas desses departamentos secretos das organizações militares, o respeitável público está se lixando para isso. E os repórteres que passaram por lá, depois disso, não mencionam o fato.
Outra questão: Missão de Paz não é um eufemismo?é uma expressão forçada, pois para conseguir essa paz é necessário guerrear, Missão de Guerra seria mais adequado.
Agora o Haiti.
É um país tão miserável que povo anda comendo barro, (barro com sal, tortas de barro com sal) isso mesmo, barro, aquele coisa que dizem que todos nós somos feitos, de tão miserável que é.
Um povo pobre, autofágico, que não possui nenhuma riqueza significativa, nada, nem em terras, nem em recursos naturais, nada, vezes nada.Só gente faminta e espoliada, desde que os franceses saíram de lá.A colonização francesa teve essa característica, deixar a terra arrasada atrás de si.
E o Haiti só perpetuou o modelo colonialista extrativo.

Ah! Mas porque o grande irmão iria se incomodar em apaziguar um lugar assim? Onde não existe nada para explorar?O país faz fronteira com a Republica Dominicana que é mais um estado informal norte-americano E, ali, na República Dominicana está tudo tranqüilo, é possível aos norte-americanos, canadenses e os mais ociosos cidadãos do mundo com muitos dólares na conta aproveitarem o sol, fazendo turismo, naturismo, ou simplesmente sendo hedonistas.
Pra que se preocupar com o outro lado da fronteira que só tem vodu?
O grande irmão tem mais o que fazer.Tem que cuidar da paz do mundo, tem que cuidar dos interesses do petróleo, tem que cuidar dos interesses das empresas multinacionais sejam quais forem, esses haitianos...isso é uma África, aqui na América Central, nem consumidores são ah! Pega um exército qualquer sobre a bandeira da ONU e bota lá.
Port Príncipe é menor, aliás, o Haiti inteiro é menor que a grande São Paulo.
Agora vem outra questão, levantada recentemente na Tv Cultura quando foi entrevistado o jurista Hélio Bicudo no programa Roda Vida, quem é o comandante em chefe das forças armadas? Não é o presidente da República? A minha nova pergunta, como repórter é: porque ele, o comandante em chefe das forças armadas não desloca esse exército, esse que apaziguou o Haiti, com experiência em conflitos desse tipo( de rua, dentro de cidades) para resolver o problema das grandes e belas cidades brasileiras onde balas rascantes riscam a noite?Precisa pedir licença pra ONU?Sugiro que nós brasileiros façamos um abaixo assinado para a ONU para conseguir trazer essa força de paz apaziguadora aqui para o Brasil, já que não há vontade política de ninguém para fazer isso.
Basta deslocar esse exército, com esse bonito e generoso general que é guerreiro quando é preciso- como ele afirmou na reportagem- para tomar conta, acabar com as balas perdidas que derrubam mais brasileiros num ano que todos os haitianos que morreram desde que os Ton Ton Macoute largaram aquele lugar esquecido por Deus e feio por natureza.
E, agora perco toda a elegância e mando pra longe a reportagem e chamo esse general as falas, armado, assim, no Haiti, até eu cumpadi, quero ver se neguinho é da porrada mesmo e sobe a Rocinha até o topo, a pé, com a mão na cintura fingindo que está segurando um trinta e oito.
Hoje, não amanhã.
Mas eu não devo entender mesmo de geopolítica e muito menos de relações internacionais para considerar o Haiti mais importante que o país em que vivo. E não conseguir entender que varrer o quintal alheio seja mais fácil que varrer o próprio quintal.Triste o país que precisa de heróis, já dizia Bertold Brecht. Esse país não precisa de heróis, precisa de homens de verdade.

5/09/2007

Cultura não é entretenimento- ou então vamos criar o ministério do entretenimento

Sou fã de carteirinha de Gilberto Gil há muitos anos, compositor e músico sensível como raros no Brasil, não fiquei admirado com a sua aproximação com o atual governo. Gil sempre foi um artista engajado nas lutas sociais, sofreu com a censura no período da ditadura e mesmo depois continuou atuando politicamente, além de manter a sua carreira de músico e compositor. Atitude incomum nos artistas brasileiros, contemporâneos, que preferem ignorar o seu em torno ou então, mantém atitude de alienação, como se o artista estivesse fora do mundo,quando não têm atitudes meramente reativas ao noticiário da mídia, porque perderam a capacidade de refletir sobre a realidade adjacente.Não sei se Gil precisou assinar ficha em algum partido para atuar como ministro da cultura, o que não chega a ser relevante. Também não achei inadequada a sua indicação, li várias entrevistas onde ele dizia acreditar ser possível atuar dentro do governo e auxiliar a melhorar a realidade do país. Houve ocasião em que ele foi vaiado por estudantes insatisfeitos com o seu ministério e o da educação.Pensei que depois disso ele iria se afastar do governo já que como artista popular nunca havia sofrido uma vaia ou condenação do seu trabalho pelo público. A ligação entre política e a arte quando se torna muito presente na obra do artista, acaba prejudicando a arte do mesmo.Fica mais difícil separar os dois, quando o artista põe a sua arte a serviço da política.E, nessas ocasiões, raramente o público separa o artista do político que exerce um papel momentâneo na vida do país.Minha admiração pelo seu status de político aumentou depois disso, mesmo sabendo que o Estado que ele representa quase nada tem feito de importante para a cultura, é possível contar nos dedos as novidades surgidas nesse governo na área cultural.As leis de incentivo continuam a mesma droga de sempre, a do livro, não afetou em nada o preço final do livro, teatro, música clássica, todas as artes e artistas, todos, invariavelmente, continuam correndo atrás de patrocínio privado, não existe realmente uma política pública real de apoio à cultura nesse país.Não posso condenar o ministro por esse quadro que vem de longa data e não sei mesmo o quanto de novo ele tem feito para modificar essa situação ou apenas segue apagando incêndios. No dia 8 de maio ele deu uma entrevista ao Observatório da Imprensa sobre as novas políticas para tv e internet.Durante a entrevista mostrou todo o seu entusiasmo com a criação desse novo sistema que começa a ser apoiado pelo atual governo e que pode realmente possibilitar a democratização e a pulverização da cultura no país, através da facilidade do acesso ao uso maciço da tv e internet, se tudo o que se diz sobre o assunto for realmente verdade.Na longa entrevista que o ministro deu a Alberto Dines, na minha opinião, resvalou em apenas um assunto: Confundiu cultura com entretenimento. Mas essa não é uma confusão só dele, o repórter Dines, mesmo com larga experiência que tem, entrou na do ministro e pareceu acreditar que cultura é sinônimo de entretenimento ou as duas são a mesma coisa.Se alguém tem alguma dúvida sobre isso basta ir atrás do dicionário para conhecer a distância abissal entre as palavras e o significado de cada uma. A noção que cultura é entretenimento (ou diversão, para usar um sinônimo mais adequado) começa a partir da segunda guerra mundial com o predomínio cultural norte-americano sobre a arte. E nenhum segmento artístico ficou imune a isso e, a televisão brasileira, que era o assunto em debate do ministro com o jornalista, seguindo o mesmo padrão da tv americana tornou-se sinônimo de diversão ou entretenimento. Mas é preciso que alguém diga ao ministro, que também, até onde se sabe, ele não é um ministro do entretenimento e sim da cultura, que a cultura está acima, além e também subjacente ao entretenimento. Você pode ver um programa de televisão na Bósnia, cópia de um programa de televisão americano que, mesmo assim, os bósnios vão se comportar como bósnios e falar como bósnios, ou seja, cultura é o que faz um sujeito ser bósnio ou não bósnio.Entretenimento é o que os bósnios fazem pra se divertir, ocupar seu tempo ocioso como bons bósnios que são. O entretenimento é um aspecto da cultura e não a cultura em si.Será preciso ser mais específico que isso? Se a arte, a filosofia ou a educação, por exemplo, fossem feitas apenas para entreter talvez vivemos no melhor dos mundos e a nossa vida fosse um show permanente onde passaríamos cantando e abanando os braços para cima, feito idiotas, ou num filme hollywoodiano onde viveríamos iluminados por holofotes. Continuo fã do artista, do ministro nem tanto apesar da confusão sobre esse assunto não ser só dele.Agora, que esse país está precisando muito de cultura isso está.

5/03/2007

Um textinho de Cecília Meireles-e um pouco de tv aberta

Marco Celso Huffell Viola- Porto Alegre

Pedro Bial em um dos últimos episódios da série BBB7, para criar um clima na despedida de mais um participante, resolveu ler um “textinho de Cecília Meirelles”, os participantes que não tinham a mínima idéia de quem é/ou foi Cecília, ficaram sem entender a razão da leitura do “textinho”, o respeitável público também não entendeu, porque também não conhece uma da maiores poetisas da língua portuguesa e sem exagero da poesia ocidental.
Bial que foi um dos jornalistas importantes desse país, parece que resolveu jogar o seu currículo de grandes reportagens e entrevistas como as realizadas com Darcy Ribeiro, João Cabral de Mello Neto, entre outras, no lixo da comunicação imbecil e rasteira. E tem surtos como esse, onde tenta aparentar algum aspecto de intelectual e acaba atirando na banalidade o nome de Cecília Meireles em um programa realizado para 50 milhões de semi analfabetos ou analfabetos culturais, com participantes semi-analfabetos apresentado por um jornalista que esqueceu ou nunca teve a noção entre o importante e o fácil.
É fácil enganar um povo como o nosso, carente de tudo.
Basta brincar com a esperança daqueles que nada tem, constranger mulheres de poucos recursos a mostrar seu corpo e o diabo dá risada feliz a cada domingo que os índices de audiência empatam entre as mais importantes emissoras do país.
E, essas emissoras, sem nenhum compromisso com nada a não ser com o seu faturamento, exploram a credulidade, empurram pseudomúsica, pseudocantores, pseudo-atores guela abaixo dessa multidão de miseráveis.
E vamos rir do sujeito que caiu no chão, que caiu do telhado, que caiu, que caiu de algum lugar, que levou uma pancada, tudo narrado por um apresentador mal educado e grosseiro.
Aliás, a grosseria é marca registrada de alguns programas, onde a grosseria intitucionalizada tenta aparentar independência dos valores mínimos de convivência social e respeito físico pela integridade do próximo quando na realidade demonstra é falta de inteligência em fazer algo melhor.
E o resto da programação segue num ritmo de gincana, de todo o tipo, cada uma mais infantil que outra.
Quando não aparece um padre cantor, numa emissora católica, travestido de padre, usando um sobrepeliz vermelho que canta rebolando em cima do altar em meio a uma missa, cantando canções que ofendem a mínima noção do que seja música e letra. E outro, na mesma emissora católica, oferece à venda uma jóia em forma de cruz com terra recolhida em Israel.O clip da busca dessa tal “terra santa” pelo padre nada fica a dever aos clipes mais bregas da MTV, é de arrepiar, chega a ser pornográfico, o padre caminhando descalço, olhando para o infinito, entre as águas do Rio Jordão.Repulsivo.
Enquanto isso a igreja diz que faz esse ano a campanha da fraternidade sobre a Amazônia e essa emissora de tv não realiza um documentário, uma notícia, uma pesquisa sobre a Amazônia e, depois da missa, volta o padre cantor a repetir ladainhas para uma imagem de um santo pregada na parede.E repete suas frases com tanta veêmencia, que só sendo santo pra aguentar um chato daquele tamanho.
Mas, enquanto a tv católica não fala nada sobre a Amazônia, a outra, para enfeitar a sua grade de programação, gasta alguns milhões para produzir uma série sobre da Amazônia com veleidades sociais, utilizando uma mistura de textos que a autora não credita a ninguém a não ser a sua genialidade. Mas isso é para ser exibido às 23 horas, quase proibido para os menores em inteligência e percepção que podem interpretar mal aquelas questões de conflitos agrários que terminam por glamourizar e mitificar a luta de Chico Mendes e tantos que morreram naqueles conflitos que continuam ocorrendo, tornandos palatáveis e de fácil assimilação, tirando desses conflitos agrários o que tem de importante em troca de uma maquiagem mal feita, mas de aparente bom gosto.
Em nome da audiência criada e forjada pela estrutura dessas programações, há personagens como Jô Soares cujo programa copia os modelos de talk show norte-americanos, e que tem por objetivo de fazer rir permanentemente uma platéia escolhida de estudantes, que autentica a mediocridade das entrevistas. Quando eles riem, a entrevista vai bem, quando eles ficam quietos é hora de chamar as vinhetas e trocar o entrevistado.
Em recente entrevista realizada com o poeta Affonso Romano Santana que divulgava dois livros seus de poesia, na ânsia de agradar o auditório, ele pergunta se o Affonso não conhecia nenhuma quadrinha de banheiro.
Pior que essa, só a tv italiana ou da Libéria, se a Libéria tiver tv aberta.

Tenho medo é desses amarelos. A neo-literatura

O escritor Emanuel Medeiros Vieira propõe algumas questões simples ao atual presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva e que ele, com certeza, terá dificuldade em responder:
O senhor já leu um livro, neste ano?
O senhor já leu algum livro, no ano passado?
O senhor já leu algum livro, nos últimos dez anos?
O senhor já leu algum livro na vida?O senhor acha que literatura é algo importante?
"Emanuel, agora existe também uma nova praga, a neo-literatura. Leitura fácil e rápida, disfarçada de paradidática.
E, ele pode ter lido, afinal, o governo compra livros desse tipo, as toneladas, todo o ano.
Essas questões lembraram-me uma entrevista que demos para a TV Educativa, Paulo Markun, Nei Duclós e eu, em 2004, durante a Feira do Livro, em Porto Alegre.
Na ocasião, nós três promovíamos nossos livros.Nei, o seu romance Universo Baldio, eu, Poemas para Ler em Voz Alta e Paulo Markun, O Sapo e o Príncipe, onde ele, Markun, traçava um paralelo sobre as carreiras de Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. Dois presidentes brasileiros oriundos da esquerda e que chegavam ao poder, um após o outro.
Apesar de não estar participando da entrevista como jornalista perguntei a Markun que tipo de repercussão o seu livro tivera junto aos biografados.
Ele respondeu que recebera os cumprimentos de Fernando Henrique e do Lula estava aguardando que a esposa, dona Marisa, lesse o livro para ele:-"Porque é ela quem lê”, -respondeu Markun, finalizando.
Seria cômico se não fosse trágico.
Dois presidentes que saem da esquerda e se atiram num projeto neo liberal sem escalas para governar o Brasil, afirmando que são sociais -democratas.
Um, o Sapo Barbudo (como o chamou, certa vez, Brizola) que não precisa e nunca precisou de leitura porque tem uma intuição do cão e uma percepção extra-sensorial para a oportunidade e o peleguismo, desde seus tempos de operário. "Flor estranha criada na estufa da ditadura” clamava, também Brizola, enquanto alguns outros líderes sindicais amanheceram com boca cheia de formiga ele prosperava, engordava o seu discurso e sobrevivia a tudo.
Alguém aí lembra de Manoel Fiel Filho? Preso em 1976, sob a acusação de pertencer ao PCB e que apareceu morto, enforcado em sua cela, poucos dias depois da prisão.
E, em 1980, depois de um brilhante carreira como líder sindical, Lula lança um partido com uma bandeira vermelha, em plena Guerra Fria (e o Golbery no seu Geopolítica e o Poder, dando risada).
Suassuna em sua obra prima O Auto da Compadecida, botava na boca do cangaceiro Severino, o que ele pensava sobre João Grilo:“-Tenho medo é desses amarelos!”
Essa gente amarela, que vem do nordeste, capaz de sobreviver a qualquer coisa, não pela violência, nem pela leitura que não tem, nunca teve e até não tem nada contra, não ( é capaz até de ler um bom cordel) mas pela esperteza e sagacidade, capaz de meter medo em cangaceiro.
O outro presidente, é o príncipe, segundo identifica Markun em seu livro, Fernando Henrique. Enquanto o amarelo tem uma intuição do cão, esse tem uma formação do cão, com leitura, com vários doutorados honoris causa das mais importantes universidades do mundo.
E o país?
Bom, o país é discurso, é fazer o que todos os outros fizeram anteriormente.Transferência de recursos, etc, mas o importante não é o país e, vamos fazer uma fundação com meu nome...Afinal eu criei isso eu criei aquilo.
O plano real é plano com mais mães e pais que conheço. Tem o Ciro Gomes, o Itamar, tem o Rícupero, lembram dele? Que ganhou depois da genial jogada da parabólica como prêmio a embaixada em Lisboa.
E não vamos esquecer também o Fundo Monetário Internacional,verdadeiro progenitor de todos os planos econômicos anteriores e posteriores.Se não fosse assim Israel não teria realizado o mesmo plano de confisco de moeda, idêntico ao Collor, tal e qual.
Nada se inventa, tudo se copia.
Criou nada, princípe cara pálida.Obedeceu indistintamente a tudo e a todos...Nem se deu o trabalho de se definir politicamente depois de ter abandonado a esquerda, virou o quê? Social democrata? Mas o que é social democracia, afinal? Algo que faz acordo com os liberais?
Pra que se definir? Sem definições podemos fazer acordos á vontadeDeixa assim, melhor assim, ninguém entende nada mesmo..Economia, então.
Até 1990, ninguém no governo sabia o que era dívida pública.Isso eles afirmam num documentário feito pela TV Senado ou TV Câmera, onde os bem penteados ex-ministros Fernando Henrique, Bresser Pereira, e o hacker, ex-diretor do Banco Central, Gustavo Franco (esse Gustavo é um ET, era garoto quando assumiu a direção do principal Banco de uma das sete maiores economias do mundo, sem nenhum mérito aparente ou posterior-até agora não ganhou nenhum Nobel de economia- só posso atribuir o fato, a ele ter um padrinho maior que a mãe dele, nunca vi coisa igual no mundo) explicam o que houve em mais essa década perdida do país.
Só para lembrar:Os bancos privados vão incorporar ao seu patrimônio, até o final desse ano (2007) alguns bilhões de dólares que pertenciam aos poupadores e que foi literalmente surrupiado por um dos planos verão do senhor Bresser e et caterva.
Vejam os presidentes dos principais bancos centrais no mundo, cada um com cem anos de atividades e serviços prestados as suas nações e com 1200 pós-graduações.Aqui eles entregam a direção desse banco pra qualquer um, agora é a vez de um ex-gerente geral do Banco de Boston, bem falante, e que deu um lucro louco pra esse tal banco, aqui no Brasil, sabe como? Só aceitava como cliente do banco (quando era gerente do mesmo), salários confirmados acima de 5 mil reais, além de emprestar dinheiro ao governo que é onde os bancos fazem muito dinheiro, melhor que isso só fabricando dinheiro por conta própria. Entrevistei o homem quando ainda dirigia o tal banco norte-americano.
Vai ver se ele também não é um amarelinho.Mas voltando ao príncipe.
Ele sai do governo e sua missão é explicar, como o personagem de Lampesusa: “Fizemos tudo pra deixar tudo como está.Vem aí outro, com um discursinho mais à esquerda pra fazer a mesma coisa”.E vamos aproveitar e dar algumas palestras cobrando bem caro e fazendo graça pro diabo rir.Em país de cegos.Ninguém pergunta nada.E, parece que agora, o partido do sapo e do príncipe são sociais democratas.Está na hora de começar a cobrar essas definições, de verdade, dessa gente.
Apesar de não teres dirigido a pergunta a mim, entro na conversa e respondo, Emanuel: leitura pra quê?O exemplo dos dois presidentes, é bem claro, um leu o suficiente pra procurar deixar seu nominho na história, mentindo que fez um plano real, uma pirâmide com vista pro nada e o outro, um amarelinho que escapou da fome, da pobreza, da exclusão, porque tem uma esposa que sabe ler.
Pra isso, serve a leitura e também pra distinguir essa gente.Pra apontar quem são uns e quem são outros.E pra que serve a cultura? Goering, já dizia: me falam em cultura e puxo um revólver!
Hoje não precisa nem puxar o revólver, a cultura está tão elitista e tão sem acesso a maioria da população como estava no Quatroccento ou na baixa idade média.
Cultura virou questão de muito dinheiro.Os livros para irem para as prateleiras de algumas livrarias, têm pagar mensalidade, senão nem passam pela porta.Nas livrarias de aeroporto, se não for auto-ajuda, eles não querem.
E as editoras?Essas, estão sendo adquiridas por multinacionais ou se tornando mega editoras que crescem vendendo milhões para as compras estatais de livros chamados didáticos e para-didáticos.Nesses últimos anos as editoras brasileiros descobriram um novo veio, reciclar autores como Machado de Assis.
Recentemente uma grande editora encomendou a vários autores nacionais textos sobre o personagem Bentinho, do Machado, com novos "enfoques", é claro
E quem vai comprar essa droga?O governo.E quem vai ler?Aparentemente os neo-leitores do primeiro e segundo grau.E quem paga essa nova neo-literatura?
Advinhem...O governo, com suas maravilhosas compras anuais e cujos critérios precisam ser urgentemente reavaliados.Basta tentar entrar no site de registro dessas compras pra ver que há alguma coisa estranha acontecendo por ali.Ninguém fala nada porque para o mercado livreiro está bom, e num país em que nem o presidente lê e, quando, havia um presidente leitor, ele também nunca deu importância ao livro, pra que alguém vai se preocupar com isso?E o dinheiro é de quem botar a mão primeiro.E pelo jeito está sobrando pra encher as prateleiras de bibliotecas que ninguém vai consultar.
Quanto aos amarelinhos, por favor, não confundam o que disse aqui com preconceito, afinal, Suassuna falou neles primeiro, e esse povo tem sobrevivido a essa raça de cobras criadas porque também é todo ele um pouco amarelinho e resiste a tudo.E, talvez, seja até por isso que votaram nele, até descobrirem que por baixo daquela barba ele já renegou a sua gente e mudou de cor há muito tempo, se é que algum dia teve alguma.

4/19/2007

A universidade e o preconceito- uma coleção étnica

Tenho por parte de mãe, uma bisavó negra ainda escrava quando casou com o inglês, meu bisavô (em cartório em São Gabriel) e, por parte de pai, um italiano que chegou no Rio Grande do Sul, antes da grande imigração de 1870 e casou com uma paraguaia.
Não tenho direito a cidadania italiana porque o sobrenome se perde numa família extremamente prolífica. Não tenho e nem quero a cidadania paraguaia, porque, no máximo o que vou conseguir é alguma isenção sobre produtos importados, se algum dia virar camelô, a inglesa, então, seria luxo demais. Muito menos, posso reivindicar a cidadania nagô, que possuo legitimamente, mesmo tendo olho azul, porque sei lá que região da África minha bisavó provém. E aí, me sobra a condição de ser brasileiro e cidadão do mundo. O que é uma condição difícil, mas não lamentável. Lamento, isso sim, quando deparo com o fato de que os mais cultos,ou aparentemente mais cultos, ou seja, aqueles que tem acesso à cultura em nosso país não sabem exatamente o que são e a que vieram.Ou não fazem questão de saber, ou então fazem questão de manter esse desconhecimento e divisões étnicas,separatistas, sociais ou culturais para dele usufruir alguma benesse ou ainda, para aumentar esses abismos e criar mais guetos entre homens, nações e raças.Lamento quando deparo como o fato de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), através de sua editora ter uma coleção de livros editada por alguns, professores? que não sei se mal esclarecidos ou mal formados ou os dois, que dividiu autores (vários) do Rio Grande do Sul por algumas etnias formadoras do Estado. Nos livros editados pela universidade há textos de poetas,escritores,jornalistas, com os seguintes títulos: Nós, os afro-gaúchos; Nós, os gaúchos;Nós, os ítalo-gaúchos; Nós, os teuto-gaúchos. Estão a venda no site da Editora da Universidade www.ufrgs.br/editora/ Na lista de preços é mais fácil encontrá-los.Os organizadores destas antologias esqueceram que o Brasil, hoje, não é um Estado multinacional e sua formação racial em alguns casos é quase imprecisa. Falei em alguns casos, porque existem no país, ainda em uso entre as diversas nações indígenas quase 120 idiomas, mas mesmos essas nações apesar de possuírem seus estamentos, estão submetidos, acima de suas regras, a regras jurídicas legais e lingüísticas das quais fazem parte a configuração da nação que vivemos. Esqueceram esses, professores? as perseguições que sofreram os alemães no Rio Grande do Sul para integrarem-se? Será que esqueceram, também, no que conduziu essas separações étnicas antes e durante a segunda guerra mundial? A guerra em Ruanda entre as etnias tutsi e hutu que já matou mais de 1 milhão de pessoas -divisão étnica,essa, alimentada pelos colonizadores belgas; dos curdos, hoje, um povo sem pátria).E parece que a coleção parou nisso, por quê? Se continuasse, faltaram, imagino, títulos como: Nós, gaúchos-gauleses (que reuniriam os belgas e franceses), Nós, os gaúchos ingleses, Nós, os gaúchos espanhóis (que reuniriam os catalões e os bascos).Mas qual foi mesmo o critério de escolha para a seleção de material que consta nessas antolgias?Se o critério para escolha dos colaboradores na coleção foi pela ordem de descendência patrilinear eu poderia colaborar em apenas um dos livros.Se foi regional e patrilinear em dois livros e, se nenhum dos anteriores, poderia apresentar textos para três dos livros, pois sou pela minha ascendência: afro-gaúcho, gaúcho e ítalo-gaúcho e se mexer um pouco mais há um traço de basco.Acho interessante que nessa coleção tenham sido esquecidos, também os judeus-gaúchos e os árabes (nessa entrariam descendentes de palestinos/ turcos e todas outra etnias da qual faz parte o mundo árabe e que está presente no Rio Grande do Sul desde a sua formação, basta buscar em sociologia histórica Manoelito de Ornellas- Gaúchos e Beduínos, e na ficção Simões Lopes Neto-Lendas do Sul-A Salamanca do Jarau, cujo título já evidencia a ligação com a Espanha moura. Onde estão estes últimos?Incluídos nos gaúchos?Por quê?Suspeito que eles existam.Porque não tiveram também o seu livro, em separado, nesta linda coleção étnica?Será que faltou dinheiro para editar ou daria algum problema? Sugiro que na continuidade da coleção façam mais dois livros, além dos já citados, com os guaranis, Nós, os gaúchos tupi-guaranis, ou vamos esquecer a sua cultura e história para formação desse Estado, também? E outro, com o título:Nós,osgaúchosautosegregadosesegregadoresdaculturabrasileira.Agora vem a dúvida: Vamos pegar três exemplos, se vivos fossem no Rio Grande do Sul: Machado de Assis. Em qual dessas coletâneas o colocariam?Afro-brasileiro? E aquele negro Cruz e Souza; e aquele mulato genial Afonso de Lima Barreto, que comemora esse ano 125 anos de seu nascimento sem nenhuma grande festa (patrocinada por algum banco estatal-com direito a discursos de vários especialistas autonomeados em sua obra) e que disse: “nasci pobre, nasci mulato...Executei minha missão fui poeta!”.Não daria também mais um título:Nós,os gaúchos mulatos ?Ficamos então, no pior dos mundos.Aqueles que têm a obrigação de sinalizar, educar, mostrar, orientar, depreende-se por uma coleção dessas não terem a mínima noção do que é cultura, do que é importante em cultura, mesmo se tiveram publicado um milhão de livros antes desses.Na minha opinião, justificar por qualquer ângulo ou critério uma separação étnica para cultura é criar mais divisões e preconceitos. Tudo começa com a cultura e a educação, inclusive os preconceitos. Acredito que objetivo da editora de uma universidade seria trabalhar contra isso.Não vejo coleções com critérios étnicos,separatistas, semelhantes editadas por universidades brasileiras ou em outros países.Se houverem,por favor me avisem! Seleção de textos baseado na cor da pele de seus autores,sexo, origem familiar,localização geográfica, faixa etária,religião e profissão são restritivos e inservíveis para qualquer noção ou visão de cultura que se pretenda abrangente e importante, para não ser mais rigoroso e aprofundar as questões de racismo ou separatismo. Enquanto isso, a Universidade perde cada vez mais sua importância social e cultural com publicações como estas, realizada com dinheiro público que se prestam mais a dividir aquilo que deveria estar unido em torno de uma cultura verdadeiramente brasileira e universal.

4/17/2007

Conosco, Nei, a anatomia ficou Maicoviski

para Nei Duclós

Houve um tempo que era sempre verão
que o mundo cabia na nossa mão,
no bolso havia um mapa do céu,
cantávamos enlouquecidos a plenos pulmões, na janela,na porta, no meio da rua
para quem quisesse ouvir
sem se preocupar com a vida,
com a morte, com o tempo,
nada, nem ninguém ousava nos desafiar
ríamos de madrugada,
no focinho dos cães raivosos.
Recordo o medo e o silêncio imposto,
meu pai dizendo:
- filho, não escreve essa hora da noite,
o barulho da máquina, tem sempre alguém escutando. Mas não havia receio,
era sempre verão,
vivíamos em outro país
onde toda a geografia havido ficado louca,
éramos feitos só de poesia
e os que nos vigiavam não entendiam nosso canto
e nos olhavam desconfiados,
quando estenderam sua garras na nossa direção,
não conseguiram nos aprisionar em seu baú de ossos,
não havia armas e nem cadeia para nós,
a poesia era nossa mãe coragem,
ela nos alimentava com seu sangue e com seu suor,
e não tínhamos lágrimas,
pois cada vez que a vida nos batia, querendo nos acordar,
retrucávamos em verso ou prosa
e com um sorriso que todos nós tínhamos.
Hoje, percorrendo este labirinto de cartas, recortes, fotos e nomes esquecidos pelo caminho percebo que ela nunca nos abandonou e continua sendo verão,
toda a vida, a vida toda em nosso coração.

1/22/2007

O imperador de um asilo de loucos e do lugar em que nascem os sonhos

Mário de Andrade errou.
Ao falar sobre a criação de Macunaíma o autor afirmou que não desejava inventar símbolos nem um personagem que representasse todos os brasileiros. No entanto, na medida que dava vida ao herói, (por suas desqualidades) de preguiçoso, mentiroso foi percebendo as inúmeras semelhanças entre ele e os brasileiros ou latino-americanos em geral, que são, segundo ele, povos sem nenhum caráter. Explicando, dizia Mário: “Com a palavra caráter não determino apenas a realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento da língua na História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional.” (1).
Macunaíma é uma obra ímpar na literatura brasileira pela formulação estética e temática. Mas é isso, e acaba aí.
A bobagem que o teórico Mário fez ao analisar seu personagem foi de não separar a ficção da realidade.O ponto de partida para a criação de Macunaíma é a obra do etnógrafo alemão Koch-Krunberg, que recolheu uma série de lendas dos índios taulipangues e arecunás, entre 1911 e 1913.São lendas, parte do arcabouço mítico de nações diferentes, etnias diversas, diferenciadas em usos e costumes.E para que servem os mitos e as lendas? Servem para diversos propósitos em todas as culturas, para apoiar, dar sentido a realidade, divertir,instruir e unificam culturalmente uma nação,grupo ou raça.Os mitos como a língua, fazem parte do processo que distingue a existência de um povo.E Mário pegou um amontoado desses mitos e com indiscutível talento criou, estruturou seu personagem e sua trajetória dentro de um roteiro de ficção.
Certa vez, conversando com Plínio Marcos, perguntei sua opinião sobre a peça Peer Gynt,do norueguês Henrik Ibsen, que estava sendo encenado em São Paulo, na ocasião, com direção de Antunes Filho. Ele me fez uma afirmação que nunca esqueci sobre o personagem:“é o Macunaíma, lá deles”. A proximidade estrutural das criaturas principais das duas obras é evidente.Ibsen também reúne os mitos da Noruega e Peer Gynt realiza seu caminho entre gnomos, elfos e duendes e vários seres fantásticos. Peer Gynt também não possui nenhum caráter, vive diversas aventuras, na Noruega e no exterior, viaja entre os árabes, em determinando ponto da peça é saudado como imperador em um asilo de loucos e, em um outro, um homem estranho quer usar o seu corpo para saber onde nascem os sonhos... No final, já velho, Peer Gynt possui uma filosofia de vida onde sua moralidade ou seu caráter se apóia em seu Eu Gyntiano. Dizer que todos os noruegueses tem a mesma índole de Peer Gynt, é um absurdo.Tanto Macunaíma como Peer Gynt como qualquer pessoa ou personagem sem caráter é amoral e age de acordo com seus interesses e circunstâncias. Peer Gynt é uma obra excepcional. Uma bela obra de ficção, como a de Mário.
O acerto de Plínio Marcos é inegável.
Agora, qual é o valor ou o interesse de se discutir hoje, passado tanto tempo que Macunaíma foi escrita e já consta em nossos livros de história literária como fato consagrado?A razão é a questão do caráter e da índole e a realidade moral de nosso país, cuja análise não perde nunca a atualidade e está sempre em discussão e, é importante que assim seja. É através da correção desses erros que teremos talvez, a noção verdadeira da natureza de nosso etos, no sentido sociológico-antropológico que Mário de Andrade atribuiu ao seu personagem.
E o erro teórico de Mário foi grande.
Não é possível medir o caráter de um povo por suas lendas ou por seus mitos quando os parâmetros são de uma cultura examinando outra com instrumentação antecipadamente elaborada. Não há civilização brasileira, e nem uma consciência tradicional, não existe isso em sociedades em mutação ou mudança.. Uma civilização é um processo terminado, acabado e mesmo nesse termo classificatório é necessário estabelecer parâmetros, a civilização grega se divide em períodos como a civilização egípcia.E não se pode aplicar uma regra comum civilizatória a todos os períodos. A questão da consciência nacional é pior ainda.Se houvesse, por exemplo, uma consciência nacional francesa,ou uma civilização francesa, num país que tem mais mil anos como a França,os excluídos,os sem o primeiro emprego, não estariam ateando fogo no país como fizeram em 2005.Estariam preservado essa civilização francesa e a consciência nacional com todos os seus valores de caráter e moralidade. Besteira.
Enquanto a história da Noruega se perde no tempo, assim como seus mitos, os mesmos mitos que alimentam a obra de Mário também, são particulares e localizados. E de origem e tempo duvidosos.Adequá-las a uma realidade imediata é sempre um risco. Pode-se dizer que pertencem ao povo brasileiro como substrato de sua cultura,mas não formativo de seu caráter.Como exemplo, a lenda do Muiriquitã é da tribo míticas de mulheres do Amazonas(essas também conhecidas entre os mitos gregos), e assim como tantas outras que fazem parte da rapsódia de Mário.
As elites brasileiras e, quando me refiro elites não falo apenas das elites de poder, mas as elites culturais, têm um péssimo hábito, já histórico, de desprezar o povo que deu origem e mantém esse país. O caldo cultural que formava o Brasil na época de Mário era menor, índios, portugueses, negros e o italianos que já haviam enriquecido o país com o seu trabalho. Somaram-se depois, os japoneses, árabes, turcos, coreanos e atualmente são os bolivianos que trabalham como escravos nos porões de São Paulo.O Jeca Tatu, de Lobato, é o retrato de uma realidade agrária num país que só tinha dois produtos, cana de açúcar e café e que dava seus primeiros passos para industrialização, na década de 20 do século XX. Esse personagem de Lobato estava mais próximo do brasileiro pobre do interior do país do que o de Mário.
Quando falam mal do povo brasileiro, esquecem essas elites às lutas pela liberdade e os grandes sacrifícios e o sangue derramado que tem estruturado a nação.Mentirosos, é quase sempre atributo das elites de nossos país, o povo, no máximo, se defende, é reativo.
A generalização é perigosa. A partir da década de 60, com o golpe militar que se perpetuou por quase trinta anos,o país emburreceu mais.A inteligência foi atacada de forma sistemática pelos militares, Groucho Max dizia: “Inteligência militar são termos contraditórios”, universidades, arte,resistência tudo foi sistematicamente combatido em nome de revolução de mentiras e privilégios ainda maiores para a casta e seus apaniguados ligados ao poder. Consagrando a lei de levar vantagem sempre. E o que esses militares fizeram, também foi estimular exponencialmente a miséria, a exclusão social da maioria do povo. No intuito de aumentar a distância entre aqueles que combatiam de qualquer forma o status militar eles criaram a divisa: ame-me ou deixe- o, com o objetivo de confundir a noção de amor e respeito ao país ao respeito e amor a uma ditadura militar.Como se eles fossem a nação, donos da nação e homens do povo, e não um conjunto separado da sociedade, regido por normas próprias e distintas de toda ela.Funcionários públicos privilegiados, como até hoje são, homens que portam armas e que dispõe de privilégios diferenciados da maioria da população.
Nenhum governo é a nação.
Todo o governo é um conjunto de interesses e representa sempre uma parcela, nunca a totalidade de uma nação.
A lei, o direito, a estrutura social nunca está a favor dessa maioria. Foi esse povo, “preguiçoso” que sem ter a quem recorrer migrou do nordeste e continua erguendo com o seu trabalho São Paulo, entre outras cidades do país.É desse mesmo povo que deixou seu sangue nas batalhas que se espalham por nossa história. Nos 500 anos do Brasil, nunca houve um século, em que não houvesse guerras, lutas internas,quase sempre por liberdade. É esse povo que, ainda hoje, carrega pesos enormes nas costas para sustentar sua família e os seus, com honestidade do trabalho duro na chamada economia invisível, e continua sendo atacado pela forças da repressão, que defendem (em seu próprio beneficio) o imposto e os comerciantes legalmente estabelecidos.
E esse povo que continua suportando os erros dos economistas e líderes bem pensantes e bem sentados nos altos cargos da república. É este povo que ainda encontra forças para cantar “sou brasileiro com muito orgulho” nos poucos espaços que possui para manifestar a sua felicidade e alegria em habitar um terra tão diversa e tão bela como essa.E levar essa característica de preguiçosos e mentirosos para América Latina é continuar a cometer o mesmo crime de desrespeito a culturas diversas como que o foi cometido pelos “descobridores /conquistadores” com roubos, e assassinatos culturais, alguns irreparáveis.
Mario de Andrade acertou inúmeras vezes, mas nesse caso ele errou.É pretensão demais de um intelectual, um tanto megalomaníaco, capaz de achar que um personagem seu, seja capaz de representar a essência e a índole de toda uma nação.É preciso respeitar essa terra e suas criaturas, algumas ainda indefesas, cuja espécie e ou etnia existe a bem mais que 500 anos.É preciso dobrar a língua quando falar mal desse país e de seu povo, bem como sua história de sacrifício e coragem.O Brasil sempre foi e continua sendo um país mítico, é preciso, isso sim, manter vivos seus sonhos porque é aqui, com certeza, que os sonhos nasceram.(1) Português:Linguagens –William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães- Ed.Atual

1/02/2007

Jõ Soares e a literatura de banheiro

Jô Soares pergunta:conhece quadrinha de banheiro?Fiquei pasmo com a entrevista realizada por Jô Soares com Affonso Romano Santana no último dia 29-12-2006. A ânsia do apresentador em "alegrar" o público é tanta que ele entre outras besteiras pergunta ao escritor:conhece alguma quadrinha de banheiro? Ora, o sujeito vai lá promover seus livros de poesia, que possui espaço raro de divulgação no país, e pega um apresentador que nem entrevistador é, o sujeito é um blefe metido a engraçado e a escritor que é incapaz de tratar qualquer tema, muito menos literatura, com qualquer traço de seriedade e importância. A formato do talk show que ele faz está esgotado. O programa do David Letterman- de quem ele copiou o formato do programa consegue ser mais engraçado e inteligente além de critico.Coisa que o tal program do Jô já deixou de ser se algum dia já foi.

11/18/2006

De que Barro Somos Feitos ?

O texto a seguir é do irmão de Emanuel Medeiros Vieira, contista premiado, natural de Santa Catarina que hoje reside em Brasília.


“De que barro somos feitos?”
Francisco Xavier Medeiros Vieira


A imagem ainda é nítida, apesar do tempo: Estou sentado sobre uma velha caixa de madeira, cruzando pedaços de barbantes coloridos. Como um rústico artesão, copio e invento modelos de cintas e suspensórios. Fiz várias peças, sempre com muito cuidado. Enquanto durasse o trabalho, mais nada existia no mundo. Cada “obra” concebida era como se fosse uma jóia encontrada, um segredo revelado.

Depois, de porta em porta, ia vender minhas “criações” pela vizinhança. Lembro as cores e os cheiros daqueles dias e lembro os preços do jogo: vinte e cinco cruzeiros. Não seriam réis? E recordo também que no meio desse meu trabalho, um dia, sem aviso, alguém me perguntou: “Tu sabes de que barro somos feitos?”. Eu, que já era crescido, não entendi a pergunta, nem me lembro de quem a fez, mas nunca a esqueci.

Eram bons tempos. Acreditava-se em Papai Noel, no Coelhinho da Páscoa, na Cegonha e no “futuro da Pátria”. Tinha-se muito medo das bruxas, do comunismo e da formiga saúva – que iria destruir o Brasil. Morávamos na rua Blumenau, hoje Victor Konder, num casarão geminado, com porão e sótão cheios de mistério, principalmente quando soprava o vento Sul – que naquela época durava três dias. E se a noite tivesse lua cheia, mortos de medo e de encanto, íamos desvendar seus mistérios, embaixo da Figueira no Jardim Oliveira Belo. E ficávamos assim, olhos arregalados, atentos a cada sombra, sob o balançar das ramagens centenárias e fantasmagóricas.

Época do Marona, bedel da Academia de Comércio, companheiro das batidas de limão do Gato-Preto e dos bares das adjacências, do Curvina, do Manequinha, da Barca Quatro. Época em que A Gazeta, dos irmãos Callado, mal das pernas, inventou a história do MQ, contada em capítulos diários repletos de suspense, nos quais o personagem principal confessava um homicídio praticado, trinta anos atrás, na Agronômica.

José, nosso irmão mais velho, diretor de O Diário da Tarde, para não perder leitores, criou o assustador Capa Preta, “perigoso assaltante”, tornando ainda mais desertas as estreitas ruas da cidade. Os jornaleiros vendiam os exemplares de um e de outro a dois mil réis, quando seu preço era de quarenta centavos. Era também o tempo das paixões políticas.

No pós-guerra, a redemocratização trouxe várias agremiações partidárias – o PTB de Getúlio, o PSD do General Dutra, a UDN do Brigadeiro Eduardo Gomes, esta em oposição ferrenha que, na Ilha, nos agitados comícios, tinha por slogan o “água, leite, luz”, produtos escassos por aqui.

Então, em meio a esse cenário, numa manhã de sábado, Papai chegou da Maternidade Carlos Corrêa e, com ar grave, sentou-se à cabeceira da mesa para o café da manhã e anunciou: - Tive um sonho nesta noite, em que um Anjo me dizia que este é o último filho que Deus nos deu. Era 31 de março de 1945. Emanuel Tadeu desembarcara na Ilha, para alegria da numerosa clã dos Medeiros Vieira, numa casa acolhedora e barulhenta.

Era uma casa, mas parecia um teatro. Ou seria um circo? Tinha “A Volta ao Ninho Antigo” contado pelo José todas as noites, antes que o sono nos alcançasse; tinha também os jornais manuscritos, as declamações, o cinema com lençol estendido, os discursos, os piqueniques. Era uma época em que havia diálogo, em que existia tempo para as coisas essenciais, época sem TV, época literária.

E tinha o Natal, a data mais esperada do ano. E como demorava... Ganhávamos, era regra geral, roupa nova e um tênis branco, de lona, que durava o ano inteiro. Ainda sinto o cheirinho deles. Um tambor, um carrinho, um caminhãozinho, bonecas para as meninas, uma bola, era uma alegria imensa. Todas as noites, depois da festa, por um mês, eu colocava os presentes ganhos junto à cabeceira da cama, para, ao acordar, sentir a sensação daquela noite festiva. Lembro-me, de maneira especial de um bondinho vermelho.

Não esqueço da felicidade de Emanuel quando o presenteei com uma linda bicicleta, com todos os acessórios, comprada a prestações numa loja da Rua Deodoro, cujo proprietário depois passou a vender carros DKW-VEMAG... As férias de verão em Porto Belo, os estudos ao clarear o dia na Chácara, a matéria decorada (Emanuel chegou depois), as viagens de inspeção do Papai, os piqueniques freqüentes. Vivíamos, sem dúvida, uma infância e uma adolescência feliz, apesar do autoritarismo, comum à época, que presidia a educação.

E a base da nossa educação – além, claro, dos valores éticos – foi o amor à cultura. Amor aos livros e às boas histórias. Tínhamos, todos, por esse ambiente em que vivíamos, fome de mundo, que é fome de conhecimento. O espaço mais importante e mágico da casa era a biblioteca. Foi ali que Emanuel cresceu, devorando toda a Coleção Saraiva, que eu assinava e que dei a ele. Lia sem parar, com urgência, como uma necessidade física e espiritual. Leu todos os livros de Emílio Salgari, do Karl May, além dos autores que o iriam marcar para sempre: Machado, Dostoievski, Kafka e Camus.

A paixão pelos livros estimulou ainda mais seu desejo de caminho. E lá foi ele, pelas estradas secundárias, completar os estudos em Porto Alegre. Aficionado pelo cinema e pela literatura, tornou-se contista. Bacharelou-se em Direito, mas nunca advogou. A burocracia, os formalismos, as poses não lhe agradam nunca. Depois, por necessidade, mas não por vocação, tornou-se assessor parlamentar, na Assembléia Legislativa de Santa Catarina e, posteriormente, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas a verdade é que o poder nunca o seduziu. Não é essa a sua estrada porque Emanuel nasceu poeta.

Um poeta no sentido mais bonito do termo. Alguém que se entrega à vida e à literatura de maneira inteira, visceral, verdadeira. Tanto nos contos quanto nas novelas, nos ensaios ou nos poemas, Emanuel vive as palavras de Paul Auster: "um escritor só pode ser bom se tiver a honestidade de ir ao fundo, ao céu, ao inferno, doa a quem doer." Ele foi fundo, vivendo como escreve – numa coerência intransigente. Qualidade, como se sabe, tão rara quanto bela. Seus textos são apaixonados, têm verve, têm dor profunda, têm uma vida imensa que transborda e que faz vento por onde passa. Não há ninguém que fique indiferente aos seus contos e seus poemas. E isso desde o seu primeiro livro, Expiação de Jerusa, de 1972. E foi lá, no comecinho de tudo, que os textos de Emanuel chamaram atenção de um mineiro, também poeta, chamado Carlos Drummond de Andrade. E vieram muitos prêmios e muitos outros admiradores e leitores fiéis.

Emanuel consegue transformar seus demônios e deuses mais profundos em arte. Não fez da literatura, como tantos, um instrumento para destilar mágoas ou rancores. Mas uma arte que transforma e purifica. E acho que foi assim que ele conseguiu manter a ternura invicta, apesar dos pesares. Durante a famigerada ditadura militar, por rejeitar a brutalidade e a censura, pela ousadia de desafiar o silêncio, foi perseguido, preso e torturado. Foi um entre tantos jovens da sua geração a pagar um preço altíssimo pela sua coerência ética e pela sua coragem. Mas sobreviveu e manteve-se de pé, sem abandonar jamais suas crenças num outro mundo mais justo e mais humano. O que não é pouco, a contar tantos “arrependidos” que andam por aí.

Ele carrega o que de melhor nos deu aqueles tumultuados anos 60: utopia, idealismo, poesia. Paixão. Tudo isso permanece e não é apenas matéria de memória. Foi olhando para essa época, a revendo hoje, sem ingenuidade, que ele tirou as histórias de "Os hippies envelhecidos", livro que recebeu o “Prêmio Othon Gama D’Eça - 2002”, concedido pela Academia Catarinense de Letras ao melhor livro do ano. Foi com os olhos e o espírito daquela década que ele escreveu o também premiado No Altiplano: Contemplando o Comandante Ernesto, livro sobre o Che. Há algo que os une profundamente: Tanto Che como Emanuel têm essa estranha “teimosia” de não aceitar a injustiça como fato natural, seja com quem for e aonde for. Emanuel também me lembra um pouco um outro símbolo daqueles anos: o cineasta Glauber Rocha. Como Emanuel, Glauber tinha essa urgência de vida, a consciência da finitude, a sensibilidade, a necessidade de estar sempre em movimento, produzindo, criando. Não é por acaso que sua casa espiritual é a Bahia. Emanuel é feito daquela terra.

É feito do tempo. Do seu tempo. Como escreveu Nelson Hoffmann: “Toda a obra de Emanuel Medeiros Vieira acompanha o tempo, registra as mudanças, testemunha. Não registra como quem faz um inventário, toma nota, aponta. Não. Emanuel faz a leitura do tempo, do tempo em que está inserido. Faz essa leitura, lendo-se a si mesmo. Lendo-se a si mesmo, no que tem de essencial, lê-se como ser humano universal”.

Emanuel cria e vive, como um velho artesão. Sentado em frente a sua velha máquina de escrever (agora, enfim, um computador), concentrado e em silêncio, ele vai tecendo histórias. Conta, encanta e comove porque escreve com os poros, se mostrando com toda a força e fragilidade. Nele, como diria Maiakovski, “a natureza enlouqueceu e ele é todo, todo coração”. É todo humanidade. Num dos seus mais recentes poemas, Adeus Grécia, Emanuel faz a mesma pergunta que ouvi há quase 70 anos: “De que barro somos feitos?”. Com ele, aprendi que somos feitos de compaixão e de memória.










10/31/2006

Três autógrafos em Porto Alegre- na Feira do Livro

Foi um sucesso o lançamento dos livros O Refúgio do Príncipe de Nei Duclós, Para Tarsila de Aline Isaia e o meu Viver a Paixão de Cada Passo, na Feira do Livro de Porto Alegre. O meu livro e da Aline fazem parte da coleção Palavra e Arte da editora Alegoria-www.alegoriaeditora.com.br o do Nei é da editora Cartaz de Santa Catarina.Os livros da coleção Palavra e Arte podem ser encontrados no site da editora ou da Livraria Cultura.

10/14/2006

No próximo dia 20 de outubro,as 19h30min. na Livraria Cultura do Borboun Country, em Porto Alegre será realizada a sessão de autógrafos de meu livro Viver a Paixão de Cada Passo.Na mesma ocasião Aline Isaia deverá autografar também seu livro Para Tarsila.

8/30/2006

Vida Doida- de Adélia Prado

Já pode ser encontrado na Livraria Cultura o livro Vida Doida de Adélia Prado.Um dos seis livros da coleção Palavra e Arte da Editora Alegoria, de Porto Alegre. Fazem parte da Coleção:O Homem e Sua Sombra de Affonso Romano de Sant'Anna,Para Tarsila de Aline Isaia, Frases de Tomé aos Três Anos de Arnaldo Antunes,Estações de Gabriel Chalita e Viver a Paixão de Cada Passo de Marco Celso Huffell Viola.